A história se repete: CSN impede trabalhadores de fazer greve usando força policial
CSN não quer pagar reajuste com base no INPC da data-base e adota a velha prática antissindical para tentar sufocar revindicações justas dos trabalhadores que querem, no mínimo, reposição da inflação
Publicado: 31 Maio, 2022 - 17h04 | Última modificação: 31 Maio, 2022 - 17h41
Escrito por: Tatiane Cardoso, CUT-RJ
Os trabalhadores dos terminais de Contêineres e Carvão, do Porto de Itaguaí da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e dirigentes sindicais que lutam por reajuste salarial e melhores condições de trabalho foram surpreendidos na manhã desta terça-feira (31) com a chegada da polícia que fez ameaças e impediu uma mobilização por direitos.
Não é a primeira vez que a gestão da CSN adota essa prática antissindical para tentar sufocar revindicações justas dos trabalhadores que querem, no mínimo, reposição da inflação. E como a empresa se recusa a negociar, decidiram deflagar uma greve que aconteceria ainda nesta madrugada. A polícia impediu até mesmo que a direção do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro e a comissão dos trabalhadores conversasse com os trabalhadores na entrada do Porto para a negociação do Acordo Coletivo de Trabalho.
Passam os anos e a CSN mantem o mesmo critério de intimidação. Utiliza interlocutores para pressionar a categoria a aceitar o que é oferecido pela empresa sem questionamentos. Aqueles que protestam acabam demitidos. Diante da pressão, e com medo de represálias, desistem de lutar por melhorias nas condições de trabalho, que incluem reajustes dignos de salários e benefícios no período da data-base (1º de maio) com a revisão dos Acordos e Convenções Coletivas da categoria.
“Esse é o retrato que vivemos atualmente. Parece que voltamos no tempo, quando há 34 anos acontecia uma greve na siderúrgica, que se tornou histórica e acabou com a morte de três operários”, recorda o presidente do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro, Sérgio Giannetto.
O dirigente se refere a greve de 7 de novembro de 1988, quando os operários da siderúrgica, em Volta Redonda, iniciaram uma das maiores greves da categoria com o apoio da CUT.
Eles lutavam pela implantação do turno de 6h, reposição de salários usurpados por planos econômicos e reintegração dos demitidos por atuação sindical. Em um ato de clara perseguição política, com intuito de calar e oprimir os trabalhadores, o exército brasileiro tentou interromper o movimento de greve e matou três metalúrgicos.
Com gritos de ordem como “operário produz, militar mata” a categoria resistiu e a greve foi mantida por mais 23 dias.
Para Giannetto, desde 2016, após o golpe promovido contra a presidenta Dilma, os grandes empresários tentam enfraquecer os sindicatos e, consequentemente, os trabalhadores e as trabalhadoras.
“A economia do país vai de mal a pior. O atual presidente não gera empregos e nem renda. Não há perspectiva de melhoria nas condições de vida do trabalhador. Sem o aquecimento da indústria não temos ofertas de trabalho. E quem está empregado tem medo de ser demitido em meio a uma crise econômica, com inflação de mais de 12%”, pontua Giannetto, ao demonstrar como a categoria está fragilizada diante dos desmandos da direção da CSN.
“Infelizmente não temos aqui no Brasil, assim como acontece em diversos países do mundo, uma legislação de práticas antissindicais que dê para enquadrar essas empresas por esses absurdos que fazem”, avalia o secretário Nacional de Assuntos Jurídicos da CUT Brasil, Valeir Ertle.
Para ele, a situação ainda fica pior quando o governador, no caso do Rio de Janeiro, Cláudio Castro), coloca a força policial a serviço do capital para ameaçar os trabalhadores e os dirigentes sindicais e os impedir de mobilizar a categoria para reivindicar melhores condições de trabalho.
Em um momento como o atual, com arrocho salarial, é extremamente importante que os sindicatos se mobilizem para tentar minimizar os prejuízos que a classe trabalhadora atravessa nesse governo.
“Temos que denunciar as empresas com prática antissindical na Organização Internacional do Trabalho [OIT]. Os sindicatos fazem parte dos pilares da democracia, tão atacada ultimamente pelos governos municipais, estaduais e federal”, conclui Valeir.
Sindicato sem resposta sobre proposta apresentada há quase quatro meses à CSN
O Sindicato dos Portuários do Rio apresentou em fevereiro uma proposta de reajuste, mas até hoje, quase quatro meses depois, a CSN ainda tenta impor uma proposta bem abaixo dos anseios da categoria. “Essa prática é antiga. Eles impõem a mesma proposta para todas as categorias da empresa: metalúrgicos, mineiros e portuários. Temos realidades diferentes e precisamos chegar a um consenso”, finaliza Giannetto.
O que os trabalhadores reivindicam?
Os trabalhadores lutam para que salários e benefícios sejam reajustados, pelo menos, com base no Índice de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulado da data-base da categoria, que acumula defasagem salarial de 25% se forem levados em consideração os anos em que a CSN não reajustou os salários com base no INPC.