Revista Forma & Conteúdo 20
ESPERANÇAR E OUSAR PARA RECONQUISTAR NOSSOS DIREITOS
Rosane Bertotti e Sueli Veiga
Ao terminar a produção da 20ª F&C que completa 21 anos de publicação contínua e 34 anos de história da nossa Política Nacional de Formação, o Brasil chega ao saldo de mais de 600 mil vidas perdidas para a Covid-19 e dezenove meses após o início da pandemia temos mais de 10% da população brasileira contaminada pela Covid-19.
O governo brasileiro ainda não garantiu a segunda dose da vacina para toda a população. Estudos interdisciplinares da Universidade de São Paulo mostram que esse resultado foi fruto de uma política deliberada de governo para ampliar o contágio da Covid-19. A CUT perdeu valorosas companheiras e companheiros para uma política deliberada do governo Bolsonaro para espalhar o contágio da Covid-19.
Em outubro, já em fase de conclusão dos trabalhos, a CPI da Covid-19 demonstrou um grande esquema de corrupção envolvendo o governo Bolsonaro e os militares que somam mais de 6.500 em cargos comissionados do primeiro, ao terceiro escalão no governo federal. O Brasil assistiu estarrecido como este governo envolveu médicos que falsificaram atestados de óbitos, que fizeram pacientes de cobaias em rede privada de saúde; que, em Manaus, com pacientes morrendo asfixiados sem oxigênio, o Ministério da Saúde estimulou o uso de ivermectina e cloroquina sem qualquer eficácia contra a covid-19 e atuou com morosidade para regular o fornecimento de oxigênio hospitalar.
O Brasil bate recordes de desemprego. O país voltou para o mapa da fome e a insegurança alimentar atinge metade da população brasileira. Em termos comparativos, voltamos ao ano 2000, quando metade da população brasileira se encontrava em situação de indigência. A carestia cresceu e o preço dos alimentos inviabiliza aos mais pobres o consumo de proteínas. O preço do gás de cozinha, da gasolina e diesel explodem e ampliam ainda mais a inflação e a miséria, sem falar dos constantes aumentos abusivos da energia elétrica.
Lula, depois de 580 dias de prisão política, finalmente tem seus direitos políticos restabelecidos: os 19 processos abertos contra ele, para tirá-lo da corrida eleitoral, foram anulados. O principal ator do lawfare contra Lula, o juiz de primeira instância Sérgio Moro, após prender Lula e inviabilizar sua candidatura nas eleições de 2018, tornou-se ministro da Justiça de Bolsonaro. Em 2021, Sérgio Moro foi considerado juiz suspeito pelo Supremo Tribunal eleitoral.
Em plena pandemia, o povo brasileiro voltou às grandes mobilizações de rua para exigir comida no prato, vacina no braço e fora Bolsonaro.
E nossa Rede Nacional de Formação perseverou na luta. Esse número da F&C traz as experiências de formação de nossa rede em tempos de isolamento social.
Nesta F&C destacamos os desafios do uso das tecnologias digitais na Educação Popular e Integral na formação CUTista frente às transformações no mundo do trabalho e a disputa de hegemonia na cibercultura, no contexto da Pandemia do COVID-19.
Ao longo dos artigos relatamos nestes tempos extraordinários como encaramos o desafio de não parar a formação e manter nossa rede em movimento durante o período de isolamento social.
Em nossos relatos, leitores e leitoras poderão avaliar nossa compreensão a partir dos desafios gerais e específicos da intensificação do uso das plataformas digitais em vários espaços da vida social. Como nossa Rede Nacional de Formação experimentou o uso das plataformas digitais atentos e atentas às questões metodológicas da educação popular, buscando sermos coerentes com a concepção de educação almejada na Rede de Formação da CUT.
Elaboramos nosso Plano Nacional de Formação de forma inédita a partir de vários encontros virtuais. Recuperamos e atualizamos o debate sobre a concepção e os princípios da PNF-CUT, destacando as raízes históricas que orientam do ponto de vista metodológico a nossa formação. Trazemos ainda a necessidade de se incluir o debate sobre interseccionalidade na formação sindical.
Celebramos o centenário de Paulo Freire com nossas quartas freireanas, organizadas por cada uma de nossas Escolas Sindicais e pela ETHCI, nos inspirando em suas obras para refletir sobre os desafios no mundo do trabalho e na organização sindical.
Preparamos quase 100 dirigentes para trabalhar em ambiente de aprendizagem virtual no curso da Plataforma Moodle. Refletimos em Grupos de Trabalho sobre educação Popular e novas tecnologias e construímos o mutirão de formação em comunicação para construirmos brigadas digitais e disputar corações e mentes da classe trabalhadora.
