Escrito por: Érica Aragão, Rafael Silva e Rogério Hilário

A formação sempre foi importante, agora ainda mais, disse Sérgio Nobre

No quarto dia da 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT, o Secretário-Geral afirmou que o momento exige formação para pensar a Central para os próximos 30 anos

Lidyane Ponciano
Sérgio Nobre na 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT, em BH

No quarto dia da 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT, em Belo Horizonte, nesta quinta-feira (30), que debate os ataques do governo de Jair Bolsonaro (PSDL) aos direitos sociais e trabalhistas e, também, os desafios e impactos das novas tecnologias para os trabalhadores e as trabalhadoras, o Secretário-Geral da central, Sérgio Nobre, falou sobre a  importância da formação na construção do novo sindicalismo brasileiro pós- ditadura e afirmou o quanto a formação é fundamental para o movimento sindical brasileiro.

“A formação está desde o início da minha trajetória no sindicalismo. E nenhum dirigente fez história sem valorizar a formação. Se ela era fundamental antes, hoje é ainda mais”, disse Sérgio, que também é metalúrgico do ABC.

“Ir para a porta de uma fábrica falar alguma coisa requer uma formação mais profunda, um dirigente ainda mais capacitado. É uma responsabilidade muito grande. Mudaram as coisas e temos que investir cada vez mais na formação”, disse.

Sérgio lembrou de uma conversa que teve com o ex-presidente Lula, que falou sobre como era fazer simples sindicalismo antes e como é mais complicado atualmente, comprovando a necessidade de os representantes dos trabalhadores irem aos locais de trabalho com mais argumentos para enfrentar todos os questionamentos que surgirem.

“Lula me disse que fazer sindicalismo na sua época era muito mais fácil, apesar de toda a opressão da ditadura militar. Bastava encostar um caminhão, xingar o patrão, que se mobilizava os trabalhadores. Hoje as pessoas têm consciência crítica, mais acesso às informações, pelas redes sociais”.

Lidyane PoncianoMartin Hahn

 

O diretor da OIT no Brasil, Martin Hahn, disse que os desafios do futuro do trabalho são grandes e concordou com o Secretário-Geral da CUT sobre a necessidade de mais formação para enfrentar esse processo.

“A formação é fundamental para assegurar que o futuro do trabalho seja algo que nós queremos, de uma forma que consigamos mudar e moldar”, disse Martin, que complementou dizendo: “Se não tomarmos ações determinantes sobre o futuro do trabalho, seguiremos para um mundo ainda mais cheio de desigualdades e incertezas”.

Momento atual e a formação

Lidyane PoncianoMesa de debate do quarto dia da Conferência

 

O Secretário-Geral da CUT, Sérgio Nobre, também falou da política neoliberal do governo Bolsonaro cujo projeto é atacar aos direitos e a organização sindical, numa tentativa de travar a luta por direitos.

“Nossos sindicatos de base estão sendo acuados com as MPs [Medidas Provisórias] da vida. As bases estão sendo reduzidas com o desemprego e as inovações tecnológicas e é preciso reagir”.

“Precisamos construir um novo modelo de sindicalismo”, prosseguiu o dirigente CUTista. “Não é uma coisa que se constrói da noite para o dia. A classe trabalhadora se formou lutando contra as máquinas”, disse lembrando outras revoluções que o movimento sindical já viveu.

Para Sérgio Nobre, a 4ª Conferência Nacional de Formação é também um espaço para se construir propostas para o Congresso Nacional da CUT, que será realizado em outubro, e onde serão tomadas decisões sobre os caminhos que a Central vai seguir nos próximos anos.

“Temos uma história vitoriosa. Não podemos nos organizar como há 30 anos. Vivemos em um mundo e em país muito diferente de quando a CUT nasceu. Por isso, a formação é muito importante. É agora que se decide, a decisão vai marcar as nossas vidas”, finalizou Sérgio Nobre acompanhado de um grito de “Lula Livre”. 

Neoliberalismo do mundo e a resistência da classe trabalhadora

Lidyane PoncianoEm destaque no telão, João Barreiros

 

O membro do Conselho Nacional da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), João Barreiros, disse que os ataques à classe trabalhadora e aos sindicatos não é experiência apenas no Brasil. A Europa também vive retrocessos e o movimento sindical português também tem resistido.

Segundo ele, além disso, o futuro do trabalho tem sido discutido numa ótica que está desligada da realidade e é preciso que os sindicatos debatam isso no local de trabalho e ouvir os trabalhadores para que os sindicatos estejam envolvidos na luta na defesa dos direitos dos trabalhadores.

“O papel dos sindicatos é muito importante para não voltar atrás e perdermos direitos da classe trabalhadora que já conquistamos a base de muita luta. A formação é essencial para dizermos que não é possível que o trabalhador não tenha vinculo e horário de trabalho digno para ter uma vida digna”, afirmou João.

Lidyane PoncianoJoão Barreiros

 

Para a AFL-CIO, Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais, maior central operária dos Estados Unidos e Canadá, a formação também é protagonista neste momento político neoliberal da era de Donald Trump, presidente de direita dos Estados Unidos.

Brian Finnegan, diretor na entidade, disse que a experiência de diálogo digital com os trabalhadores e as trabalhadoras nos Estados Unidos têm tido um bom resultado para a entidade como o enfrentamento aos ataques contra o movimentos sindical americano.

O programa é chamado Economia do Bom Senso, e traz informações sobre alguns temas que são considerados relevantes e que afetam o país, como globalização, justiça criminal, mulheres e família, imigração e questões raciais e juventude.

“Nessa plataforma, os trabalhadores podem interagir com outros e trocar experiências de atuação sindical, com oficinas sobre o mundo do trabalho e isso fortalece a classe trablahadora”, disse Brian.