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Artigo

Diversidade de jornadas de trabalho, a busca para que sejam justas e o papel da CUT nessa caminhada

Publicado: 11 Abril, 2025 - 00h00 | Última modificação: 11 Abril, 2025 - 14h31

Existe uma jornada de trabalho que seria universalmente ideal? O fim da escala 6 X 1 contempla a luta do conjunto das categorias? Qual o papel das centrais sindicais nesse debate, em especial da Central Única dos Trabalhadores (CUT)?

Acredito que nós da CUT e das demais centrais precisamos ter uma palavra de ordem que seja ampla, um grande guarda-chuva num debate fundante da classe trabalhadora, a jornada de trabalho. Como vou desenvolver ao longo do texto, temos uma gama diversa de jornadas de trabalho vigentes em nosso país e precisamos, desde a central, construir uma bandeira de luta que unifique, e abarque essa diversidade - Redução de Jornada de Trabalho Sem Redução de Salário.

Essa é a palavra de ordem que deveríamos levantar no 1º de maio em todo país.

A partir daí, cada categoria vai recheá-la de acordo com sua especificidade. Para sustentar minha argumentação, sigo fazendo um diagnóstico, um mapa com algumas das diferentes realidades de escala de trabalho que existem no Brasil.

Aqui as escalas de trabalho são diversas e variam conforme o setor, as necessidades das empresas e as negociações sindicais. Essas escalas, em sua maioria, visam organizar a jornada de trabalho de forma a maximizar a produção, mas nem sempre consideram as condições de saúde, segurança e bem-estar dos trabalhadores. É aí que entra o papel e a luta dos sindicatos, por melhor qualidade de vida e trabalho decente para a categoria que representa. Quanto mais mobilizada e organizada é a categoria, mais resultados vem conquistando ao longo da história na caminhada da redução de jornada de trabalho, sem redução de salário.

Abaixo, apresento um panorama das escalas mais comuns no país, com ênfase em algumas categorias.

  1. Escala de 8 horas diárias (40 horas semanais) Esta é a escala tradicional, onde o trabalhador cumpre 8 horas por dia, de segunda a sexta-feira, totalizando 40 horas semanais. Ela é adotada pela maioria das categorias, com exceções para algumas funções específicas que já conquistaram jornadas menores.
  2. Escala de revezamento (escala 12x36) Nessa escala, o trabalhador alterna entre períodos de 12 horas de trabalho seguidas de 36 horas de descanso. É comum em áreas como saúde, segurança e setores industriais, onde a operação precisa ser contínua.
  3. Escala de plantão Trabalhadores que atuam em áreas como saúde e segurança frequentemente trabalham com plantões, que podem ser de 12 ou 24 horas. Durante esses plantões, o trabalhador fica disponível para atender emergências ou necessidades de trabalho. Apesar de ser uma escala comum nesses setores, ela pode resultar em grande desgaste físico e psicológico devido à intensidade e imprevisibilidade das demandas.
  4. Escala 6x1 e 5x2

- Escala 6x1: O trabalhador trabalha 6 dias consecutivos, com 1 dia de descanso semanal.

- Escala 5x2: O trabalhador trabalha 5 dias na semana, com 2 dias de descanso.

A escala 6x1 tem sido criticada por muitos, pois apesar de garantir um descanso semanal, ainda assim impõe ao trabalhador uma rotina intensa, com apenas um dia para descanso e recuperação. As categorias que mais sofrem com essa jornada são:

- Comerciários

Funcionários de supermercados, lojas, e restaurantes onde a carga de trabalho é intensa e o tempo de descanso é curto.

- Transporte

Motoristas de ônibus e caminhoneiros enfrentam longas jornadas, muitas vezes com a escala 6x1.

- Atendimento ao público Profissionais de call centers, recepção e telemarketing, que frequentemente têm jornadas desgastantes e pouco tempo livre.

  1. Escala de turno (revezamento de turno)

Em atividades industriais, onde é necessário operar continuamente, os trabalhadores frequentemente têm jornadas em turnos rotativos (manhã, tarde e noite). O revezamento pode ser de 6 horas por turno ou 8 horas, dependendo da convenção coletiva e das necessidades da produção.

  1. Escala de trabalho por jornada parcial

Alguns trabalhadores têm uma carga horária reduzida, abaixo das 44 horas semanais. Isso é comum em algumas profissões, como nas áreas administrativas ou em contratos de trabalho flexíveis.

  1. Escala de 30 horas semanais

Muitas profissões, como as da *saúde, especialmente médicos e enfermeiros, trabalham com jornadas reduzidas, como a *escala de 30 horas semanais. Esse formato busca garantir a qualidade de vida do trabalhador, ao mesmo tempo em que atende à demanda do serviço. O formato de 30 horas semanais vem sendo defendido como uma alternativa mais equilibrada para evitar o esgotamento físico e mental.

Bancários também atuam com a jornada de 30h semanais sendo de 6 horas diárias. Essa jornada é regida pela convenção coletiva da categoria e, no caso de funções de confiança ou gerência, os bancários podem ter jornadas diferenciadas. Essa jornada mais curta é uma das conquistas históricas da classe bancária, mas ainda assim, muitos trabalhadores do setor enfrentam jornadas mais intensas devido a metas e pressões internas.

