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Artigo

África não pode e não será um campo de testes para nenhuma vacina

Publicado: 07 Abril, 2020 - 00h00 | Última modificação: 07 Abril, 2020 - 15h58

Ao contrário do que dizem, as doenças não são tão democráticas, pois sua incidências pode ser agravada pela renda, pela idade, pelo gênero e pela raça. Diante da pandemia provocada pelo coronavírus a população negra, mais uma vez, é um dos grupos de maior risco, principalmente quando se fala de tratamento ou prevenção.

Esta semana tivemos um exemplo grotesco quando na TV francesa dois médicos/pesquisadores sugeriram a realização de pesquisas para combater a Covid-19 em africanos. Esses comentarios tiveram grande repercussão negativa. Astros africanos de futebol, por exemplo, fizeram críticas severas aos pesquisadores nas redes sociais. Dessas reações nasceu a campanha "Os Africanos não são cobaias".

Nesta segunda-feira (6), o diretor-geral da OMS condenou os "comentários racistas" dos pesquisadores : "Esses tipos de comentários racistas não fazem nada para avançar. Eles vão contra o espírito de solidariedade. A África não pode e não será um campo de testes para nenhuma vacina", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, ex-chefe de diplomacia etíope, durante uma conferência de imprensa virtual, de Genebra. "O legado da mentalidade colonial deve acabar", acrescentou, sem citar os cientistas envolvidos.

O impacto do coronavirus na África foi sentido um pouco mais tarde que em outras regiões e está atribuida a ausência de testes para comprovar o diagnóstico. Entretando no último mês o número de mortes chegou a centenas e os casos a milhares. O país mais atingido é a Africa do Sul, seguido pela Algéria. O presidente da Africa do Sul impôs uma quarentena considerada uma das mais restritivas do mundo, desde o dia 26 de março apenas serviços essenciais estão funcionando e as pessoas só podem sair de casa para buscar atendimento médico, comprar comida ou receber o benefício social dado pelo governo.

Apesar de tudo isso, nada que acontece na África é notícia, nada é alvo de ajuda humanitária real. Quando se referem a Africa é para utilizar a população como cobaias. A pergunta que fica é: Até quando o mundo vai aceitar que o Continente Africano e suas populações sejam desrespeitados dessa forma?

Isso nos traz a uma outra questão interna: Até quando aqui no Brasil a população negra também continuará sendo a mais pobre e menos assistida devido ao racismo institucional que define o ordenamento da nossa sociedade?

Precisamos de ações urgentes não só de nossos governantes, mas de toda a sociedade para acabar com as ações que reproduzem um processo perverso de massacre, execução, genocídio e extermínio da população negra.

Nós da CUT seguiremos lutando para que o racismo seja eliminado de nossa sociedade. Jamais deixaremos de denunciar ou de fazer ações para romper as estruturas do racismo.

Basta de Racismo no trabalho e na vida