Bolsonaro, o Robin Hood às avessas – Everton Gimenis
Publicado: 27 Março, 2020 - 00h00 | Última modificação: 27 Março, 2020 - 15h17
Imaginem vocês que os bancos, depois de anos e anos tendo lucros astronômicos, na proposta de Bolsonaro, agora poderiam ficar quatro meses sem pagar os trabalhadores e as trabalhadoras bancárias por conta da crise. Ou seja, ao invés deles garantirem a sobrevivência dos bancários, na visão do Bolsonaro, os bancários é que deveriam garantir os lucros do bancos.
Assim também é com os demais trabalhadores que teriam que garantir a sobrevivência das empresas. Bolsonaro só voltou atrás nessa questão e tuitou que iria revogar este item da medida provisória porque a gritaria foi muito grande, e veio de toda a parte. Mas não se iludam, suas ações são todas nesse sentido: tirar do povo para dar aos poderosos.
Para começar, ele quer acabar com a possibilidade dos trabalhadores negociarem com os patrões coletivamente, através do seu sindicato. Imagine o banco negociando diretamente com um trabalhador sozinho. Ou ele aceita ou vai pra rua.
Todas as demais medidas da MP 927 têm como objetivo aliviar o problema das empresas, jogando a crise sobre os ombros dos trabalhadores.
Na contramão das medidas que vêm sendo anunciadas por países como a Alemanha, Inglaterra e Espanha, que visam proteger a classe trabalhadora, onde os governos pagarão até 80% dos salários, Bolsonaro anuncia benefícios tributários e linhas de crédito de 55 bilhões às empresas, tira direitos, desmonta a legislação trabalhista e anuncia que concederá a miséria de R$ 200,00 para os trabalhadores informais.
Bolsonaro vai liberar dez bilhões para os planos de saúde e, ao mesmo tempo, cortou o bolsa família de 158 mil pessoas, a maior parte do nordeste. Corte esse que o STF acabou por suspender.
O que o presidente Bolsonaro pretende com isso? Gerar o caos para justificar um golpe militar em si mesmo?
A situação está ficando cada vez mais dramática. Ao que tudo indica, teremos um número assustador de mortes, pois vale lembrar que nem todas elas estão sendo registradas como causa do Coronavírus. Se o governo continuar tirando do povo para dar aos poderosos, logo a seguir estaremos em um caos social sem precedentes. Pois, em função da quarentena, as pessoas desempregadas, autônomas ou que trabalham na informalidade não poderão fazer sequer biscates.
É claro que não ficarão paradas assistindo as mortes de seus familiares sem acesso ao sistema de saúde, com sua capacidade esgotada, sem poder comprar medicamentos e nem sequer alimentar seus filhos. Estarão dadas as condições para uma enorme onda de saques, assaltos e violência. Afinal, é o que restará para pessoas desesperadas e sem ajuda do poder público em uma hora dessas.
Na noite de terça-feira (24), as coisas pioraram e o temor ficou ainda maior. Durante um pronunciamento transmitido simultaneamente pelo rádio e pela TV, Bolsonaro ultrapassou todos os limites éticos e morais do cargo que ocupa: duvidou das autoridades sanitárias, jogou a culpa da repercussão do Coronavírus na imprensa brasileira e, ainda por cima, atacou o trabalho de diagnóstico, prevenção e tratamento realizado pelos Governadores brasileiros em seus respectivos Estados.
Com um argumento anti-científico e questionando medidas importantes para ‘achatar’ a curva da Pandemia, Bolsonaro afirmou que a crise do COVID-19 não passa de uma “gripezinha” e que não entende nem mesmo o porquê do fechamento das escolas, já que na sua visão o vírus só é perigoso para pessoas na faixa dos 60 anos.
Bolsonaro chegou a convidar as pessoas a voltarem para as ruas na fase mais crítica de proliferação do vírus. Um absurdo atrás do outro! O pronunciamento de um verdadeiro genocida!
Dito isto, quero convidar todas as pessoas sensatas a refletirem comigo. Ninguém conseguirá ser feliz frente a estas condições
Defendo que utilizemos as reservas brasileiras que eram de 38 bilhões quando Lula assumiu e chegaram a 372 bilhões no final do governo Dilma. O governo Bolsonaro já queimou cerca de 45 bilhões. Ainda temos, portanto, mais de 300 bilhões de reserva que devem ser usados para salvar o povo brasileiro, dando pelo menos um salário mínimo para cada um dos de cerca de 100 milhões de pessoas que estarão sem condições de sobrevivência, senão pelo vírus, pela fome.
Sugiro ainda, que cobremos 3% de impostos sobre as grandes fortunas. Isso somaria cerca de 300 bilhões de reais por ano e, certamente, não faria falta para estes milionários que tanto lucram sobre o trabalho suado dos empregados brasileiros. É importante lembrar que a taxação das grandes fortunas não é uma utopia da esquerda brasileira, mas é um tributo previsto na Constituição Federal de 1988. Chega de tirar do povo para dar aos poderosos. Chegou a hora de tirar dos poderosos para dar ao povo. Nem que para isso tenhamos que derrubar Bolsonaro!
Everton Gimenis é vice-presidente da CUT-RS e presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região