13% da população adulta de Porto Alegre já sofreu assédio
Pesquisa estima ainda que 44 mil pessoas tenham sofrido estupro, em algum momento da vida
Publicado: 02 Fevereiro, 2018 - 12h34 | Última modificação: 27 Fevereiro, 2018 - 10h30
Escrito por: Fernanda Canofre, do Sul21
A eletricitária Suelen Fernandes, 31, saiu cedo de casa para ir de bicicleta ao trabalho, na terça-feira (31). Perto das 7h30, quando já estava próxima da Av. Ipiranga, onde fica a sede da CEEE, ouviu uma moto se aproximando e reduzindo a velocidade, atrás dela. O primeiro instinto foi pensar que era um assalto. Suelen andou por mais duas quadras planejando como escapar.
“Quando eu estava chegando na Perimetral, perto da Amrigs (Associação dos Médicos do Rio Grande do Sul), olhei para a esquerda e fiz sinal para ver se algum carro iria entrar. O motoqueiro chegou e botou a mão embaixo da minha bunda, me ergueu do banco, me segurou e me carregou. Foi horrível, foi nojento. Eu tentei gritar e, ao mesmo tempo, me equilibrar. Não tinha ninguém, nem EPTC, nem Brigada Militar. Parece que ninguém viu. Eu saí chorando”, conta.
A forma que encontrou de extravasar foi gravando um vídeo de desabafo [acima]. O depoimento de 12 segundos, postado no Facebook, tem mais de 17 mil visualizações e 180 compartilhamentos. Graças a ele, outra mulher entrou em contato com Suelen contando que passou pela mesma situação, na mesma região, também com um motoqueiro.
Essa não foi a primeira experiência de assédio sexual sofrida por ela. Com 17 anos, Suelen estava caminhando na rua, quando um ciclista se aproximou e deu um tapa na bunda dela. Pouco tempo depois, dentro de um ônibus, um homem, que estava em pé, esfregou sua genitália nela, que estava sentada. Ela pediu licença e fez de conta que ia descer do ônibus para escapar da situação. O episódio de terça, porém, foi o pior, segundo ela. Ela ficou com medo de sair de bicicleta, mas decidiu registrar ocorrência e pedir imagens à EPTC.
Ela não é caso isolado. Segundo a “1ª Pesquisa de Vitimização de Porto Alegre”, 13% dos habitantes da Capital, maiores de 16 anos, dizem já ter sido assediados sexualmente. Enquanto 38,5% dos entrevistados sofreu esse tipo de violência uma vez, 26,2% tiveram dois episódios e 11,5% – assim como Suelen – três vezes.
A pesquisa do Instituto Cidade Segura foi divulgada nesta quinta-feira (1º) e busca trazer dados e estatísticas sobre crimes que as pessoas não têm o costume de denunciar. Os dados foram coletados em outubro do ano passado, em mil entrevistas aleatórias, com 142 perguntas, realizadas em oito regiões da Capital, pelo Instituto de Opinião Pública (IPO).
A publicação aponta ainda que, nos últimos 12 meses, aproximadamente 28 mil pessoas sofreram assédio sexual de alguma forma na Capital. O que corresponde a 3,6% da população. Nestes casos, 88,9% das vítimas não registraram ocorrência. A maioria das vítimas seriam mulheres não-brancas.
Assim como aconteceu com Suelen, 35,1% das mulheres diz ter sido “importunadas por comentários de intenção sexual”, “ao se deslocar pela cidade em algum meio de transporte”. 79,3% dos casos teriam ocorrido em ônibus, 17,1% em serviços de aplicativos e 5,9% em táxis. A pesquisa aponta ainda que 96,3% das vítimas não registraram ocorrência.
De outubro de 2016 a outubro de 2017, cerca de 238 mil mulheres teriam sido alvos de comentários de conotação sexual. Aproximadamente 84 mil mulheres (13,4%) foram assediadas, sendo tocadas fisicamente, nos seios, nádegas ou órgão sexual sem consentimento. Outras 7,5% das entrevistadas dizem ter sido agarradas e/ou beijadas à força e 2,2% que foram assediadas quando alcoolizadas.
Outro número alarmante apontado pela pesquisa é a estimativa de que 44 mil pessoas tenham sofrido estupro, em algum momento da vida. 37,8% das vítimas sofreram a violência uma vez, 29,7% duas e 8,1% das vítimas relataram cerca de 20 casos de violação sexual.
Os índices de violência contra a mulher, como lesão corporal e estupro, foram os únicos a registrar alta nos Índices de Criminalidade divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública, em janeiro. Só os registros de estupro, tiveram aumento de 5,5% no último ano.