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Artigo

A população negra na pandemia do coronavírus

Publicado: 02 Julho, 2020 - 00h00

A vulnerabilidade da população negra em meio à pandemia da Covid-19 é evidente, na medida em que reconhecemos que ela é a parcela do povo brasileiro que vive nas piores condições sociais. A pesquisa “Desigualdade Social por Cor ou Raça Brasil”, do IBGE, lançado em 2018, constatou que 75% dos mais pobres são de cor preta ou parda.

De acordo com dados de maio, do Ministério da Saúde, teve um aumento na porcentagem de pacientes mortos por Covid-19, “entre os pretos e pardos passou de 32,8% para 54,8% entre 10 de abril e 18 de maio, um período de quatro semanas”, divulgou o Portal G1.

O coronavírus ataca a todos, indistintamente, mas o acesso aos serviços de saúde e habitação digna é um desafio constante para negros e negras do nosso país. Ou seja, a pandemia escancarou as nossas desigualdades sociais e raciais na prevenção da doença. Como cobrar o isolamento social se a luta pela garantia de alimentação, por exemplo, é diária para a população preta?

Embora a pandemia seja recente, a história do preconceito e do racismo é muito antiga. O chamado racismo estrutural diz respeito exatamente às condições históricas que possibilitaram a situação em que a população negra vive hoje. Uma realidade ligada à falta de condições de saneamento, de moradia e trabalho.

Obviamente, toda a sociedade está sendo atingida por essa pandemia. Mas, basta observar que a população negra no mercado de trabalho, se insere em ocupações precárias, com menos estabilidade. E isso, também revela que essa população vive em casas com poucas condições de saneamento, de espaço e com muita gente, elevando o prejuízo à saúde, quando é necessário o distanciamento social ou confinamento, caso uma pessoa adoeça e isso fica extremamente difícil.

Em publicação recente da Folha de São Paulo, com os dados divulgados Pelo IBGE, em maio, no Pnad Covid, que foi criada com objetivo de identificar as consequências da pandemia, tanto no mercado de trabalho e como na saúde dos brasileiros, “a taxa de desemprego de pretos e pardos foi de 12%, contra 9% verificados entre os brancos”. E pontua ainda que “apenas 9% dos pretos e pardos tiveram a oportunidade de trabalhar em home office, enquanto 17,6% dos brasileiros de cor branca puderam aderir a essa iniciativa.”

Um ato tão simples de lavagem de mãos, como forma de prevenção ao vírus do coronavirus, não pode ser feito por uma boa parte das pessoas, que não têm acesso ao saneamento básico, água encanada e estas, são negras. 

De forma sucinta, temos muitos estudos, relatos de que a luta contra a opressão e desigualdade racial continuam. Há dias, o Ministério da Educação, depois da pressão dos movimentos negros, foi derrubada a medida do ex-ministro Weitraub, que acabava com a política de inclusão de cotas na pós-graduação a negros, indígenas e pessoas com deficiência. Isso foi um passo importante no fortalecimento do combate ao racismo existente no país.

Desse modo, não podemos ignorar que o racismo no Brasil é estrutural, onde as piores remunerações são reservadas aos negros, que provocam enormes dificuldades no acesso à direitos básicos de saúde, moradia, educação e à cidadania.

E por todos esses motivos, gestos simbólicos e ações efetivas de denúncias para diminuir os impactos e riscos de infecção e mortes por esse novo coronavírus são fundamentais. E também, a promoção de solidariedade e inclusão a direitos básicos para que produzam politicas públicas com finalidade de diminuir o contágio, a pobreza, a fome nessa crise sanitária da pandemia do Covid-19.