Escrito por: Erica Aragão e Luciana Waclawovsky

Rurais definirão ações para enfrentar retrocessos no campo

O 12 º Congresso da Contag acontece num momento de retirada de direitos. As trabalhadoras e os trabalhadores do campo, das águas e das florestas terão muitos desafios para o próximo período

Leonardo Prado

Começou nesta segunda (13) o 12º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CNTTR) da CONTAG em Brasília com mais de 2.500 delegados e delegadas representando todos os estados da Federação e com a participação especial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura das atividades.

Nos 53 anos de história e lutas da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras da Agricultura Familiar (CONTAG), o 12º CNTTR acontece em um momento desafiador para a classe trabalhadora em geral, em especial para os trabalhadores e as trabalhadoras rurais, com um cenário de retrocessos nas políticas sociais e de retirada de direitos.

Aos gritos de “Fora Temer”, o presidente da CONTAG, Alberto Ercílio Broch abriu o Congresso afirmando que o fortalecimento da entidade será fundamental para enfrentar essa onda neoliberal. A venda das terras brasileiras para estrangeiros, a proposta de reformas da previdência e trabalhista, o fim de política públicas específicas para agricultura familiar, o fim do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério da Previdência Social, entre outras propostas do governo ilegítimo de Michel Temer impactarão profundamente os povos do campo, das águas e das florestas.

Alberto destacou a importância de lutar contra o modelo de desenvolvimento patronal imposto por este governo ilegítimo e lembra que o Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS) da CONTAG que questiona o modelo hegemônico de desenvolvimento neoliberal imposto pelo governo sem voto de Michel Temer.

O PADRSS é uma referência política para o Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR), uma  alternativa de desenvolvimento para o Brasil que visa reforma agrária ampla, soberania e segurança alimentar, soberania territorial, fortalecimento da democracia participativa entre outros temas que fortalecem a luta e garante vida e moradia dignas para os os povos do campo, das águas e das florestas de todo o país.

As agricultoras e os agricultores familiares, responsáveis por 70% de alimentos que chegam nas nossas mesas e os principais responsáveis pela geração de emprego, definirão até a próxima sexta (17) o plano de luta para os próximos 4 anos baseados no atual momento político.

Para o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, a classe trabalhadora não pode permitir que esse governo que tomou o poder de uma presidenta eleita destrua todas as conquistas do povo brasileiro para defender a elite deste país. “Nós precisamos derrotar a reforma da previdência, porque nós vamos discutir um modelo público. Não tem como remendar este projeto, temos que ir pra rua e denunciar todos e todas parlamentares que votarem a favor deste desmonte. Eles serão denunciados na internet e nas ruas deste país como traidores da classe trabalhadora”.

A proposta de Reforma da Previdência quer igualar a idade mínima entre homens e mulheres de 65 com 25 anos de contribuição, acabar com a vinculação do salário mínimo do benefício da previdência, colocar fim no acúmulo da aposentadoria e a pensão morte e para ter a aposentadoria integral precisará trabalhar por 49 anos.

“Não é uma reforma da aposentadoria é o fim do direito de envelhecer com dignidade. Ou a gente reage agora ou a gente vai morrer trabalhando”, afirma Vagner.

O presidente da CUT fez um chamado especial para os delegados e delegadas do Congresso para estar nas ruas na próxima quarta-feira (15), no dia Nacional de Paralisação Nacional de luta contra a reforma da previdência, para derrotar a proposta de desmonte da aposentadoria deste governo ilegítimo de Michel Temer.

Para a secretária de Mulheres da CONTAG, Alessandra Lunas, agora é o momento do povo ir à rua. "Em tempo de desafio nesse país não há como fazer calar as trabalhadoras e os trabalhadores. Nosso lugar de reivindicar é nas ruas deste país". Lunas também citou a implementação da paridade nesse congresso e criticou o pronunciamento oficiall de Temer no dia 8 de março, dia internacional das mulheres. "Foi vergonhoso ver o presidente dizer que o lugar das mulheres é na cozinha. Dói também ver a Constituição Cidadã sendo rasgada com as reformas que só pensa no capital estrangeiro e sequer estão preocupados com a classe trabalhadora. Não desistiremos, ousaremos e estaremos sempre nas ruas dando o recado", concluiu.  

A dirigente lembrou emocionada da esposa de Lula, Marisa Letícia, e deixou um recado para os delegados e delegadas: "muitos desafios postos para o 12º congresso e a cada debate feito em nosso documento base serão fundamentais para definirmos como ir em frente diante desse golpe", finalizou.

 

Desmonte da Constituição Cidadã

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou a conquista da Constituição Federal de 1988. "Depois de 29 anos de sua aprovação os que ocuparam o governo sem serem eleitos querem destruir os direitos do povo brasileiro garantidos na Carta Magna, como saúde, educação e aposentadoria", alertou.

Lula criticou Michel Temer e seus aliados sobre a falta de conhecimento da realidade do país e do povo brasileiro.

“Querem resolver o problema da previdência? Gerem trabalho, aumentem a renda e o salário mínimo! Por que cobrar do pequeno produtor que não pode pagar impostos ao invés de cobrar das grandes empresas sonegadoras?”

Lula se refere aos calotes na previdência das empresas que somam mais de R$ 400 bilhões de reais.

Ele avisou que é preciso preparar o povo para lutar e convocou delegados e delegadas a ir às ruas em Brasília na próxima quarta-feira (15) para mostrar ao Congresso Nacional que eles não podem brincar com os direitos garantidos com muita luta pela classe trabalhadora.