MENU

Artigo

A Luta pelo Reconhecimento do Trabalho Invisível que Move o Mundo

Publicado: 29 Outubro, 2024 - 00h00

Quem cuida de quem cuida? Quem está ao lado das mulheres que, diariamente, sustentam o peso invisível de uma tarefa essencial para a vida em sociedade, mas que quase nunca é lembrada? No Dia Internacional dos Cuidados, a CUT reafirma uma verdade que não pode mais ser ignorada: o trabalho de cuidado – cuidar das crianças, dos idosos, das pessoas com deficiência, das tarefas do lar – é a base que sustenta a economia, as famílias e o bem-estar social. E, ainda assim, esse trabalho é amplamente desvalorizado, relegado ao silêncio e ao cansaço das jornadas invisíveis.

Essa questão está intimamente relacionada à divisão sexual do trabalho, uma construção cultural enraizada em uma sociedade patriarcal, que perpetua a ideia de que o cuidado é uma responsabilidade feminina.

No Brasil e em toda a América Latina, as mulheres realizam a maior parte dos cuidados não remunerados e suportam jornadas que, na prática, as afastam de oportunidades de lazer, educação e participação na vida pública. Hoje, a CUT exige não apenas visibilidade, mas justiça para essas trabalhadoras. Não há sociedade justa enquanto o cuidado não for tratado como um direito essencial e reconhecido com a dignidade que ele merece.

O Trabalho de Cuidado e a Economia: Invisível, Mas Essencial

Os dados são claros. Segundo a CEPAL, o trabalho doméstico e de cuidados não remunerado realizado principalmente por mulheres representa entre 16% e 23% do PIB em países como Argentina, Chile e México. No entanto, a divisão desigual desse trabalho, que recai desproporcionalmente sobre as mulheres, impacta profundamente suas vidas e impede que participem de maneira plena na economia formal. Nos setores de cuidado que são remunerados, como saúde e educação, as mulheres ainda recebem 39,2% menos que os homens em funções similares. Esses números destacam, também, como o capitalismo se beneficia e se sustenta pelo trabalho de cuidado não remunerado, que é essencial para o funcionamento da sociedade, mas invisibilizado no sistema econômico.

Esse cenário de desigualdade destaca o quanto as mulheres são afetadas pela ausência de políticas públicas de cuidado e de uma organização social que encare essa questão como um pilar da proteção social. O cuidado não é uma responsabilidade exclusivamente feminina ou familiar: ele deve ser uma política de Estado, uma responsabilidade de todos os setores, e um compromisso real com o bem-estar social.

Para enfrentar essa desigualdade estrutural, é preciso tratar o cuidado como o que ele realmente é: trabalho. A estratégia dos 5R – Reconhecer, Redistribuir, Reduzir, Recompensar e Representar – proposta pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e reforçada pelos movimentos sindicais, é um chamado à ação para garantir condições dignas e sustentáveis para quem realiza o trabalho de cuidado:

Reconhecer o valor social e econômico do cuidado, trazendo visibilidade e valorização a essas atividades fundamentais para o bem-estar das sociedades.

Redistribuir o cuidado entre homens e mulheres, por meio de políticas públicas que promovam a corresponsabilidade e que deixem claro que cuidar é uma tarefa compartilhada, não exclusiva das mulheres.

Reduzir a carga desproporcional de trabalho não remunerado suportada pelas mulheres, oferecendo infraestrutura e serviços públicos que auxiliem as famílias nos cuidados essenciais.

Recompensar os trabalhadores do cuidado com condições de trabalho decentes, salários dignos e proteção social, para que o trabalho seja digno e justo.

Representar a voz dos trabalhadores do cuidado, garantindo seu espaço nos diálogos sociais e seu direito à organização sindical e à negociação coletiva.

Esses princípios são a base de uma economia dos cuidados inclusiva e sustentável, que reconhece e valoriza as trabalhadoras e trabalhadores que sustentam o dia a dia das famílias e das comunidades.

O Papel do Estado e a Luta Sindical pela Justiça nos Cuidados

O direito ao cuidado deve ser uma prioridade nas políticas de proteção social e uma pauta central nas agendas sindicais e feministas. Em 2020, a XV Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe firmou o Compromisso de Buenos Aires, que reconhece o cuidado como um direito universal e fundamental. Esse compromisso traz um caminho claro: superar a divisão sexual do trabalho, garantir que o cuidado seja responsabilidade de toda a sociedade e promover uma organização social do cuidado que seja justa e inclusiva.

A responsabilidade pelo cuidado não pode mais ser delegada apenas às mulheres, e muito menos mantida invisível. O Estado deve adotar políticas públicas que valorizem o cuidado como um serviço essencial, promovendo condições dignas e seguras para quem trabalha nesse setor.

Cada mulher, cada trabalhadora e trabalhador do cuidado, merece respeito, proteção e valorização. É hora de acabar com a invisibilidade e garantir que o cuidado – em todas as suas formas – seja um direito acessível, digno e, sobretudo, compartilhado por todas e todos.