O 25 de julho e a política de fome do governo Bolsonaro
Publicado: 25 Julho, 2022 - 00h00
O 25 de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e também celebramos o dia do trabalhador e trabalhadora rural, e mais recentemente o dia internacional da agricultura familiar.
Para nós trabalhadores e trabalhadoras do campo, a data é marcada por mobilizações do movimento sindical, dos movimentos populares na luta por reforma agrária e por uma política agrícola que atenda aos interesses da classe trabalhadora do campo.
Hoje, infelizmente, não temos muito o que comemorar. Embora a produção agrícola brasileira tenha batido recordes, exportando mais de 46 bilhões de reais somente em janeiro de 2022, o Brasil voltou ao mapa da fome, com mais de 33 milhões de brasileiros passando fome e metade da população convive com algum grau de insegurança alimentar.
Essa contradição ocorre porque o agronegócio brasileiro não produz comida para alimentar o povo brasileiro, mas sim commodities para a exportação. É a agricultura familiar a responsável por mais de 70% dos alimentos consumidos no país. Embora represente a grande maioria dos imóveis rurais, a agricultura familiar tem sofrido constantemente com cortes no orçamento de programas que poderiam enfrentar a fome e a insegurança alimentar no Brasil, tal como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
O Plano Safra, apresentado no mês de junho pelo Governo Federal representa um aumento de 36% no orçamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), contudo ele não resolve o problema da falta de investimentos na agricultura familiar, muito menos da fome no Brasil. Isso porque a inflação elevou muito os custos da produção agrícola no país, em especial para a aquisição de insumos e alimentação para os animais, fazendo com que o orçamento no Pronaf não seja suficiente para assegurar a safra de 2022. Além disso, o governo manteve o teto da renda bruta anual (RBA) e os limites de financiamento, que não são corrigidos desde 2017, ocasionando um desenquadramento de milhares de famílias que aumentaram sua renda nos últimos anos, fazendo com o financiamento do PRONAF se torne insuficiente para assegurar a produção dos pequenos agricultores familiares. Para não falar da ausência de financiamento da assistência técnica e extensão rural no Plano Safra.
É por isso, que nós agricultores e agricultoras familiares dizemos que o governo Bolsonaro tem uma política de fome, pois para ele só interessa garantir os lucros do agronegócio, enquanto o povo brasileiro convive com a fome e a pobreza. A agricultura familiar que é quem poderia enfrentar de fato a situação e colocar comida de verdade na mesa do povo brasileiro, tem sofrido com a falta de financiamento e o desprestígio do governo federal.
Violência no Campo e devastação ambiental
Segundos dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no ano de 2021, houve o aumento da violência no campo, com 418 comunidades rurais agredidas e violentadas, com a expulsão de suas terras, destruição das suas casas e o confisco de seus pertences.
De acordo com os dados da ONG Global Forest Watch divulgados no final de abril deste ano o Brasil perdeu cerca de 1,5 milhão de hectares (15.000 km²) das chamadas florestas primárias, aquelas que se encontram em seu estado natural. A maior perda foi região Norte. Com esse desmatamento onde "passou a boiada" o Brasil sozinho foi responsável, em 2021, por 40% do desmatamento em todo o planeta.
Nós agricultores e agricultoras familiares temos repetido incansavelmente que para acabar com a fome no país, é preciso derrotar a política agrária do governo Bolsonaro, e eleger um governo comprometido com o movimento sindical e com os movimentos populares, que defenda um projeto de desenvolvimento sustentável da agricultura familiar, que fortaleça a produção dos pequenos agricultores, com crédito, assistência técnica, com investimentos de verdade.
Para acabar com a fome, a insegurança alimentar, a violência e o desmatamento, precisamos derrotar o projeto de morte de Bolsonaro.