Escrito por: Giovanna Galvani, da Carta Capital

“A gente não sabe o que está no oceano ainda”, diz presidente do Bahia

Unindo futebol com ativismo, Guilherme Bellintani se posiciona sobre óleo que mancha o litoral nordestino

Reprodução/Site do Bahia

Um embate entre dois times nordestinos agitou a segunda-feira de encerramento da 27ª rodada do Campeonato Brasileiro. A principal notícia, porém, não foi a virada do Ceará para cima do Bahia. Em campo, os jogadores do tricolor baiano vestiam uma edição especial da camisa do time, “manchada” de óleo, para que o mundo do futebol não deixe passar uma questão que vai bem além do gramado: o vazamento de petróleo que vem despejando enormes borras pretas nas praias nordestinas desde 30 de agosto.

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A urgência do assunto foi o que impulsionou a ação do Bahia, que toca tanto na frente ambiental quanto no aspecto social das manchas de petróleo. “A gente sabe o que chega nas praias, mas não sabe o que está no oceano ainda. Existe o efeito econômico para as pessoas que vivem do mar. Pequenas comunidades, pescadores, marisqueiros… se isso se alonga, tem uma ameaça muito grande.”, disse o presidente do clube, Guilherme Bellintani, para CartaCapital

A falta de respostas do governo federal em relação ao assunto vem tirando o sono de moradores do litoral nordestino, que se organizam em grupos voluntários para tirar limpar as areias. Já são mais de 200 toneladas de resíduos retirados, segundo o Ibama, e ainda não se sabe a origem exata do vazamento.

“O problema é seu. O problema é nosso. Quem derramou esse óleo? Quem será punido por tamanha irresponsabilidade? Será que esse assunto vai ficar esquecido?”, disse o clube no manifesto oficial sobre o tema.

Bellintani afirma que a reação da torcida baiana à ação, que foi divulgada no final de semana, tem sido favorável e positiva para que mais temas de relevância social apareçam no esporte mais popular do País. “Salvador é uma cidade muito ligada ao mar. Já seria pelo fato de ela ser do litoral. Mas, quando você soma a praia com a Baía de Todos os Santos, percebe uma cidade que tem muitos movimentos e muita vida em relação ao mar.”, diz.

Algumas camisas estilizadas com as manchas serão leiloadas para que o valor arrecadado seja doado a grupos que atuam na limpeza das praias de Salvador, do litoral norte baiano e da Baía de Todos os Santos.

Com um histórico de posicionamentos referentes a temáticas nem sempre vistas no futebol – como a promoção de direitos para a comunidade LGBT+ e resgate de figuras do movimento negro no Brasil -, Bellintani afirma que a equipe administrativa do Bahia não teme retaliações no campo político. Elas, na verdade, já fazem parte da lógica do time.

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“Eu brinco que no dia em que ninguém criticar, é que a gente fez alguma coisa que não devia ter feito. Se a gente não mexeu na zona de conforto de ninguém, se a gente não provocou alguém a sair do lugar comum, sobretudo dentro do futebol, que é um local mais conservador… o futebol é também um lugar de posicionamento e protagonismo social. É isso que a gente defende bastante”, diz.