Realizamos os seminários da juventude do Projeto CUT-DGB e as oficinas para elaborar os planos de ação envolvendo diversas secretarias que entendem que renovar a CUT é estratégico para a continuidade da luta. Essa mesma Juventude se desafiou a fazer formação para criar seu coletivo nacional de comunicação e disputar as redes, a partir do Curso de Comunicação em redes, realizado em parceria com a Editora Livre Cultura.
Algumas Secretarias Estaduais de Formação se desafiaram a fazer, via plataforma digitais, formação de base como Programas Alicerces e Concepção, Estrutura e Prática Sindical e algumas escolas sindicais desenvolveram o DPPAR, também no formato digital.
Pedro Pontual, que escreveu o artigo “A relação dialética entre a formação e projeto político” na primeira edição de nossa Forma & Conteúdo, em 1990, volta às páginas de nossa revista, desta vez em formato digital, para dialogar sobre os inéditos viáveis.
Nossos parceiros Dieese e Fundação Perseu Abramo fazem um balanço dos ataques aos trabalhadores do golpe de 2016 e do governo Bolsonaro e apontam os inúmeros desafios que a CUT tem na reconstrução do Brasil.
A F&C é um retrato de nossa rede, escrita por muitas mãos, para que ao longo de suas páginas, leitores e leitoras possam conhecer mais os diversos programas de formação sindical que a Política Nacional de Formação possui dentro da estratégia de nossa Central. São programas que foram executados, estão em execução ou que serão executados futuramente tanto na formação de dirigentes como na formação de base.
A primeira experiência do curso de pós-graduação Sindicalismo e Trabalho em parceria com o Dieese, o FDA passou por reformulação e, juntamente com o programa Negociação e Contratação Coletiva e Gestão Sindical, continuam sendo fundamentais para fortalecermos a política de quadros.
Seguindo a organização histórica da formação cutista em Rede, que contribui e fortalece a implementação da Política Nacional de Formação, faremos um grande passeio pelas Regiões organizativas da CUT, trazendo as contribuições das Escolas Sindicais da CUT e da Escola Técnica de Hotelaria, com um debate sobre os Ramos da CUT para refletir sobre essa modalidade de organização na formação sindical, das Secretarias Estaduais de Formação que fazem uma ligação mais próxima com a formação dos sindicatos e também teremos oportunidade de perceber que a formação sindical tem um estreito diálogo com as diversas políticas da CUT com a execução de projetos de formação com as Secretarias da CUT e com diversos temas.
Esta edição de Forma & Conteúdo, como tradicionalmente faz, traz ainda um excelente debate sobre a conjuntura atual. De início a contribuição do Presidente da CUT Sérgio Nobre sobre os 38 anos e os desafios da CUT para o próximo período, sem receio de olhar o passado na perspectiva de alterarmos nosso futuro, com uma crítica ao ajuste neoliberal e a necessidade de fazermos o enfrentamento ao neofacismo e elegermos um trabalhador na disputa de projeto nas eleições de 2022.
Encerrando o debate da conjuntura e os desafios para o movimento sindical, estão as contribuições do companheiro Artur Henrique - ex Presidente da CUT e atual dirigente da Fundação Perseu Abramo - com as provocações sobre a negação ao direito ao trabalho e o papel do movimento sindical, e do companheiro Fausto Augusto Junior e Patrícia Costa, respectivamente Diretor Técnico e Supervisora da Produção Técnica do DIEESE, que expoem de forma lúcida o aumento da desigualdade econômica e social no Brasil.
Enfim, esta edição da F&C nos provoca a refletir sobre a realidade de autoritarismo, a ampliação das desigualdades, os ataques à democracia e aos direitos, a destruição ambiental, cuja pandemia é consequência e não causa. Ao mesmo tempo, nessa conjuntura de grandes transformações, somos convidados a refletir sobre qual mundo queremos criar no pós-pandemia.
Como nos ensina Paulo Freire sobre a utopia como síntese entre a denúncia e anúncio, os inéditos viáveis: “Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente tornando-se cada vez mais intolerável e o anúncio de um futuro a ser criado, construído, política, estética e eticamente, por nós, mulheres e homens. A utopia implica essa denúncia e esse anúncio, mas não deixa esgotar-se a tensão entre ambos quando da produção do futuro antes anunciado e agora um novo presente. A nova experiência de sonho se instaura, na medida mesma em que a história não se imobiliza, não morre. Pelo contrário, continua.”
Que construamos nosso futuro de igualdade, valorização do trabalho e da classe trabalhadora plena de direitos.
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