Escrito por: Luiz Carvalho
Presidente nacional da CUT, Vagner Freitas aponta que data será primeiro passo para construir bloco de esquerda
A celebração deste 1º de Maio acontece em uma conjuntura bem diferente dos últimos anos, desta vez, com a classe trabalhadora sob ataques sem precedentes aos direitos trabalhistas.
No Legislativo, a recente aprovação do Projeto de Lei 4330 pela Câmara dos Deputados, amplia a terceirização para todos os setores da empresa e rebaixa salários, direitos e conquistas.
No Executivo, as Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665, que dificultam o acesso a abono salarial, seguro desemprego e auxílio doença.
Presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, ressalta que a resposta a qualquer tentativa de retrocesso será a formação de um grande bloco de esquerda encabeçado pelo movimento sindical e que terá também os movimentos sociais e partidos que comunguem com a defesa da democracia, da Petrobrás e não aceitem o financiamento empresarial de campanha.
Em entrevista, o dirigente ressalta ainda que o Dia do Trabalhador é mais uma página em uma agenda de lutas nacionais como as que ocorrem em 13 de março e 15 de abril e que não têm hora para acabar. “A direita conservadora tentará trazer o retrocesso ao país e conseguirá, se não fizermos enfrentamento”, alerta.
Qual a diferença deste 1º de Maio para os de anos anteriores?
Vagner Freitas – Esse 1º de Maio acontece num contexto histórico em que a direita procura avançar numa visão conservadora de sociedade, preconceituosa, machista e que não leva em conta o direito das minorias e dos direitos trabalhistas. Nesse sentido, vemos o PL 4330, que significa rasgar a CLT, acabar com as férias, com a carteira de trabalho e transformar o trabalhador em alguém precarizado, que ganha menos e trabalhando mais. Por isso, o 1º de Maio será um marco da luta e da resistência dos trabalhadores para fazer o enfrentamento nas ruas contra esse projeto que unifica toda a esquerda e o movimento sindical numa batalha para não acabar com carteira assinada. No mesmo sentido, de resistência à retirada de direitos, também nos colocamos contra as MPs 664 e 665, porque retiram direitos de pensionistas, de companheiros que trabalharam e precisam do seguro-desemprego. Uma medida inoportuna, atabalhoada e que deveria ser discutida antes em um Fórum Nacional da Previdência Social.
O Congresso, que aprovou o PL 4330, também será lembrado nas manifestações desta sexta?
Vagner – Certamente. Será uma oportunidade para conversar com mais pessoas sobre o papel que assume esse Congresso conservador, financiado pelos empresários e que além de retirar os direitos trabalhistas, quer emperrar o processo de construção de uma sociedade plural que estamos construindo. Não só em relação aos direitos trabalhistas, mas também contra conquistas como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com a redução da maioridade penal, com ataques a medidas contra a homofobia. Este 1º de Maio será um grito pela liberdade, pela democracia e pela construção de uma sociedade menos desigual. Para isso precisamos de uma reforma política com o fim do financiamento empresarial de campanha, precisamos da regulação dos meios de comunicação para que tenhamos democracia e pluralidade, para que avancem pautas trabalhistas como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, a regulamentação do direito de greve e negociação no serviço público, a reforma agrária. Tudo isso depende do Congresso.
Especialmente em São Paulo, o Dia do Trabalhador terá um caráter mais popular, com artistas mais engajados e uma marcha que antecederá o ato político. Por que mudou o formato?
Vagner – O 1º de Maio deste ano é parte de uma agenda de mobilizações e têm como objetivo sair pelo Brasil cantando nossas palavras de ordem e chamando à batalha os trabalhadores que não tem outra saída a não ser defender de maneira unificada seus direitos. Fundamentalmente é uma demonstração de luta e de organização com reivindicações claras, de maneira forte, clara, porque o momento é de luta. A CUT nunca perdeu suas origens, mas esse Dia do Trabalhador é diferente porque está numa conjuntura pior do que nos últimos anos. Temos o avanço de uma política conservadora que tenta consolidar a agenda negativa mesmo após elegermos uma presidenta com o compromisso social e popular. O 1º de Maio dialoga com a conjuntura que vivemos e tem a cara da CUT, que luta e adapta essa luta aos desafios que a conjuntura apresenta.
A edição deste Dia do Trabalhador também terá mais entidades ao lado da Central. A conjuntura abre possibilidades da formação de um amplo bloco de esquerda?
Vagner – O 1º de Maio será um marco inicial para unificação da esquerda brasileira, da construção de um bloco da esquerda que leve em conta sindicatos, movimentos sociais e até partidos políticos que tenham em comum o interesse da defesa da classe trabalhadora, da liberdade e da democracia. A direita conservadora tentará trazer o retrocesso ao país e conseguirá, se não fizermos enfrentamento. Esse bloco dará a condição para fazermos o combate e impedir ataques aos nossos direitos.