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Artigo

A CUT e o protagonismo em defesa da classe trabalhadora

Publicado: 04 Setembro, 2019 - 00h00 | Última modificação: 04 Setembro, 2019 - 14h28

Em agosto último a Central Única dos Trabalhadores (CUT) comemorou 36 anos da sua fundação. Há uma indiscutível similaridade entre os cenários político e econômico de 1983 e 2019 que impõe organização, mobilização e estratégias de luta contra o desemprego e os ataques aos direitos da classe trabalhadora.

A estratégia capitalista contemporânea se apoia na competição predatória, que atinge níveis ameaçadores de destruição da natureza e onde os arranjos e blocos regionais lutam ferozmente entre si pelos mercados existentes.

O único ponto de consenso é a super exploração da força de trabalho e a precarização da vida, como percebemos nas execuções sumárias em nome do suposto combate à criminalidade e na execução de índios, quilombolas e trabalhadores rurais que lutam pela terra.

Frente a isso resta a mobilização estratégica a ser construída pelo Mundo do Trabalho e para isso precisamos contar com orientações estratégicas precisas vindas de esferas como os partidos de esquerda, os grandes movimentos sociais contra-hegemônicos e os movimentos sindicais dos trabalhadores. É preciso romper as fronteiras estanques entre essas forças para que se articulem como um todo único, sem prejuízo de suas identidades e organicidades próprias.

Uma tática geral para os movimento sindicais deve abraçar um tempo político e sindical que ultrapasse 10, 12 ou 15 anos e que apontem para a solução estrutural dos dramas que afetam a maioria da população.

Uma central como a CUT precisa apontar claramente que não haverá saída para o mundo do trabalho sem a recuperação de um mínimo controle estatal sobre as frentes da economia, sem uma reforma tributária que atinja os lucros financeiros, sem uma reforma fundiária (urbana e rural), sem a valorização do mercado interno e a recuperação da capacidade de consumo da maioria da sociedade.

As classes patronais violaram as regras da democracia que tanto enalteciam e que para o Mundo do Trabalho era limitada. Rasgaram a Constituição, ao determinarem que o Parlamento e o Judiciário legitimassem um golpe “institucional” contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff. Retiraram direitos históricos dos trabalhadores e jogaram nas costas da maioria do povo a responsabilidade por uma crise é do próprio sistema do capital.

Por isso precisamos gestar um CONGRESSO NACIONAL DO MUNDO DO TRABALHO. Caberia a esta instância discutir e deliberar o programa necessário para a garantia da retomada do desenvolvimento da riqueza nacional e de sua distribuição sustentável e orientada.

Teríamos como referências os partidos, forças e movimentos que se organizam sob as bandeiras da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo. Mas existem centenas, talvez milhares, de movimentos locais de resistências diversas que não estão sob os guarda-chuvas destas duas Frentes: surgiram como resposta à burocratização e à institucionalização de muitas lutas; vários deles liderados por ativistas que, inclusive resistem à interação com partidos, movimentos e sindicatos mais tradicionais. Contudo, o esforço deve ser o de trazê-los, com seu forte protagonismo, para o seio da preparação do CONGRESSO NACIONAL DO MUNDO DO TRABALHO.

Precisamos denunciar que o adoecimento do povo não é apenas o resultado de determinadas ações da dupla Temer/Bolsonaro, é também um projeto de poder. Um projeto orientado para o mercado, algo que interessa à indústria da doença. Eis porque o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso abre portas a operadores privados de planos de saúdes, incentiva a indústria farmacêutica e a de equipamentos hospitalares.

A contrarreforma trabalhista de Michel Temer, ao incorporar medidas de enfraquecimento dos sindicatos, seja na desqualificação de sua representação coletiva, seja nos mecanismos de custeio de suas atividades, acelerou um processo que já vinha se desenhando há décadas: a economia capitalista usa os avanços tecnológicos e ganhos de produtividades para precarizar o trabalho, em vez de gerar tempo livre para a fruição da vida.

Indicadores mostram que o capital demanda mais e mais força de trabalho, agora convergindo sua ocupação majoritariamente para o setor de serviços. O que se verifica, de fato, é uma “desterritorialização” da mão de obra, em função de países que apresentam menores exigências em termos direitos trabalhistas e sociais.

Portanto, um sindicato tem que se abrir para categorias diversas, inclusive para a diversidade das categorias de desempregados. Por base territorial. A organização intercategorias tem que se dar no local de moradia: na solidariedade para a sobrevivência imediata; na busca de formas de ocupação, de troca de serviços e realocação no próprio mercado formal.

Esse é o grande desafio da CUT: se reinventar, para reinventar cada sindicato!