Escrito por: Rosely Rocha
Copom, órgão ligado ao Banco Central, define nesta quarta-feira (22), o índice da taxa básica de juros (Selic) do país, que hoje está em 13,75%, a mais alta do mundo. Veja 10 motivos para o BC baixar a taxa
O Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC), decide nesta quarta-feira (22) se mantém, reduz ou aumenta a taxa básica de juros (Selic) do Brasil, atualmente em 13,75% ao ano, a maior do mundo. Descontada a inflação anual, os juros reais chegam a 8%.
A decisão é importante para o país e para toda a sociedade uma vez que impacta a situação financeira de todos. Seja o governo ou empresários que precisam de financiamento para fazer investimentos em infraestrutura e aumento de produção, aquecendo a economia e gerando emprego e renda. Seja o trabalhador que precisa de acesso a um financiamento mais barato até para comprar uma geladeira.
Normalmente as taxas de juros definidas pelos bancos centrais em todo o mundo são utilizadas para conter a inflação quando a demanda de consumo está alta, provocando o aumento generalizado de preços e uma procura maior por crédito. Mas isto não vem ocorrendo no Brasil, a inflação está dentro de parâmetros aceitáveis.
O próprio Banco Central, na última segunda-feira (20), definiu o centro da meta da inflação para 2023 em 3,25%, com intervalo de tolerância entre 1,75% e 4,75%. Já o governo federal prevê para este ano uma inflação de 5,31%. Mesmo que o índice maior do governo seja o alcançado, ainda assim, os juros reais do BC estariam 8,44% acima.
Em muitos países, pobres e ricos, os juros praticados pelos bancos centrais locais são menores do que a inflação registrada, o que demonstra que a direção do BC está indo na contramão do mundo.
Tanto que o prêmio Nobel de Economia de 2011, Joseph Stiglitz, disse esta semana, num seminário do BNDES, que a taxa de juros no Brasil é "chocante" e a equivale a uma "pena de morte". A crítica também foi feita pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, que classificou a taxa Selic como “pornográfica”.
Como desde fevereiro de 2021 o Banco Central se tornou independente, com uma lei aprovada no Congresso Nacional, a partir de um projeto do governo de Jair Bolsonaro (PL), que tinha uma linha neoliberal econômica que privilegiava os ricos em detrimento dos pobres, o governo Lula (PT) não tem como destituir a atual direção do BC, hoje comandada por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente. A atual direção do banco tem mandato até 2024.
As reuniões do Copom que definem a taxa de juros são a cada 45 dias e, se for mantida a Selic, uma nova definição de índice ficará para os dias 2 e 3 de maio.
1 - Aumenta o endividamento das famílias
As famílias brasileiras estão cada vez mais endividadas. Pelo quarto ano consecutivo houve um aumento. Em 2022, o endividamento bateu outro recorde e atingiu 77,9% das famílias brasileiras de todas as faixas de renda. O percentual é sete pontos maior do que o registrado em 2021 (70,9%).
Os juros altos aumentam o valor das dívidas deixando as famílias cada vez mais afundadas numa crise financeira sem fim.
2 - Crédito mais caro
Contrair um empréstimo financeiro seja para quitar dívidas ou investir num negócio fica muito caro. A Selic determina a taxa de juros cobrada nas operações de empréstimos. Porém, em vez de as instituições financeiras se basearem na taxa Selic para a cobrança de juros, elas cobram além dela. Assim quanto maior a Selic, maior serão os juros cobrados.
Levantamento do Procon-SP revela que neste mês de março, a taxa média do empréstimo pessoal foi de 7,63% ao mês. Já no cheque especial, desde fevereiro de 2021, a taxa média permanece em 7,96%.
Utilizar o rotativo do cartão de crédito também não é uma boa opção. Os juros do rotativo chegaram a 411,5% ao ano em janeiro de 2023, segundo o BC.
3 - Juros altos favorece 1% mais ricos do país
A Selic ficar neste patamar só interessa a 1% da elite econômica do país que compra títulos do governo para investimentos (a arrecadação dos governos depende de impostos recolhidos e parte de títulos vendidos no mercado), e a cerca de 10% da classe média que têm aplicações financeiras, pois com a alta dos juros vale mais a pena deixar o dinheiro aplicado em algum título do governo do que abrir uma empresa e gerar empregos, explicou ao PortalCUT o economista e professor da PUC-SP, Ladislau Dowbor. São os chamados rentistas que vivem dos juros de suas aplicações.
4 - Aumento da dívida pública
A cada aumento de 1% na taxa de juros, a dívida líquida do setor público cresce R$ 38 bilhões, segundo o economista da Unicamp, Marcio Pochmann. “Como a Selic aumentou 11,75 pontos percentuais entre agosto de 2020 (2%) e dezembro de 2022 (13,75%), o impacto foi de R$ 446,5 bilhões”.
É dinheiro pago por todos os contribuintes para os mais ricos que podem comprar títulos do tesouro nacional, já que têm garantia de pagamento pelo governo federal, a partir da arrecadação de tributos e impostos pagos por todos nós.
5 - Impedem investimentos sociais
Como o governo tem de remunerar os compradores de títulos públicos de acordo com a Selic, a União fica cada vez mais endividada, não sobrando dinheiro para investir em benefícios sociais como o Bolsa Família e o Farmácia Popular, entre outros.
6 – Paralisa obras essenciais
Os bilhões pagos pelo governo federal com a dívida pública impedem também a construção e reparos em estradas, a construção de moradia popular, a construção de açudes, escolas, creches e outros próprios públicos. Há no país 14 mil obras paradas, que podem gerar emprego e renda para os trabalhadores e melhorar o caixa das empresas.
7 - Dificulta a compra de bens materiais
A alta de juros também é sentida no crédito imobiliário para a compra da casa própria e nos bens de consumo como geladeiras, fogões, carros, celulares, entre outros. Com as empresas tendo de pagar juros maiores a tendência é transferir para o consumidor essa conta.
8 – Impede a geração de empregos
Sem dinheiro de capital de giro para investimento, tanto grandes como pequenas empresas diminuem as contratações com receio de não conseguir pagar as dívidas, até mesmo por falta de compradores para os seus produtos, já que o endividamento das famílias impede que elas consumam. É um círculo vicioso. Um exemplo é a fábrica da Mercedes no Brasil e outras montadoras que deram férias coletivas a seus trabalhadores. Com os juros altos, sobram veículos nos pátios.
9 – Impede a distribuição de renda
Sem geração de empregos não há renda, sem renda não há consumo, sem consumo as empresas não investem, sem investimento não há empregos... É um círculo sem fim.
10 – Trava a economia
Sem a roda da economia girando o governo não arrecada, sem arrecadação a economia trava e os mais pobres passam fome e a classe média empobrece.
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