Escrito por: Bruna Chilanti, da CNTRV
Proposta de limitar o pagamento do abono a trabalhadores que ganham até um salário é criticada pelo presidente da Federação dos Sapateiros RS
O governo de Jair Bolsonaro (PSL) está tentando aprovar o fim do abono salarial (PIS) para os 21,3 milhões (52%) de trabalhadores e trabalhadoras formais que ganham até dois salários mínimos (R$ 1.996,00). Pela proposta do governo, o abono só seria pago para os 2,6 milhões (6%) que ganham até um salário mínimo (R$ 998,00).
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Vestuário da CUT (CNTRV) fez um levantamento e concluiu que cerca de 80% dos trabalhadores nas indústrias têxteis e de confecções, beneficiamento do couro e produção de calçados recebem o abano salarial do Programa de Integração Social (PIS).
“A maioria dos empregados no nosso setor possui rendimento mensal pouco acima do salário mínimo, ou seja, perderão o benefício de R$ 998”, diz João Batista Xavier, presidente da Federação dos Sapateiros RS.
Esta proposta está no texto da minuta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de reforma da Previdência, que deve ser enviada ao Congresso Nacional no dia 20 de fevereiro. Nesta quinta, Bolsonaro avalizou a obrigatoriedade de idade mínima para aposentadoria de 65 anos para homens e 62 para as mulheres e regras de transição que acabarão com a aposentadoria de milhares de trabalhadores.
“Faz parte de uma série de retrocessos que estão por vir e são inacreditáveis após anos de lutas e conquistas”, diz Xavier.
“Nós da Federação dos Sapateiros RS, juntamente com a CUT e CNTRV, estamos buscando sempre aumentar o piso salarial da nossa categoria e é inadmissível que por melhorarem um pouco a dignidade salarial percam o abono”, critica o sindicalista.
Segundo ele, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) divulgou dados que mostram que o início de ano foi de boas notícias nas exportações de calçado. O primeiro mês registrou o embarque de 15 milhões de pares por US$ 99,3 milhões, altas de 33,4% em volume e de 23% em receita no comparativo com o primeiro mês do ano passado.
Diante destes resultados, o dirigente questiona: “Como deixaremos cerca de 80% dos trabalhadores sem PIS? Como continuar movimentando a economia sem valorização?”.
Essa é a “pergunta que não quer calar”, conclui.