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Artigo

Novidade no sindicalismo

Publicado: 27 Junho, 2014 - 00h00 | Última modificação: 28 Outubro, 2014 - 16h11

 

A eleição do companheiro João Felício para o cargo de Presidente da Confederação Sindical Internacional - CSI - representa um avanço da atuação da CUT no cenário internacional, que começou há mais de vinte anos.

 

A história demonstrou que estávamos corretos ao tomar a decisão de não estabelecer uma filiação sindical internacional durante a fundação da CUT e nos primeiros anos de funcionamento. Isto nos permitiu acumular experiências e estabelecer relações bilaterais com diferentes centrais de outros países.

 

Nos primeiros cinco anos de existência a CUT desenvolveu uma política internacional, calcada na busca de articulação com o sindicalismo da América Latina, tendo a campanha pelo Não Pagamento da Dívida Externa ao FMI como principal demanda. A CUT foi uma das principais formuladoras do Movimento que teve seu ápice com Conferencia contra a Dívida Externa em Campinas (em 1987). Nessa época era Secretário de Relações Internacionais da CUT o companheiro Jacó Bittar, que foi dirigente dos petroleiros e um dos fundadores da CUT.

 

Em 1988 assumiu a SRI o companheiro Osvaldo Bargas, que foi dirigente dos metalúrgicos do ABC. Tinha início a construção da estrutura da SRI, tendo como eixos centrais: a inserção no movimento internacional (através da filiação a CIOSL); o estabelecimento de relações entre os principais ramos (que se organizavam na CUT) e os Secretariados Profissionais Internacionais (as primeiras confederações a se filiarem internacionalmente foram a dos bancários e a dos metalúrgicos); a consolidação de um amplo programa de cooperação externa, envolvendo áreas como formação, saúde no trabalho, mulheres e relações trabalhistas (foi nesse período que foram criadas as Escolas de Formação do Cajamar, da 7 de outubro, o DESEP e o INST).

 

Foi um período rico em intercâmbios de ideias e experiências e pudemos acumular formulações políticas sobre os temas do trabalho, sistema de relações trabalhistas e novas tecnologias. Mais que isso, pudemos absorver muito do processo de construção do seu modelo de um sindicato democrático e autônomo, fruto das grandes mobilizações do pós guerra.

 

Em 1991, depois de um longo debate, o 4º CONCUT aprovou a filiação a uma central mundial e atribuiu à Plenária Nacional a tarefa de elaborar uma Política de Relações Internacionais e indicar a que central a CUT se filiaria: à CIOSL (Confederação Sindical Internacional de Sindicatos Livres), à CMT (Confederação Mundial de Trabalhadores) ou à FSM (Federação Sindical Mundial)

 

Na 5ª Plenária Nacional da CUT - Julho de 1992 foi aprovada a filiação a CIOSL e à sua representação regional, ORIT (Organização Interamericana de Trabalhadores). Tinha inicio uma nova etapa na política internacional da central.

 

Foram vários fatores que nos levaram à decisão e um dos principais foi internacionalização da economia brasileira (em 1990 Sarney havia iniciado o processo de abertura comercial, que foi alargado por Collor nos dois anos seguintes). Pela mesma razão, as centrais sindicais dos países mais industrializados tinham interesse na filiação da CUT. Aumentava a transnacionalização da economia global e o Brasil se transformava em um polo de maior atração de investimentos.

 

Outro tema importantíssimo foi o papel da CUT na criação da Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul e na decisão das entidades sindicais da região de acompanhar e intervir no processo de negociação do Mercosul. Trabalho que teve prosseguimento nos anos seguintes, onde continuamos desenvolvendo importante papel.

 

Em 1994 o companheiro Kjeld Jakobsen (ex-dirigente dos sindicatos dos eletricitários de Campinas) assumiu a Secretaria de Relações Internacionais e, além de dar continuidade aos programas anteriores e investiu, em uma articulação com as organizações sociais nas Américas, na construção de um vigoroso movimento de luta contra a ALCA. Em 1997 a CUT sediou primeira Cúpula Social das Américas em Belo Horizonte e no ano seguinte foi criada a Aliança Social Continental em um encontro no Chile. Esse processo foi tomando dimensões maiores e foi um dos fatores que pesaram para a derrota da ALCA na Cúpula das Américas, na Argentina em 2005.

 

Além disso, passamos a ter uma participação em vários fóruns internacionais e um maior protagonismo na OIT. Foi nesse período que foram criados o Observatório Social e o Programa Cutmulti, que permitiram que a CUT tivesse uma atividade mais articulada com os grandes sindicatos para combater as praticas anti-sindicais das multinacionais e as violações dos direitos sociais fundamentais (trabalho infantil, trabalho escravo, discriminação etc).

