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A Política Externa e as eleições de 2014

Publicado: 23 Setembro, 2014 - 00h00 | Última modificação: 24 Setembro, 2014 - 09h27

As eleições para Presidente do Brasil não afetam apenas os brasileiros. Interessam também à América Latina, ao BRICS, a todo o Sul do mundo e, claro, ao Norte desenvolvido. Após 12 anos de governo Lula/ Dilma e de uma política externa independente dos EUA, o Brasil é hoje um ator global, peça importante no xadrez mundial.

Não apenas aspectos importantes da política interna de nosso país estão em jogo nesta eleições. Embora existam três candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, apenas dois projetos estão em disputa: um,de desenvolvimento soberano, com distribuição de renda e maior justiça social representado por Dilma Rousseff, e o outro, neoliberal, defensor das políticas do livre mercado e submisso aos interesses do grande capital internacional, em especial do capital financeiro, representado por Marina Silva  e Aécio Neves.

 As relações internacionais também são determinantes do modelo de desenvolvimento que queremos: o que vamos priorizar na produção, para quem vamos vender, o que e de quem vamos comprar, ou seja, o que vamos priorizar nas definições estratégicas de nossa política externa.

Os governos Lula e Dilma deram uma importante guinada na condução da política externa. Lula disse não à ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) que era de interesse dos EUA, e que, caso aprovada, teria aprofundado a América Latina na sua histórica posição de periferia subdesenvolvida, mera exportadora de matéria-prima e, o que é pior, devastaria o seu ainda incipiente parque industrial.

Os governos Lula e Dilma optaram por duas definições estratégicas:

A primeira foi fortalecer o MERCOSUL e, a partir dele, desenvolver uma política de integração da América do Sul. Essa estratégia possibilitou a constituição da UNASUL, o que permitiu e permitirá, para além da   ampliação das relações comerciais, uma integração política e social da América Latina, garantido sua soberania e a defesa conjunta de seus interesses e, no futuro,  a livre circulação das pessoas. Também, a partir dessa integração, criou-se a possibilidade de o Brasil ser protagonista nos fóruns internacionais como ONU, OMC, FAO, G20 etc.

A segunda estratégia foi diversificar relações comerciais com países de outras regiões o que garantiu diversificação de mercados e de exportação de vários produtos, fortalecendo nosso setor produtivo e contribuindo para  gerar mais de 20 milhões de empregos.

As relações estabelecidas com China, Índia, Rússia e África do Sul viabilizaram o BRICS, intensificando o intercâmbio desses países, não só comercial, mas também político, o  que culminou na  construção do Banco do BRICS, para financiar projetos de desenvolvimento, e a instituição de um Fundo de Reserva que possibilitará a esses países recorrerem a recursos em caso de emergência sem se submeter à política de arrocho do FMI. Essas orientações de política externa indicam a direção estratégica: construir um mundo multipolar, multilateral e com democratização dos organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU e o Banco Mundial, democratizando as relações.

A eleição de Marina Silva do PSB ou de Aécio Neves do PSDB será um desastre para as conquistas da política externa brasileira, nos últimos 12 anos.

Sobre integração regional: ambos propõem mudanças nas iniciativas de integração e defendem a assinatura de tratados de livre comércio com a Aliança do Pacífico, com os EUA e com a União Européia, independente dos países que compõem o MERCOSUL. Dito às claras: propõem  a desagregação do Mercosul. Propõem a inserção nas  “cadeias globais de produção”, o que significa subordinação às empresas internacionais líderes, com sede nos países do norte e que têm os direitos de propriedade intelectual sobre os processos, os produtos e a tecnologia. Será um ataque brutal à indústria e ao  desenvolvimento tecnológico nacional, afetando especialmente às micro, pequenas e médias empresas.

Ainda sobre acordos de livre comércio:  diferentemente dos  processos de integração perseguidos pelo Brasil, a política dos chamados TLC’s não transfere conhecimento, não gera crescimento, investimento, emprego ou renda, ou seja, não agrega nada. Pior, gera aqui desemprego e aumento da pobreza.

Uma grande ausência das propostas de Marina e Aécio refere-se à África, continente ao qual as gestões Lula e Dilma deram muita importância, seja pelas relações históricas, seja pela importância do desenvolvimento desse continente, historicamente explorado. Marina, por exemplo, apenas diz que, “para manter relações com a África, não é necessário dar as costas aos EUA”, como se Lula e Dilma o tivessem feito! A diferença é que apenas a partir do governo Lula o Brasil, depois de  quinhentos anos,  parou de dar as costas para a África. Aqui cabe uma pergunta: Será que  a afirmação despretensiosa  de Marina não é uma forma de indicar que ela quer trazer de volta a velha política de costas viradas para a África submissa aos EUA? É bom lembrar que um de seus principais gurus declarou-se ser fã  da política externa de George W Bush.

O que a CUT defende é que, diferente do que afirma o programa de governo de Marina Silva, a política externa brasileira nos próximos anos continue sendo de  fortalecimento da soberania nacional, capaz de manter nossas relações  comerciais, de intercâmbio cultural, etc com as potências do norte, mas, priorizando o fortalecimento do BRICS, da UNASUL e do MERCOSUL, pois esses organismos serão fundamentais para a construção do mundo multipolar, multilateral que desejamos. É o que esperam também nossos parceiros, sindicalistas e lideranças de esquerda de todo o mundo, mas principalmente da América Latina e da África.  E essa visão de política externa somente Dilma Rousseff apresenta.