Carta do Ocupa CUT à população brasileira
Publicado: 13 Dezembro, 2017 - 00h00
No período de 28 a 30 de novembro de 2017 realizamos ato de comemoração dos 20 anos da política de juventude na CUT. Momento que além de celebrar os avanços da política de juventude na Central, debatemos as perspectivas para o enorme desafio que a conjuntura nos apresenta e também a necessidade de dialogar com jovens que ainda não entraram no mundo do trabalho.
Participaram deste encontro 60 jovens de 22 estados. Além dos dirigentes de sindicatos cutistas contamos com a presença de movimentos populares, como Juventude do PT (Partido dos Trabalhadores), Levante Popular da Juventude, Movimento dos Pequenos Agricultores e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Foram 3 dias de muito debate, reflexões e propostas acerca dos temas abordados, que contou com a contribuição do nosso presidente Vagner Freitas, Jana da AFL-CIO, Genoíno (PT), Fernando Haddad, Rosana Ramos (CUT), Roni Barbosa (CUT),Carla Corrachano (Ação Educativa), Elisa Guaraná (URFJ), Vivian (DIEESE) entre outros e um ato cultural de encerramento com Preta Rara, Slam da Minas de SP, Ana Canas e Haddad.
Aprovamos uma Carta do Ocupa CUT à população, onde nos comprometemos com a luta pela democracia, por trabalho e soberania para juventude trabalhadora e para o povo brasileiro. Segue ela abaixo para conhecimento e ampla divulgação:
CARTA DO OCUPA CUT A POPULAÇÃO BRASILEIRA
A juventude brasileira experimentou, nos últimos 15 anos, diversas conquistas sociais que possibilitaram o sonho, a esperança e o desejo de mais mudança. Somos uma geração de jovens que aprendeu a não baixar a cabeça para as injustiças e a ter orgulho de ser quem é, orgulho de vir de onde veio. Acreditar no potencial transformador da juventude é acreditar na força da classe trabalhadora, da qual somos parte. Defender esta classe é seguir em luta e resistir ao golpe e aos retrocessos.
Durante os governos Lula e Dilma tanto as políticas públicas de combate à pobreza e valorização do salário mínimo, como os programas de acesso ao ensino superior reduziram o trabalho precoce entre os jovens (entre 15 e 17 anos) e ampliaram o acesso à universidade antes restrito à elite no Brasil. Desse modo, uma considerável parcela da juventude brasileira, cujos pais não tiveram acesso ao ensino superior, não precisou abandonar seus estudos para contribuir na renda familiar.
A juventude trabalhadora tem sido protagonista na construção da resistência contra a agenda regressiva imposta pelo governo golpista do Temer, pela qual é atingida diretamente. A Emenda Constitucional nº 95, já aprovada, congela os gastos sociais no país pelos próximos 20 anos. A PEC do Teto de Gastos atinge, além da juventude trabalhadora urbana, a juventude trabalhadora rural quando fecha as escolas rurais e compromete os cursos de licenciatura do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que sofreu corte orçamentário de 70%. As reformas trabalhista e previdenciária implicam na redução de políticas públicas e de direitos e seus efeitos recairão inclusive sobre as gerações futuras.
Além de 30% dos jovens brasileiros estarem desempregados, segundo a OIT, o que significa dobro da média mundial, a juventude precisará entrar no mercado de trabalho mais cedo, trabalhar por mais tempo, em piores condições e sem aposentadoria. Para a juventude trabalhadora rural, isso se agrava, a perspectiva da aposentaria é à beira da morte. A juventude rural quer permanecer no campo com trabalho, geração de renda, educação, cultura e esporte para não ter que abrir mão do seu vínculo familiar e do seu local de origem, essas garantias são retiradas com as reformas, estimulando, assim, o êxodo rural dos jovens.
A revisão da lei de exploração do pré-sal, promove a entrega das nossas riquezas, com o aumento das privatizações, compromete o Fundo Social do Pré-Sal, fonte de recursos que seriam destinados a educação, interrompendo um ciclo virtuoso do investimento na educação e impossibilitando o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE).
Não bastasse tudo isso, o Brasil ocupa o triste posto de líder mundial em número absoluto de homicídios, com cerca de 60 mil ocorrências todo ano. Segundo o mapa da violência de 2016, 70% das vítimas de homicídios por arma de fogo eram de cor preta. De 2003 a 2014, enquanto o número de homicídios por armas de fogo caiu 26,1% entre a população branca, o número de vítimas negras aumentou 46,9%. A principal vítima dessa violência é a juventude negra trabalhadora e moradora da periferia.
A violência também atinge diretamente as mulheres jovens, cujos índices que aumentaram nos últimos anos. Atinge igualmente população jovem LBGT, vítimas diárias no país, apesar dos avanços, no Brasil, nas garantias civis.
A criação da SNJ/CUT foi um passo importantíssimo para organização da juventude trabalhadora e para o fortalecimento do projeto cutista.
Faz-se necessário construir uma nova geração sindical no nosso país, nova não apenas no que diz a respeito a idade mas em sua forma de construir política sindical, com seu potencial criativo para organizar e contribuir para o aprofundamento da democracia, e a superação de práticas que estimulam a burocracia, opressão e corporativismo do sindicalismo contemporâneo, que ainda estão arraigadas na estrutura sindical.
Neste sentido nos comprometemos em garantir:
1. A organização e funcionamento de coletivos de jovens em todos os estados e ramos. A criação dos coletivos requer enraizamento e coletividade das políticas de juventude, além de legitimidade para a direção e para base sindical;
2. Incrementar as formas de comunicação e organização da juventude, utilizando o uso das novas tecnologias da informação (TICs);
3. Incentivar a sindicalização de jovens trabalhadores, organizar cursos de formação político-sindical para juventude, inclusive para intervenção nas negociações coletivas, como maneira de garantir os temas e a presença qualificada da juventude nestes espaços;
4. Lutar contra o golpe, defender a retomada do Estado e com isso políticas promovam uma vida digna a juventude por meio da educação, cultura, esporte, saúde e emprego;
5. Construir cursinhos populares preparatórios para o vestibular vislumbrando a aproximação de setores jovens que ainda não temos contato;
6. Realizar uma audiência pública sobre sucessão rural a fim de debatermos a situação do jovem do campo;
7. Construir uma ação junto a CSA no dia 12 de agosto, dia internacional da juventude;
8. Respeitar a diversidade das juventudes em todas as suas manifestações.
Viva a juventude!
Nenhum direito a menos!