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Artigo

Febre amarela: regressão nas condições de saúde

Publicado: 08 Março, 2018 - 00h00

A febre amarela, assim como as outras doenças transmitidas por mosquitos, tem sua história baseada no controle que conseguimos fazer por meio de políticas públicas de Estado. A última ocorrência dessa doença dentro das cidades, antes da catástrofe de agora, é relatada na década de 40.

Em 2014 e 2015 foram registrados os primeiros casos da doença fora da Região amazônica. Em 2017, o Ministério da Saúde divulgou números alarmantes: 545 casos e 164 óbitos no  período de 1º julho de 2017 a 20 de fevereiro de 2018! Número maior de casos do que  somados os dos últimos 20 anos!

Em 2015, o crime da quebra da barragem da mineradora Samarco em Mariana, alterou os ecossistemas ao longo da bacia do Rio Doce em Minas Gerais. Há a teoria da extinção dos  predadores naturais do mosquito que transmite a febre amarela nas matas, gerando a crescente transmissão da doença, o que explica o início da epidemia em 2016 em Minas Gerais.

Cortes na Saúde impendem a prevenção

Combina-se a esse desequilíbrio o aperto das políticas de ajuste fiscais após o golpe, com corte de gastos em políticas de saúde e prevenção, provocando a explosão da doença, em cujo combate o fator primordial é a prevenção.

Em São Paulo, por exemplo, o prefeito João Doria programa fechar 50 Unidades Básicas de Saúde e reduzir o tempo de funcionamento em diversas outras. As últimas duas unidades fechadas são em plena área de risco da expansão da Febre Amarela. São unidades responsáveis tanto pela prevenção quanto pela vacinação! Não surpreende, no auge do desespero, vermos a invasão de uma Unidade na Zona Leste – UBS Jardim Santa Helena- em janeiro desse ano, pois as 300 doses disponíveis no dia não davam conta do contingente que aguardava no portão. Depois disso o prefeito disse para população não mais procurar as UBS e  aguardar em casa as senhas, que chegam muito aquém da necessidade. Como uma cidade como São Paulo, que já em 2017 possuía uma combinação de estar ao lado dos estados em epidemia e com a população sem vacinar não se programou para prevenção?

Com a falta de planejamento faltou vacina no início de 2018. A vacina é produzida pela FioCruz que é alvo de processo escancarado de sucateamento! Nos primeiros dias de 2018 o ministro da Saúde anuncia a implementação do fracionamento de doses para os estados da BA, RJ e SP, tendo como base seu uso na África (Congo), para aumentar o contingente de pessoas vacinadas em um curto prazo de tempo.

Segundo o ministro da Saúde, estão aguardando uma nova fábrica da Libbs farmacêutica, dentro de um acordo com transferência da produção que antes era do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos - Bio- manguinhos, da Fiocruz, utilizando essa epidemia para privatizar a produção federal de vacinas!

A única estratégia para evitar a propagação da doença é a vacinação, pois não há tratamento direcionado, apenas suporte a vida de quem adoece. Com a cobertura vacinal adequada- mais de 80% de pessoas vacinadas- existiria um risco muito menor do surto em curso acontecer!

A realidade é que estamos frente a uma incapacidade de resposta do Estado, cuja tragédia foi anunciada, e é fruto das políticas de privatizações junto a redução dos gastos em políticas públicas e preventiva de saúde, e temos os trabalhadores adoecendo e morrendo dentro dos hospitais!