A maior democracia da América Latina está em perigo’, diz jornal britânico
Editorial do "The Guardian" destaca eleição brasileira, violência do país e diz que comparar Bolsonaro a Trump chega a ser "gentil"
Publicado: 05 Outubro, 2018 - 09h37 | Última modificação: 05 Outubro, 2018 - 09h54
Escrito por: Redação RBA
Jair Bolsonaro representa uma ameaça “enorme” à democracia brasileira. O ''risco impensável'' de que ele se tornasse presidente do Brasil passou a ser real. Esta é a análise de editorial publicado nesta quinta-feira (4) pelo jornal britânico The Guardian. “A visão do Guardian sobre as eleições no Brasil: democracia em perigo” é o título do editorial.
O Guardian afirma que, de congressista “visto anteriormente como ofensivo, mas irrelevante”, a partir de uma campanha populista ele capitalizou os problemas do país, num contexto em que o Brasil “está lutando para se recuperar de sua pior recessão de todos os tempos”. “E a taxa chocante de crimes violentos - o Brasil registrou um recorde de 63.880 homicídios no ano passado - aumentou o apelo de um punho de ferro”, diz o editorial.
Segundo o jornal, a campanha do candidato do PSL foi impulsionada pelo atentado que sofreu. “Ele se apresenta como um forasteiro que vai limpar a política”, construindo apoio por meio da “mídia social”. “No entanto, ele também extrai força das antigas forças brasileiras: os militares, os ricos fazendeiros e os empresários, os socialmente conservadores; igrejas evangélicas têm jogado seu peso para empurrá-lo”.
The Guardian afirma que chamar Bolsonaro de “Donald Trump da América Latina, como alguns fizeram, é ser gentil demais”. “Bolsonaro é um misógino e homofóbico cujas opiniões sobre comunidades indígenas e o ambiente são muito sombrias. Ele elogia torturadores e a ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Recentemente defendeu tiros contra seus oponentes.”
A publicação ressalta que sua ascensão foi alimentada pela queda do PT, “expulso do poder em circunstâncias duvidosas há dois anos com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff”. Diz ainda que as políticas de austeridade de Michel Temer alimentaram o clima antipolítica no país. “No entanto, a figura dominante do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, continua muito popular mesmo cumprindo sentença de 12 anos por corrupção.”
O editorial afirma que "apelos para que os candidatos centristas Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva se unam como alternativa unificadora chegaram tarde demais".
Além do editorial, o jornal britânico publicou matéria intitulada “Brasil está em guerra: eleições acontecem em meio a violência homicida."
“A senhora Farias tinha acabado de concluir um censo de sua favela em ruínas nos arredores de uma das cidades mais violentas do mundo quando ouviu uma saraivada de tiros e sua contagem ficou subitamente desatualizada. Em uma rua não pavimentada, seu vizinho Ruan Patrick Ramos Cruz, de 17 anos, jazia morto no chão depois de ser repetidamente baleado na cabeça e no peito por assassinos desconhecidos.”
A matéria revela que Cruz foi a 296ª pessoa a morrer em Feira de Santana este ano. Foi também a última vítima de uma escalada da crise de homicídios que transforma a segurança pública a questão-chave num contexto em que o Brasil realiza sua “mais imprevisível eleição presidencial em décadas”.
Esse clima de terror social alimenta o apoio popular ao candidato “de extrema-direita” Bolsonaro, até o momento líder das pesquisas, seguido por seu “rival mais próximo, o candidato do Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad, com muitos seguidores”. diz a matéria.
O Guardian lembra que “a maior democracia da América Latina” teve um recorde de 63.880 homicídios em 2017, quase 10% no estado da Bahia. Nesse contexto, “Bolsonaro prometeu soluções insensatas, incluindo o afrouxamento das leis de porte de armas”.
O jornal destaca ainda que, por sua vez, Haddad propõe um "sistema unificado de segurança pública" e a federalização de alguns crimes para que as autoridades estaduais se concentrem em combater assassinatos, femicídios, estupros e roubos.