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Artigo

O que Rafael Braga e o depoimento do Lula nos ensinam sobre o racismo institucional?

Publicado: 15 Setembro, 2017 - 00h00

O dia 13 de setembro nos mostrou mais uma vez como o racismo funciona na sociedade brasileira e como ele está arraigado nos discursos e principalmente no sistema judiciário.

O racismo nos foi imposto para organizar a sociedade brasileira e naturalizado inclusive através do vocabulário, costumes e práticas. Nas falas cotidianas ouvimos várias expressões racistas e muitas vezes as pessoas nem se dão conta, tamanha a naturalização do preconceito: “Não sou tuas negas”, “Serviço de Preto”, “Da cor do Pecado”, “Denegrir”.

A palavra “denegrir” é recorrente quando acreditamos que estamos sendo difamados, é uma palavra vista como pejorativa, porém seu real significado é “tornar negro”. O preconceito racial é evidente: se é negro, não é bom.

Durante seu depoimento em Curitiba, Lula chamou a atenção de Sergio Moro por utilizar a expressão denegrir (e pasmem, há quem o tenha transformado em verbo):

— Aliás um conselho: o senhor usa a palavra "denegrir" contra o advogado da Espanha que fez acusações, que o senhor não consultou. Politicamente não é correto falar denegrir porque o movimento negro do País não gosta.

Moro sem prestar atenção, sem reconhecer o enorme prejuízo de suas palavras e sem pedir desculpa aos 52% da população negra brasileira seguiu dizendo que aquilo não fazia parte do processo.

A linguagem modela sentimentos e emoções e por isso é preciso saber e combater o uso de palavras ou expressões que naturalizam a discriminação.

Mas e onde entra Rafael Braga?  Um jovem negro e pobre catador de material reciclável, foi condenado a 11 anos de prisão, por tráfico e associação tráfico, por portar, em um flagrante forjado, 0,6 gramas de Maconha e 9,6 gramas de Cocaína. Várias organizações, incluindo a CUT, começaram uma campanha pela liberdade de Rafael Braga. Ontem ele ganhou o direito a prisão domiciliar para tratar uma tuberculose que ele contraiu na prisão, mas segue respondendo pelo crime. 

A população carcerária do Brasil hoje é composta por mais de 60% de negros, um comandante da polícia militar já afirmou que policiais são treinados a fazer abordagens distintas em áreas nobres e nas periferias, de cada de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil 71 são negras, os jovens negros entre 12 e 29 anos estão mais vulneráveis ao homicídio do que brancos na mesma faixa etária. Todos esses números nos mostram que a naturalização da violência contra negros e negras se dá por processo históricos e econômicos de desigualdade no país.

Com tudo isso voltamos ao tema da importância da nossa luta no combate ao racismo. Ele existe e existe todos os dias, em todos os momentos, em ações e expressões. Quem não entendeu ainda que a luta contra o racismo é também uma luta contra o capitalismo e a opressão de todas as pessoas precisa reavaliar os pontos de vista.

Durante o Congresso Extraordinário e Exclusivo, a CUT relançou a Campanha Basta de Racismo no Trabalho e na Vida, com o objetivo de formar e informar nossas bases e a população sobre como o racismo opera e como ele afeta a toda a população. Fatos como estes nos mostram como é importante seguir em luta contra o racismo e abraçar essa causa.

Liberdade para Rafael Braga!

Basta de Racismo no Trabalho e na Vida!