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Artigo

Se as escolas falassem

Publicado: 23 Outubro, 2020 - 00h00

Gravamos nos recantos da memória os mais belos sentimentos do retorno às aulas. A ânsia para rever os colegas, o encontro com a nova professora, o aroma dos materiais escolares, a expectativa com a troca de turma e o revoar do recreio e a hora da merenda constituem a mais doce aventura das nossas vidas.  

Infelizmente, a volta às aulas despertará outros sentimentos. O distanciamento obrigatório, a proibição de abraços, o reforço de práticas de higiene e a utilização de máscaras farão parte da rotina da comunidade escolar que, além de enfrentar a pandemia no âmbito doméstico, terá que combatê-la nas salas de aula.

A rede pública de educação, castigada por uma sistemática e intencional falta de investimentos, apresentava sinais de falência, antes mesmo do surto da Covid-19. Três anos atrás, dezenas de escolas do RS foram ocupadas por estudantes em protesto pela falta de manutenção, a degradação dos laboratórios, o sucateamento das bibliotecas e a falta de educadores. Os índices de desempenho da educação também atestam a enorme crise do sistema educacional gaúcho.      

Desperdiçamos a oportunidade de alavancar um mutirão de reforma nos prédios para acolher os estudantes no momento oportuno. A pandemia explicitou a enorme desigualdade digital e exige a atualização tecnológica das escolas, disponibilização de equipamentos e concessão de acesso à internet para todos.

É preciso parar de castigar os professores. Os salários já são desestimulantes e, recebê-los parceladamente, é um ultraje. É necessária uma arrojada valorização com capacitação, para que desenvolvam metodologias criativas que utilizem a transmissão de conhecimento em plataformas, ressignificando as escolas como espaços de desenvolvimento do pensamento e das potencialidades das nossas crianças e jovens.

Poderíamos ter criado um ambiente de reabertura triunfal das escolas públicas, com testagem e medidas de prevenção, sinalizando mudanças de rumos na educação do RS. Mas nossos governantes optaram pela incompetência e inércia.