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Artigo

100 dias de entrega do estado de SP ao setor privado

Publicado: 14 Abril, 2023 - 00h00

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), completou seus primeiros 100 dias à frente do estado de São Paulo, na última segunda-feira (10) e não perdeu tempo: colocou o estado à venda. Nós, trabalhadoras e trabalhadores da saúde, até achávamos que já tínhamos visto de tudo, quando se trata de sucatear o serviço público para tentar “justificar” os interesses dos políticos de privatizar e terceirizar.

Infelizmente, estávamos nos aproximando de momentos ainda mais cruéis. Parafraseando Raul Seixas, na última terça-feira (11), os(as) profissionais que atuam no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) tiveram que ir “embora dá lugar pros outro entrar”, pois o governador “alugou o imóvel” para a Organização Social de Saúde (OSS) Associação Paulista Para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).

Mas não vai parar por aí. Já na primeira reunião com o secretário de Saúde, Eleuses Paiva, no dia 3 de abril, o SindSaúde-SP recebeu a triste notícia que mais três equipamentos serão privatizados. Quando a direção questionou ao secretário quais seriam as unidades ele disse que não sabia informar.

Na rua

No caso do Cratod, são 110 profissionais desalojados. Trabalhadores(as) que desenvolveram expertise no atendimento de pessoas com transtornos por uso de substâncias, como álcool e outras drogas, entre elas, pessoas que vivem em situação de rua na região chamada de “Cracolândia”.

Sem a opção de seguir na unidade, colaborando com o atendimento aos pacientes, nos quais eles já criaram vínculo e conhecem o histórico – fatores fundamentais para a redução de danos e continuidade do tratamento –, os(as) trabalhadores(as) deverão escolher para qual, das poucas unidades estaduais que ainda restam na cidade de São Paulo, irão.

E os(as) trabalhadores(as) das outras três unidades? Poderão ficar? Serão obrigadas a deixarem seus postos também? Para onde irão?

Até parece déjà vu, pois já vimos setores inteiros serem terceirizados, vimos nossos colegas indo embora e nenhum concurso sendo aberto para cobrir a vaga que ficou para trás. Mas não! A terceirização e a privatização da saúde não são novidades.

Foram quase 30 anos de PSDB em São Paulo, os últimos 4, então, sob o comando de nosso pior algoz, até aquele momento: João Doria Jr. – que veio com sede de entrega e de destruição; além disso, Doria foi injusto com quem dedica a vida inteira a cuidar da população.

Nós, trabalhadores do serviço público, lutamos bravamente contra seus ataques. Não foram só as balas de borracha e o gás de efeito moral que nos feriram naquele 3 de março de 2020, foi o descaso, o desrespeito e a retirada de esperança com as dezenas de perdas que teríamos dali em diante, como a extinção da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), reduziu o salário dos trabalhadores com o aumento da alíquota do Iamspe e do desconto previdenciário.

Vieram as eleições. Doria se foi e o que estava ruim, infelizmente, pôde piorar. Tarcísio celebrou seus 100 dias de governo com um pacote de venda do estado. O atual governador autorizou a contratação e a realização de estudos para a venda da Sabesp, para a concessão das linhas 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira, 13-Jade e da futura Linha 14-Ônix, que deve ligar a região do ABC a Guarulhos e ainda está em projeto. Tarcísio anunciou o fim da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos em tom de comemoração.

O governo anterior já havia transferido as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda para a iniciativa privada, que são operadas pela concessionária Via Mobilidade desde 27 de janeiro de 2022, sem contar a Linha 4-Amarela do Metrô, que já “nasceu” privada.

O resultado disso são inúmeros problemas e acidentes, como trem descarrilhado, colisões e até um funcionário da manutenção que morreu eletrocutado. Segundo um levantamento da grande imprensa, foram registradas 157 falhas nas linhas 8 e 9 da CPTM durante o ano de 2022, isso significa que houve uma falha a cada dois dias.

Fim da administração direta?

Com esse movimento, a gente se pergunta: E quando não houver mais para onde ir? Pois ampliação da entrega do estado é uma política que está posta como prioridade de Tarcísio.

É isso que vai acontecer com a Saúde estadual? O serviço público não é brincadeira, lidamos com vidas, seja nos hospitais, centros de reabilitação, transporte público, segurança pública e demais setores. Sabemos das nossas responsabilidades e agimos para o bem-estar da população, não podemos permitir que o estado seja usado para servir aos interesses de políticos e de empresas que enxergam apenas o lucro e não o desenvolvimento social e humanitário.

Temos que unir nossas forças, para reconquistar nossos direitos, garantir novas vitórias, entre elas, lutar pela manutenção, investimento e ampliação do serviço de saúde 100% público.

Direção do SindSaúde-SP