 

Em 2002 o companheiro Jose Olívio Miranda de Oliveira (1947-2008), do Sindicato dos Engenheiros da Bahia, que havia ocupado as Secretarias de Política Sindical e de Organização, foi eleito secretário adjunto da CIOSL (Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres, atual CSI - Confederação Sindical Internacional). Zé Olívio ampliava assim nosso espaço no sindicalismo internacional, base que depois permitiu que em 2007 ele fosse nomeado diretor da ACTRAV/OIT para a América Latina e, sem dúvida, contribuiu para a conquista do quadro atual.

 

Em 2003 a Secretaria de Relações Internacionais passou a ser ocupada pelo companheiro João Vaccari (ex Presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Em linhas gerais a política da CUT se manteve a mesma, mas passamos a atuar mais na CSA (na época ORIT). Em 2004 a ORIT fez seu Congresso em Brasília e aprovou a transferência de sua sede para o Brasil. Nesse Congresso o companheiro Rafael Freire, que integrava a Executiva da CUT, foi eleito Secretario de Política Econômica e Desenvolvimento Sustentável, cargo que ocupa até o momento.

 

Todo esse processo resultou na nossa maior participação na direção e funcionamento da CSA e com maior presença na CSI, levando a eleição de João Felício, ex Presidente da Apeoesp e CUT Nacional e atual Secretario de Relações Internacionais para o cargo de Presidente (no Congresso da CSI em Berlin, na Alemanha, em maio passado).

 

É importante salientar que a candidatura da CUT teve unidade dos Brasileiros (CUT, FS, UGT e CNPL) e o apoio dos países africanos, latinos americanos, alguns asiáticos e os europeus latinos. Isso demonstra que devemos reforçar a atuação Sul x Sul, reforçar a ação contra as políticas anti-sindicais das transnacionais e em favor do multilateralismo.

 

Nós devemos retomar e intensificar a política de articulação no continente latino americano, cobrando a reformulação na política do Mercosul, para aprofundar o processo de integração; devemos discutir uma atuação da CSA e do movimento sindical sul americano na a construção da UNASUL; atuar e acompanhar os debates e acordos do BRICS (articulação Brasil, Índia, África do Sul e China) e do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul); através de nossa participação na CSI e no TUAC ter uma maior intervenção no G 20 e reforçar nossa presença nos fóruns multilaterais internacionais.

 

A livre circulação de bens e capital criou as condições para a formação dos blocos econômicos regionais, mas também da transnacionalização da economia. Esse processo horizontalizou o relacionamento entre as organizações sindicais dos países em desenvolvimento e desenvolvidos, daí a importância dessa eleição na CSI.Como também é muito importante a atuação dos ramos nas Federações Sindicais setoriais. Devemos atuar para que a agenda dessas organizações inclua também as preocupações da classe trabalhadora dos países em desenvolvimento e não seja hegemonizada pelos interesses apenas dos sindicatos dos países mais industrializados.

 

Mas a globalização produziu também uma forte crise no sistema financeiro dos países centrais, atingindo diretamente os Estados Unidos, a União Europeia. O Brasil e outros países da America do Sul, que desde 2003 têm vivido sob governos de corte desenvolvimentista, social e popular, conseguiram atravessar essa situação, mas ressentem-se do quadro atual. Uma das consequências desse processo foi o redirecionamento das correntes migratórios e a transformação do Brasil em um polo de atração de imigrantes – do Haiti, de países africanos como Angola, Moçambique, Nigéria, Senegal, etc. Também da America do Sul – Bolívia, Paraguay e Peru.

 

Esse é um tema novo para o sindicalismo brasileiro e a CUT começa a enfrenta-lo. É preciso ampliar esse debate deve envolver as principais categorias e um amplo processo de negociação com as esferas executivas (federal, estadual e municipal) para que o Brasil tenha uma política de recepção dos migrantes, baseada nos compromissos internacionais que nosso país já assumiu.

 

Entendemos que os novos desafios sindicais não serão superados sem a existência de uma central mundial forte que combine a capacidade de articular o movimento sindical internacional com o poder de coordenar as lutas dos trabalhadores de toda parte do mundo. Também consideramos que o enfrentamento desses novos desafios exige maior articulação do movimento sindical internacional com a sociedade civil e com os novos atores sociais que emergem no cenário mundial.

 

A eleição do companheiro João Felício para presidir a CSI acontece neste cenário de grandes desafios para a organização da classe trabalhadora. A CUT colocará a serviço do fortalecimento do movimento sindical internacional sua capacidade de diálogo com as centrais em todo o mundo e sua experiência na construção de um sindicalismo classista e democrático. João Felício, com sua trajetória política sindical que se confunde com a construção da CUT, com certeza estará à altura deste desafio, representando o Brasil e as entidades que nos apoiaram e defendendo nossas propostas no exercício das suas responsabilidades à frente da presidência da CSI.