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Artigo

Diário de um crime contra a República

Publicado: 15 Fevereiro, 2021 - 00h00

O ex-comandante do Exército, General Villas Bôas, revelou em seu livro de memórias “General Villas Bôas: Conversa com o Comandante”, um crime contra a República.

Ao General brasileiro deveriam ser oferecidas as palavras de Suetônio, que narra a entrada de César em Roma quando com as suas tropas rompe o Rubicão sendo o primeiro ditador da história romana. Na época, a lei já estabelecia que um general não deveria entrar com as tropas em Roma.

Em suas confissões, agora publicadas em livro, contou o general brasileiro com riquezas de detalhes o episódio em que, em suas redes sociais, ameaçou com a possibilidade de golpe de Estado o Supremo Tribunal Federal às vésperas do julgamento do pedido de liberdade do ex-Presidente Lula.

A conduta perpetrada pelo comandante do Exército brasileiro é extremamente grave. E há um agravante: ele ainda faz menção no livro que não foi uma posição criminosa individual, mas de todo o Estado Maior do Exército.

O militar violou os princípios básicos constitucionais impostos às Forças Armadas, entre eles o respeito à disciplina e à hierarquia. Atentou contra a liberdade de decisão da Suprema Corte Brasileira em redes sociais e nas principais redes de TVs do país.

Este ato criminoso não pode ser perdoado, deve ser objeto de apuração pela Procuradoria Geral da República, pois já é hora de decidirmos em qual regime queremos viver: se é em uma democracia com respeito à Constituição da República ou em republiqueta das bananas tutelados por Forças Armadas que desconhecem o seu papel e seus limites constitucionais.

O Exército brasileiro tem a vocação de se imiscuir em assuntos políticos que competem à sociedade civil debater. A regra básica é: quem tem armas não pode se envolver em política. Desde a Primeira República as Forças Armadas, as mesmas do golpe republicano, tutelam o Estado Brasileiro. A democracia é o regime da submissão às leis, não se pode ter a liberdade de descumprir a Constituição. A sensação de impunidade é tão grande que um ex-comandante do Exército tem a pouca vergonha de declarar em livro o ataque às instituições da República.

O exército que comia caviar com o Imperador deu o golpe republicano, depois deu diversos golpes militares durante a República, com ditaduras sangrentas, sempre ao final se auto-anistiando.

Agora, novamente, feriu de morte a democracia, se envolvendo em assuntos da vida civil, tendo forte influência na eleição do capitão afastado por problemas de indisciplina, ameaçando claramente as intuições para evitar o retorno do PT à presidência, que seria certo com a liberdade de Lula.

Com as revelações do livro se entende perfeitamente os agradecimentos do presidente mais repugnante da história do Brasil ao comandante golpista, dizendo os dois têm segredos que levarão para o túmulo.

O Exército do leite condensado, dos milhões de reais em lombo de bacalhau, das bicicletas de ouro e das cerimônias regadas a whisky 12 anos, tripudia da fome de milhões de brasileiros, logo não está à altura do Brasil e do seu povo.

O nome do livro deste General deveria ser “Diário de um crime contra República Federativa do Brasil”. E a confissão peça de um processo que levasse à condenação os envolvidos no crime contra a democracia.