A Economia Solidária como alternativa estratégica para a classe trabalhadora
Publicado: 30 Abril, 2024 - 00h00
Estamos vivendo um período de grandes transformações no mundo do trabalho, enfrentando incertezas como raramente vistas desde a Revolução Industrial. Essas mudanças são impulsionadas por um avanço tecnológico sem precedentes, que começou com a Indústria 4.0 e se estende até a “plataformização” das relações de trabalho, um fenômeno também conhecido como "uberização". Nesse processo, tecnologias como automação, inteligência artificial, robótica e internet das coisas continuam a remodelar profundamente as relações de trabalho.
Ao mesmo tempo, observamos um crescimento acentuado da ideologia neoliberal, que enfatiza a produção e uso de tecnologias que excluem muitos, aumenta o individualismo, concentra o capital nas mãos de poucos e, como resultado, aumenta as desigualdades sociais. Essas mudanças no mundo do trabalho têm se mostrado nocivas, especialmente pela crescente informalidade, pela redução dos direitos trabalhistas, e por métodos de gestão que, entre outras perversidades, impõe jornadas exaustivas e os mais diversos tipos de assédio.
Diante disso, surgem questionamentos sobre o papel dos trabalhadores e como eles podem se organizar como classe nesse novo contexto. Perguntas sobre as alternativas disponíveis para enfrentar essas mudanças são cada vez mais urgentes e necessárias.
Frente a esse cenário desafiador, a economia solidária surge como um farol de esperança e utopia. Baseada em cooperação, autogestão e equidade, essa abordagem propõe uma transformação social profunda, redefinindo o trabalho para colocar as pessoas e o meio ambiente antes do lucro desmedido.
O economista e ativista Paul Singer, reconhecido como uma espécie de Paulo Freire da economia solidária, via nessa alternativa uma maneira poderosa de combater a exclusão social e econômica. No Brasil não faltam exemplos de empreendimentos bem-sucedidos no campo e na cidade, desde cooperativas e associações de produtores, até em cadeias produtivas complexas, como a da moda, que incluem vários empreendimentos trabalhando em sinergia, em diferentes etapas do processo produtivo, do norte ao sul do país. Essas experiências deixam claro que é possível criar trabalho digno e justo em diferentes contextos.
Ao criar a Secretaria Nacional de Economia Solidária em seu último congresso, a CUT demonstra mais uma vez estar na vanguarda ao reconhecer que, além de valorizar a sustentabilidade e as relações humanas, a economia solidária fortalece o conceito de uma classe trabalhadora unida e combativa, que oferece uma alternativa real ao modelo neoliberal que desvaloriza trabalhadoras e trabalhadores e agrava as desigualdades.
Também no último congresso foram levantados desafios e prioridades para o movimento sindical, destaco a ressignificação da organização sindical e a representação dos trabalhadores informais, estes dialogam com a Secretaria de Economia Solidária e esperamos contribuir com o debate destes dois importantes desafios.
Portanto, é crucial que as discussões sobre o futuro do mundo do trabalho incluam a economia solidária como uma parte fundamental da solução. Com mais trabalhadores conscientes de seu papel na redefinição das estruturas econômicas, a economia solidária ganha força como um movimento capaz de reimaginar o trabalho como um espaço verdadeiramente empreendedor, capaz de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.