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31 de março: nada a comemorar

Em nota, CUT repudia narrativa falaciosa de que o golpe militar foi um movimento que veio para salvar a democracia. Quando a democracia está sob ameaça, precisamos juntar forças e resistir, diz a nota

Publicado: 31 Março, 2020 - 17h45 | Última modificação: 31 Março, 2020 - 17h50

Escrito por: CUT Nacional

Reprodução
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A Direção da CUT reafirma sua posição histórica de condenar o golpe que instaurou no país no dia 31 de março de 1964 uma ditadura sanguinária, que interrompeu o sonho de milhões de brasileiros que lutavam por direitos democráticos fundamentais.

Dois anos antes, os trabalhadores rurais haviam conquistado ao direito de se organizarem em sindicatos e de serem protegidos por uma legislação trabalhista, como os trabalhadores urbanos. Foram necessárias décadas de luta para que se livrassem das formas mais abusivas de exploração do trabalho e de subordinação ao mando dos proprietários rurais. A abolição da escravatura não os livrara desse jugo. 

No início dos anos sessenta, os rurais juntaram-se aos trabalhadores urbanos para reivindicar reformas estruturais na sociedade com o objetivo de ampliar as fronteiras da cidadania e fortalecer a democracia. Foram reprimidos brutalmente com o golpe de 31 de março: sindicatos foram invadidos, lideranças sindicais assassinadas, presas e torturadas.

Um regime de terror se instaurou na sociedade, a repressão atingiu e calou aqueles que ousavam resistir ou se opor.

A classe trabalhadora foi submetida a uma das mais abusivas formas de exploração do trabalho. O arrocho brutal dos salários foi um dos principais pilares do crescimento econômico dos anos seguintes, acompanhado de um número recorde de acidentes de trabalho.

A pobreza e a miséria se ampliaram, demonstrando a face mais perversa de uma tremenda concentração de renda. Este foi o objetivo real do golpe militar. Não foi salvar a democracia, mas acabar com ela para permitir o “milagre” dos anos setenta, imposto com sangue e lágrimas.

Não esqueceremos esses anos de chumbo. Nem das lutas silenciosas que brotaram no chão de fábrica, nos bairros, nas comunidades eclesiais de base e nos sindicatos urbanos e rurais, nas universidades e outros espaços de resistência que colocaram novamente a sociedade brasileira em movimento para se livrar da ditadura e reconquistar a democracia.

Repudiamos, pois, a narrativa falaciosa de que o golpe militar foi um movimento que veio para salvar a democracia. Quando a democracia está sob ameaça, precisamos juntar forças e resistir. Agora, mais do que nunca, devemos salvar vidas, superar a crise econômica e política que se aprofunda, sem abrir mão da defesa incondicional da democracia, que assegure liberdade e direitos fundamentais.


Sergio Nobre, Presidente CUT Nacional