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Artigo

A COR dessa cidade sou eu!

Publicado: 08 Fevereiro, 2024 - 00h00

As festas populares são importantes dispositivos de incidência no trabalho, na renda e na cultura da população brasileira, e ao longo dos anos se tornou o evento mais aguardado da capital baiana, do Estado, do Brasil e porque não falar do exterior?

O Carnaval de Salvador, maior festa de rua do mundo, é um dos eventos mais procurados pelos turistas-foliões que se dividem nos circuitos com trios elétricos, shows e desfiles de blocos carnavalescos, e se somam à alegria contagiante do nosso axé.

Mas onde está a população da grande capital no carnaval?

É preciso falar das desigualdades de oportunidades e condições de trabalho, em que se pese, uma parte significativa da população festiva se encontra nos camarotes e grandes blocos carnavalescos, com seus abadás afortunados, e outra parte se encontre nos demais blocos mais populares e na pipoca que arrasta multidões, temos também, uma parte da população que, embora se veja na avenida, não se encontra em estado de folia.

Celebramos cada chegada e sabemos que nossa riqueza e beleza atravessam as fronteiras do estado e do Brasil através do brilho nos olhos daqueles e daquelas que aqui curtem as festas e extravasam belezas e alegrias.

Mas paralelo a todo esse cenário contagiante, encontramos também parte da classe trabalhadora, em meio aos confetes e às purpurinas, na subalternidade, no subemprego, após encarar por dias as grandes filas para assegurar a carteirinha de ambulante e ter oportunidade para acessar uma renda, vendendo suas bebidas, catando as latinhas ou limpando os camarotes.

O DIEESE nos informa que 84% da população baiana é negra e para esta população, onde 35% se encontra em subemprego, o Carnaval representa uma oportunidade significativa de participação econômica numa diversidade de perspectiva, desde a produção de fantasias e adereços até a prestação de serviços em diversos setores, como: turismo, alimentação e entretenimento.

Nas fábricas de fantasias e adereços, muitos trabalhadores e trabalhadoras negras encontram emprego temporário, contribuindo para a produção em massa dos elementos coloridos e brilhantes que caracterizam as festividades carnavalescas, mas que muito provavelmente não irão usar.

A população negra segue na demanda de construir o carnaval, de fazer a magia acontecer, mas não de usufruir, de curtir a festa em condições de igualdade.

E é nessa árdua caminhada dos trabalhadores e trabalhadoras negras que encontramos a exaustão, a desigualdade e a exclusão, e como bem nos lembra Anzaldua, é para esses espaços, que vemos refletidos os antepassados e que ainda hoje representa a sobrevivência, que precisamos articular políticas contra as diferenças de acesso nos lugares privilegiados da construção social.

Meio às comemorações carnavalescas, nos deparamos com o enorme desafio que enfrentamos cotidianamente: a urgência na elaboração de Politicas publicas que assegurem direitos para a população negra - que representa o maior percentual da Bahia -, e neste cenário a Central Única dos Trabalhadores e das Trabalhadoras ratifica o seu compromisso na cobrança, elaboração e fiscalização de Políticas Públicas de qualificação profissional e inserção do povo preto no mercado de trabalho, nossa luta é por emprego, renda, dignidade e igualdade de oportunidades para todos.