  1. Escala de trabalho na educação (professores)

A Lei nº 11.738/2008 define que os professores devem ter uma carga horária de 40 horas semanais, sendo que 1/3 dessa carga (cerca de 13 horas e 20 minutos) deve ser dedicada a atividades extraclasse, como preparação de aulas, correção de provas e reuniões pedagógicas. Embora essa carga horária pareça razoável, a realidade é que muitos professores acabam ultrapassando esse limite devido à alta demanda e às condições de trabalho em muitas escolas. Além de na prática o extra-classe ainda demandar luta nas redes públicas para ser respeitado e praticamente não existir no setor privado.

9 . Escala de trabalho embarcado (petroleiros e trabalhadores marítimos)

Trabalhadores que atuam em plataformas de petróleo ou em embarcações, como petroleiros, seguem escalas embarcadas, como a escala 14x14, onde trabalham por 14 dias consecutivos e depois têm 14 dias de folga. Essa jornada tem como objetivo balancear a intensa carga de trabalho com períodos longos de descanso, mas também exige que o trabalhador passe períodos longos longe de casa, o que pode afetar sua saúde mental e qualidade de vida.

  1. Escala de trabalho na metalurgia

Na indústria metalúrgica, as escalas de turno e revezamento são amplamente utilizadas. A escala 6x2 (6 dias de trabalho seguidos de 2 dias de descanso) e a escala 12x36 (12 horas de trabalho seguidas de 36 horas de descanso) são comuns. Essa organização visa manter a produção contínua, mas também coloca os trabalhadores em jornadas extenuantes, o que pode resultar em altos índices de cansaço e estresse.

Na indústria química, que também opera em turnos contínuos, é comum a adoção de escalas *6x2* e *12x36*, com turnos de 8 ou 12 horas. Esse formato de jornada tem como objetivo garantir a continuidade da produção em ambientes de grande demanda. No entanto, trabalhadores da área enfrentam as mesmas dificuldades de fadiga e impactos na saúde, principalmente devido à intensidade das operações e os produtos químicos com os quais lidam.

Diante desse quadro diversas categorias e movimentos têm levantado a bandeira pela *redução da jornada de trabalho sem redução de salário*, uma demanda legítima que visa equilibrar a vida pessoal e profissional dos trabalhadores, além de combater o exaustivo ritmo imposto por algumas jornadas de trabalho. Abaixo, destaco alguns exemplos de lutas e conquistas recentes:

  1. Movimento pela redução de jornada no setor bancário

Os bancários têm uma longa trajetória de lutas para reduzir a jornada de trabalho, e a redução para 30 horas semanais sem redução salarial é uma bandeira histórica da categoria. Nos últimos anos, o movimento sindical tem pressionado os bancos a implementarem a jornada de 30 horas para todos os trabalhadores, pois além de ser uma reivindicação justa, ela também visa melhorar a qualidade de vida dos bancários e aumentar a produtividade do setor. Hoje já avançam para o debate de jornada com 4x3 ou um dia de trabalho remoto.

  1. A luta dos trabalhadores da saúde

Em vários estados, as jornadas de 30 horas semanais estão sendo adotadas como forma de preservar a saúde física e mental dos profissionais da saúde, principalmente médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. A redução da jornada é uma medida fundamental para combater o esgotamento e melhorar a qualidade do atendimento.

  1. Redução da jornada para 36 horas semanais no setor público

Em algumas cidades e estados, como em São Paulo, servidores públicos têm lutado para diminuir a carga horária para 36 horas semanais. Essa redução foi conquistada em algumas áreas do funcionalismo público e tem se expandido para outras categorias, como na área da saúde e educação, com a finalidade de garantir que os trabalhadores possam ter mais tempo para sua vida pessoal e familiar.

  1. Propostas de redução da jornada de trabalho no Congresso Nacional

Atualmente, há propostas em trâmite no Congresso Nacional que visam reduzir a jornada de trabalho semanal para 40 horas, ou até menos, sem a diminuição salarial. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 400/2019, que trata da redução da jornada de trabalho no setor público, é um exemplo de como o debate sobre a jornada de trabalho está se tornando uma pauta relevante em nível federal.

A luta que ganhou as ruas e as redes no último ano e que também está colocada para debate no congresso é o fim da escala 6 X 1 que impacta especialmente o setor de serviços, e não se justifica.

Como vimos, a realidade das jornadas de trabalho no Brasil é extremamente diversificada, e isso reflete diretamente nas condições de vida e saúde dos trabalhadores. O que é claro é que *a redução da jornada de trabalho sem redução de salário* é uma reivindicação legítima de todos, independentemente do setor em que atuam.

Cabe às centrais sindicais, como a CUT, liderar essa bandeira de luta, unificando as categorias em torno de um objetivo comum, mas respeitando as particularidades de cada setor. A jornada de trabalho mais justa é aquela que garante não só a produtividade, mas também a qualidade de vida do trabalhador e da trabalhadora. Com certeza esse debate é importante nas nossas vidas de trabalhadores e portanto é uma luta da CUT.

¹ Professora, psicopedagoga e poetisa, integrante da Executiva Nacional da CUT (dirigente Sinpro-Rio, Sepe e CNTE)

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