247 delegados de Polícia Civil assinam manifesto em defesa da democracia
Em carta hospedada no site Avaaz, delegados de manifestam a crença nos valores da democracia e da cidadania, rechaçando qualquer tentativa de desrespeito à ordem constitucional ou arroubos autoritários
Publicado: 05 Agosto, 2022 - 17h00 | Última modificação: 05 Agosto, 2022 - 17h05
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha
Após os manifestos da Faculdade de Direito da USP que já tem mais de 600 mil adesões e da Carta da Federação das Indústrias de São Paulo, assinada também pela CUT e outras centrais sindicais, em defesa da democracia, agora são os delegados de polícia civil que organizaram um abaixo assinado rechaçando qualquer tentativa de desrespeito à ordem constitucional ou arroubos autoritários.
A carta em defesa da democracia chama a atenção, em virtude da categoria ser considerada de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que sistematicamente vem fazendo ataques à lisura das eleições, afirmando que as urnas eletrônicas não são confiáveis, apesar de ter sido eleito em 2018, presidente, e em outros diversos mandatos como deputado federal, por meio desse sistema. Seus filhos também foram eleitos por meio das urnas eletrônicas. Eduardo é deputado federal (PL-SP) e Flavio (PL-RJ), senador.
A hospedada, no site Avaaz, até a tarde desta sexta-feira (5), já tinha 247 assinaturas de delegados da ativa e aposentados, de diversos estados. Segundo o autor da petição, a ideia é chegar a 300 adesões.
No documento, o autor diz que o delegado de polícia é o primeiro garantidor da legalidade e da justiça, e que em um Estado Democrático de Direito, a Polícia Civil, tem o papel constitucional da preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, e que não é possível compactuar com qualquer atentado à lei e aos bens que devem ser protegidos constitucionalmente.
Os delegados também fazem uma defesa da Justiça Eleitoral, que vem sendo atacada por Bolsonaro.
"A Justiça Eleitoral, desde sua criação em 1932, vem responsabilizando os autores de abusos e fraudes eleitorais, que macularam a democracia durante a Primeira República (1889-1930). Ela nasceu, portanto, vocacionada a assegurar a soberania popular exercida por meio do sufrágio.
Confira a íntegra da carta dos delegados da Polícia Civil
Os subscritores da presente Carta, conscientes do papel institucional do delegado de polícia de ser o primeiro garantidor da legalidade e da justiça, manifestam a crença nos valores da democracia e da cidadania, rechaçando qualquer tentativa de desrespeito à ordem constitucional ou arroubos autoritários.
A democracia é um valor constitucional consagrado na Constituição Cidadã, e seu conteúdo deve ser construído dia a dia pelas instituições, em especial pelas agências de controle que integram o sistema de justiça, a exemplo da Polícia Civil. Não por acaso a dignidade humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, já que a democracia é o único regime político garantidor do efetivo respeito aos direitos e garantias fundamentais do cidadão.
Durante a ditadura militar (1964-1985) reinaram a censura, prisões arbitrárias, torturas e mortes de opositores políticos, isto é, o mais completo autoritarismo. Após a redemocratização, o ódio à democracia vem monetizando os conflitos e o diversionismo político está impedindo que as discussões sobre os verdadeiros problemas públicos avancem para proporcionar a formulação de políticas públicas, em benefício da sociedade. O ódio à democracia é, na verdade, o ódio ao povo.
Em um Estado Democrático de Direito, a Polícia Civil, tem o papel constitucional da preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio e a função de polícia judiciária e apuração das infrações penais, não sendo possível compactuar com qualquer atentado à lei e aos bens que devem ser protegidos constitucionalmente.
A Justiça Eleitoral desde sua criação em 1932, vem responsabilizando os autores de abusos e fraudes eleitorais, que macularam a democracia durante a Primeira República (1889-1930). Ela nasceu, portanto, vocacionada a assegurar a soberania popular exercida por meio do sufrágio. A reboque, o papel da polícia judiciária é o de órgão auxiliar da Justiça Eleitoral, inclusive na persecução dos crimes praticados contra a administração da justiça.
Por fim, nós Delegados de Polícia reafirmamos nossa disposição pela luta para garantia e defesa do Estado Democrático de Direito, pelo respeito aos três Poderes, bem como do processo eleitoral, que representa a vontade do povo e assim deve ser acatada. Em suma, parafraseando Ulysses Guimarães: “traidor da Constituição é traidor da Pátria. Temos ódio e nojo à ditadura!”.