A irresponsabilidade social da Marisa
Publicado: 29 Março, 2010 - 00h00
Explorar mão-de-obrade imigrantes indocumentados, mantê-los em situações análogas à escravidão emprecárias condições de trabalho, em locais insalubres e com jornadas que seestendem por mais de 12 horas. Esta é a irresponsabilidade social de uma dasmaiores redes varejistas do País, a Lojas Marisa.
Mesmo tendoassinado, em 2007, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MinistérioPúblico do Trabalho se comprometendo a tomar providências no sentido de evitar contratoscom oficinas que tenham trabalho precário e ilegal, a empresa incidiu no mesmoerro cometido pelas lojas C&A em 2006 e foi flagrada tal qual suaconcorrente.
ASuperintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE-SP) responsabilizoua Marisa em 43 autos de infração com passivos na ordem de R$ 633,6 mil. Alémdisso, os auditores exigem que a empresa registre os 17 trabalhadoresencontrados na oficina de costura fiscalizada, efetue a rescisão indireta epague os direitos trabalhistas.
Apesar dafiscalização e da constatação por parte da justiça da ligação entre asmalharias clandestinas e a empresa, a Lojas Marisa alega ter investido R$ 30milhões em responsabilidade social nos últimos três anos. Mas para onde foieste dinheiro que ela diz ter investido? Quais projetos ela incentiva que se esquecede fiscalizar sua própria cadeia produtiva e não respeita seus própriostrabalhadores?
Preocupada comos lucros, a Lojas Marisa sabe muito bem o quanto ganha com a exploração damão-de-obra. Uma das blusas flagradas na oficina de costura, por exemplo, tinhaa etiqueta com o valor de R$ 49,99 enquanto os trabalhadores declararam recebercerca de R$ 2 por peça costurada.
Na intricadacadeia de oficinas e atravessadores, os valores se alteram a cada etapa. Aoficina flagrada recebia R$ 4 por cada peça costurada através de outraatravessadora, que recebia R$ 7. Já as fornecedoras recebiam R$ 21.
Ou seja, dovalor final do produto menos de 4% destinavam-se ao trabalhador. Outros 4%ficavam com o dono da oficina, 34% com os intermediários e 58% com a Marisa.
Além de ficarcom a maior parte dos lucros, os preços praticados pela rede varejista sãoinsustentáveis do ponto de vista dos custos de produção e, consequentemente, umfator conveniente para a precariedade negada pela empresa. Um exemplo destesfatos são os salários recebidos pelos imigrantes, que variam entre R$ 202 e R$247 – menos da metade do salário mínimo e menos de um terço do piso dacategoria (R$766).
Não se podenegar que, com o flagrante e com as penalidades determinadas pelo SRTE-SP, ajustiça foi feita, no entanto, a vulnerabilidade de determinados grupos sociaisainda permite que casos como este continuem se repetindo.
Por isso, oengajamento da sociedade se faz imprescindível. Os consumidores precisam seinformar e realmente buscar consumir de empresas socialmente responsáveis nascausas sociais quanto com seus trabalhadores, que são os principaisresponsáveis pelos incríveis lucros da empresa.
Somado a isso,políticas públicas sociais eficazes que evitem o aliciamento de imigrantes esua manutenção em isolamento e em condições ilegais também precisam sercriadas.
Precisamos teruma atuação conjunta para que situações degradantes não se repitam etrabalhadores, imigrantes ou não, possam trabalhar em condições dignas emqualquer lugar do mundo.