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‘A epidemia em São Paulo não permite volta às aulas’, avalia médico do Einstein

Hélio Bacha, consultor da Sociedade de Infectologia, vê na volta às aulas em São Paulo um risco para toda a população

Publicado: 29 Julho, 2020 - 09h22 | Última modificação: 29 Julho, 2020 - 16h22

Escrito por: Rodrigo Gomes, da RBA

Reprodução
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“A epidemia em São Paulo não permite pensar em volta às aulas.” A afirmação é do doutor em infectologia Hélio Bacha, médico do Hospital Albert Einstein e consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia. Segundo Bacha, sem vacina e nem medicamento eficaz, o isolamento social é a única medida efetiva de controle da pandemia. E a suspensão das aulas presenciais “é fundamental para manter a condição de isolamento eficaz”.

“Eu não sei quando vai reabrir (as escolas). Mas sei que agora não deve. Nessa condição de agora, até acenar com a possibilidade de reabertura em setembro é uma sinalização equivocada para a sociedade. Certamente as UTIs estão em níveis melhores, mas a epidemia ainda está ativa”, defende.

Segundo dados do governo João Doria (PSDB), a educação em São Paulo envolve 13,3 milhões de pessoas, entre estudantes, professores e outros trabalhadores. Esse total corresponde a 32% da população do estado. Destes, 2,3 milhões estão na educação infantil, 7,6 milhões nos ensinos fundamental e médio, 2 milhões no ensino superior, 1 milhão na educação complementar e 428 mil no ensino profissional. Bacha ressalta que é preciso considerar que todas essas pessoas vão circular também no transporte coletivo, nas ruas e, depois, voltar para casa.

“Poleiros”

“Temos que saber como aquela população chega à escola, qual o impacto no transporte coletivo. O transporte é uma grande dificuldade dessa condição atual, com a volta às aulas em São Paulo. A presença de professores e alunos não diz respeito apenas ao prédio da escola, é uma ameaça a todos”, afirmou Bacha, em audiência pública virtual, realizada nesta terça-feira (28) pela Assembleia Legislativa, por iniciativa dos deputados petistas Professora Bebel e Emídio de Souza.

O doutor em infectologia lembrou que a Itália ainda não teve volta às aulas. O país europeu teve uma situação bastante grave no início da pandemia e está cerca de dois meses na frente do Brasil em relação à evolução dela. Atualmente, registra significativa redução do número de casos, internações e mortes. “E nós aqui, no meio da pandemia, querendo que os professores voltem. Nós vamos colocar a volta às aulas com um bando de crianças como ameaça ao professor? Qual é a garantia que esse professor tem de que a saúde dele vai ser preservada?”, questionou.

Bacha explicou que, embora o potencial de transmissão do coronavírus em crianças menores de 10 anos seja baixo, colocar crianças pequenas para conviver, em salas pequenas, com pouca ventilação, é reiniciar a pandemia.

“Educação infantil, crianças até pré-escola, eu não vejo como voltar às aulas. Pelo comportamento. A arquitetura de hoje, salas de aula ‘poleiro’, nunca mais. Vão voltar às aulas, mas não com essas condições de higiene, de ventilação. O ensino, dependendo da faixa etária, tem condições diferentes de resolver. Mas não se pode impingir isso dessa forma: dia tal vai voltar”, disse.

“Vacina e educação”

O consultor ponderou, no entanto, que não se pode condicionar a volta às aulas em São Paulo a uma vacina, já que a produção de um imunizante é incerta. “Esse não pode ser o critério, se não houver vacina não há mais aula. E se não houver vacina? Nós não sabemos nem sequer o quanto a infecção natural tem de resposta imunológica, imagine a vacina. Nós temos esperança que ela vá funcionar, mas não necessariamente vai funcionar em um ano, dois anos, três anos. Se não funcionar não vai mais haver educação no mundo?”

A deputada Professora Bebel, também presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), defendeu a necessidade de os prédios estarem adaptados para receber os alunos. Segundo ela, não se trata de um embate com o governo e sim da preocupação com a vida das pessoas que ali vão circular. “Não é questão de briga com o governo. É uma questão de condições. Não basta diminuir o número de alunos. A escola também precisa ser um espaço mais aberto, mais arejado”, afirmou.

Emidio de Souza ressaltou que o governo Doria precisa ouvir os professores, estudantes e as famílias. “A decisão de um governante nessa pandemia pode definir a vida ou a morte de milhões de pessoas. Não podemos aceitar que as decisões que envolvem a vida de milhões de pessoas sejam tomadas sem o mínimo de debate. Nós não podemos arriscar. Estamos tratando de vidas humanas e ninguém pode brincar com isso”, disse.