A convite da CUT, presidente da Bolívia, país que venceu o golpe, fala ao Brasil
Entrevista exclusiva e ao vivo de Lucho Arce, na próxima quinta-feira (25), às 20h, pela TVT, redes e Youtube, será apresentada por Sérgio Nobre e terá Lula e Dilma
Publicado: 19 Fevereiro, 2021 - 09h53 | Última modificação: 19 Fevereiro, 2021 - 11h52
Escrito por: Vanilda Oliveira
“Não é o ódio o que impulsiona nossos atos, mas uma paixão pela Justiça. A Bolívia recuperou a democracia e a esperança e vamos governar para todos os bolivianos e construir um governo de unidade no nosso país”. Três meses após marcar seu discurso de posse com essas palavras, o presidente boliviano, Luis ‘Lucho’ Arce, falará ao Brasil a convite do presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, que foi recebido pelo governante em La Paz, em dezembro do ano passado.
Ex-ministro da Economia de Evo Morales, o também professor universitário Arce vai conceder entrevista, ao vivo, na quinta-feira, 25 de fevereiro, às 20h (de Brasília, 19h, na Bolívia). A conversa será produzida e transmitida pela TVT, além de ser retransmitida pelas redes sociais e canais do Youtube da CUT, sindicatos e entes cutistas. Arce será entrevistado por uma bancada de jornalistas e acadêmicos da área internacional.
O ex-presidente Lula e a ex-presidenta Dilma Rousseff participarão do evento.
“Convidamos, Arce aceitou e agora falará aos brasileiros, porque vemos essa Bolívia que venceu o golpe como exemplo e inspiração a serem seguidos pelo Brasil e por todas as nações e povos que estejam sob o jugo de governantes autoritários como Bolsonaro”, afirmou Sérgio Nobre.
“O povo boliviano, a classe trabalhadora deram a volta por cima e elegeram, democraticamente, um presidente afinado com as necessidades e prioridades da maioria da população. Temos muito o que ouvir do Arce”, destacou o presidente nacional da CUT.
Candidato do MAS (Movimento ao Socialismo), Arce foi eleito no primeiro turno, com 52% dos votos, em outubro de 2020, menos de um ano após a direita, com apoio externo, ter dado um golpe no governo do então presidente Evo Morales. Perseguido e ameaçado de morte, Evo foi obrigado a se exilar, primeiramente no México e depois na Argentina, de onde apoiou e fez campanha para Arce. Está de volta ao seu país e voltou nos braços do povo. Bolsonaro não foi à posse nem telefonou para cumprimentar Arce. Foi o último governante da América do Sul a fazer isso, e apenas protocolarmente, por meio de nota do Itamaraty.
Ouro branco
Sérgio Nobre destaca que o golpe da direita na Bolívia atendeu a interesses do capital internacional. Com essa fala, ele se refere à cobiça de diversos países pela principal riqueza natural da Bolívia, que tem a maior reserva de lítio do mundo (70%) e, por isso, é chamada pelos especialistas de “a Arábia Saudita do lítio”.
Esse metal apelidado de “ouro branco” é usado em produtos de alta tecnologia e, principalmente, em componentes e baterias de carros elétricos. Tantos recursos naturais no subsolo boliviano despertam tais interesses de outros países, que chegaram a ter seus nomes ligados ao golpe, além de mineradoras estrangeiras.
O presidente boliviano vai falar sobre essas questões econômicas e o que estava por trás do golpe de 2019 e instabilidades anteriores.
Vamos entrevistar um homem que governa um povo que recuperou, como ele mesmo disse, a democracia e a esperança, apesar da pressão externa, algo muito importante para nós brasileiros, porque no ano que vem elegeremos um novo presidente.
O dirigente da CUT disse ainda que a vitória da esquerda na Argentina, em 2019, e, na sequência, na Bolívia no ano passado apontam para uma mudança de rumos na América do Sul “e isso tem tudo a ver com o Brasil”.
O secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, que esteve na visita a Lucho Arce, na Bolívia, também acredita na importância da entrevista como farol para os brasileiros, em especial para o movimento sindical, nesse momento obscuro pelo qual passa o país.
“Trará muitas mensagens, mas destaco como mais relevante o fato de a Bolívia ter conseguido, menos de um ano após o golpe, mobilizar a população, mobilizar a classe trabalhadora e eleger, democraticamente, seu presidente” disse Lisboa.
“Essa vitória foi uma demonstração de que a organização da população, a organização dos trabalhadores são capazes de resgatar a democracia”, completou o dirigente.
Para Lisboa, também será importante ver o presidente Arce abordar a questão econômica e falar sobre “como a Bolívia voltou a crescer exatamente por ter optado pela democracia, pela transparência e por um programa de esquerda; são mensagens muito importantes para a nossa luta contra a direita aqui no Brasil”.
Retomada
Em dezembro de 2005, a Bolívia elegeu pela primeira vez um indígena à presidência da República. Evo Morales conquistou 53% dos votos e o MAS conquistou a maioria no Parlamento. O país passou, então, a viver o que os especialistas chamaram de milagre econômico, reduzindo a extrema pobreza de 38% para 15% e também a concentração de renda. O golpe interrompeu esse ciclo virtuoso, mas a luta popular e democracia venceram em 2020.
A vitória de Arce garantirá à Bolívia retomar o rumo das reformas, do crescimento econômico e do combate à pobreza e à desigualdade, além de um modelo voltado para o desenvolvimento industrial local.
“Por tudo isso, convidamos Arce, Evo e sindicalistas bolivianos a também virem ao Brasil (assim que houver condições sanitárias) para expor e debater a experiência vitoriosa da esquerda e dos trabalhadores na na Bolívia e a se encontrar com a comunidade boliviana que vive no Brasil”, disse Sérgio Nobre.
O desafio dos trabalhadores e das trabalhadoras, prosseguiu Sérgio, e dos governos progressistas na região [América do Sul] “é retomar a democracia, o caminho do desenvolvimento”. “Temos eleições no ano que vem e já estamos na luta para derrotar a extrema direita, o autoritarismo aqui”, afirmou o presidente nacional da CUT.