Alckmin prioriza violência em detrimento da educação
Publicado: 23 Outubro, 2015 - 00h00 | Última modificação: 23 Outubro, 2015 - 13h36
Um grupo de homens vestidos de preto chamava a atenção na mais recente manifestação que os movimentos sindicais e sociais realizaram em São Paulo, no último dia 3, em defesa da democracia, da Petrobras e contra o ajuste fiscal.
Eram soldados do Comando de Ações Especiais (CAE) da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que acompanhou o ato de perto. O grupo é treinado, vejam só, para fazer o resgate em situações extremas em matas, rios e mares, e para combater o narcotráfico. Como na Avenida Paulista não tem matas, rios nem mares, e como os movimentos não traficam drogas, concluímos que a estranha presença, associada à tradicional fileira de homens da PM, só tem uma explicação: tentativa de intimidar os movimentos de esquerda que lutam por direitos, como mais e melhores escolas e água nas torneiras, em defesa da democracia e por uma segurança pública que proteja os cidadãos e as cidadãs.
A intimidação e a violência da polícia de Alckmin não se restringem aos movimentos organizados de esquerda, atingem com toda a força a periferia, os negros e os mais pobres. A PM ultrapassa frequentemente a tênue linha que divide grupos de policiais e de bandidos, como foi comprovado pela própria Corregedoria da PM durante investigação da trágica e cruel chacina de Osasco, em agosto deste ano. Os investigadores concluíram que 19 pessoas foram assassinadas por policiais militares de Osasco, Barueri e Itapevi, na região metropolitana de São Paulo, em uma série de ataques.
Em espaços como o do Fórum do Funcionalismo do Estado de São Paulo, que reúne sindicatos da CUT, são comuns os relatos de servidores de todas as áreas, em especial da saúde e da educação, sobre esse tratamento diferenciado da PM de Alckmin aos trabalhadores e às trabalhadoras que vão às ruas lutar por direitos. São sempre recebidos com jatos de gás lacrimogênio e spray de pimenta, enquanto a elite branca que vai protestar contra a presidenta Dilma e o PT são recebidos com sorrisos e gentilezas que estimulam até as famosas selfies com os policiais que tomam conta das redes sociais.
Os professores são uma das maiores vítimas da truculência da PM de Alckmin e do descaso do governador com a Educação. Os salários são defasados, as condições de trabalho são precárias. E decisões administrativas – como a chamada "reorganização escolar", são tomadas sem negociações com a comunidade (pais e alunos), com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e demais entidades, além de movimentos sociais –, indicam que o futuro pode ser muito pior.
Como lembra a Apeoesp, a ex-secretária Rose Neubaeur apresentou a mesma proposta em 1995. Não contribuiu em nada para melhorar a Educação no Estado, muito pelo contrário, como mostram os resultados: 20 mil professores foram demitidos, outros docentes ficaram sem aulas em suas escolas. Muita desorganização e transtornos tomaram conta das famílias dos estudantes, que convivem até hoje com inúmeros prejuízos à educação pública estadual.
O chamado choque de gestão tucano continua atacando a rede pública de ensino de São Paulo, com ou sem propostas como essa de "reorganização", eufemismo para evitar o termo correto que é "fechamento de escolas".
Segundo levantamento da Apeoesp, desde o início do ano já foram eliminadas 3.390 salas de aulas no estado. A reorganização das escolas deve afetar cerca de um milhão de estudantes e levar ao fechamento de pelo menos mais 163 unidades. É isso que está levando às ruas de São Paulo alunos, pais e professores preocupados com a qualidade do ensino.
Na próxima quinta-feira (29), às 15h, no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, pais, alunos e professores voltam a protestar contra a reestruturação. Uma assembleia de professores vai discutir estratégias para tentar barrar as mudanças pretendidas pela secretaria estadual da Educação.
Queremos contribuir para que a sociedade se conscientize de que quem investe em boa educação não precisa construir tantos presídios. Isso porque, se as crianças e adolescentes forem bem-educados e qualificados para o mundo do trabalho e para a vida, teremos menos necessidade de gastar para tentar inibir a violência.
É uma política contrária à do governador de São Paulo que, ao invés de investir em educação, abrindo mais salas de aulas, inaugurando novas escolas e valorizando os professores, opta por investir em prisões, na repressão às reivindicações e na PM nas ruas para agredir manifestantes de esquerda. Nos últimos três anos, o governo de São Paulo inaugurou 14 penitenciárias. No site da secretaria da Educação não conseguimos encontrar nenhuma inauguração de escolas.
Este é um cenário que se arrasta nos 20 anos de gestão do PSDB. Na última greve dos professores por melhores condições de trabalho e valorização da categoria, que durou 92 dias, a maior da história da Apeoesp, não houve nenhuma disposição do governador para dialogar, chegar a um acordo de consenso. O estilo autoritário do governador leva a categoria a recorrer à greve, instrumento de luta usado quando não há diálogo, negociação, disposição de resolver um problema como este da Educação – e que afeta toda a população.
Queremos o fim da violência e o fim dessa blindagem a um governo incapaz de dialogar com os servidores, de apresentar propostas viáveis, de pensar nas necessidades reais da população, no futuro dos jovens. Queremos um governo que troque a bala de borracha e o cassetete da PM pela negociação e o diálogo.
A gestão do governo de São Paulo, em especial em relação aos servidores, nos faz lembrar uma frase do saudoso Eduardo Galeano: “No manicômio global, entre um senhor que julga ser Maomé e outro que acredita ser Buffalo Bill, entre o terrorismo dos atentados e o terrorismo da guerra, a violência está nos arruinando”. No nosso "manicômio estadual", a violência também está nos arruinando.