Escrito por: Érica Aragão
Nova direção será eleita no “9º Congresso Nacional da Alimentação: pela ética e respeito aos direitos dos trabalhadores”. Evento que teve início na quinta (5) termina nesta sexta-feira (6), na sede da CUT
Mais de 140 delegados e delegadas, representantes de mais de 1milhão e 400 mil trabalhadores e trabalhadoras de nove estados brasileiros, lotaram o auditório na sede da CUT na abertura do “9º Congresso Nacional da Alimentação: pela ética e respeito aos direitos dos trabalhadores” da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação da CUT (Contac).
De 5 a 6 de dezembro, os trabalhadores e as trabalhadoras da alimentação, além de preparar e discutir o plano de lutas da categoria para o próximo período e debater assuntos de interesse da classe trabalhadora, vão eleger a nova diretoria da entidade para estarem à frente da entidade nos próximos quatro anos (2019/2023).
A abertura, que aconteceu nesta quinta-feira (5), foi marcada por homenagens ao atual presidente, Siderlei Silva de Oliveira, que deixará a entidade depois de 25 anos de luta e conquistas.
“Este é meu último Congresso depois de ter construído esta confederação em 1994. Saio desta entidade com o sentimento de dever cumprido, porque somos uma confederação que não só briga por questão salarial, nós lutamos por tudo aquilo que impacta a vida do trabalhador e da trabalhadora da alimentação”, disse Siderlei.
Roberto Parizotti (Sapão)Ele citou um de seus principais legados, a Norma Regulamentadora (NR) nº 36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresa de Abate e Processamento de Carnes e Derivados - para o setor do frigorífico, consideradA a profissão que mais mutila e impacta a saúde do trabalhador. A norma tem finalidade de garantir segurança, saúde e qualidade de vida do trabalhador estabelecendo requisitos mínimos para realizar as atividades, priorizando a proteção dos trabalhadores.
“Qualquer trabalhador ou trabalhadora que detectar que a velocidade da linha de produção está alterada pode reclamar que vão diminuir e se a cada 50 minutos eles não descansarem, a máquina é desligada na hora. É este o nível que conquistamos com o trabalho da Contac”, contou Siderlei.
O sindicalista lembrou toda a história de lutas da categoria e também falou dos desafios da próxima gestão com o governo de Jair Bolsonaro.
Segundo Siderlei, a principal luta será para manter a entidade viva, porque os liberais que tomaram o poder querem destruir o movimento sindical e a classe trabalhadora.
“Com Bolsonaro tudo ficou pior, até as coisas que conquistamos com muita luta agora estão ameaçadas. A própria NR pode acabar se não houver disposição de luta. Esta nova direção precisará ousar como nós ousamos na década de 1990 para resistir e avançar. Não será este governo que vai fazer a gente parar, temos que continuar com mais cuidado e fazermos muito mais do que fizemos até aqui”, afirmou o presidente da Contac, sendo ovacionado de pé pelos colegas sindicalistas.
A Diretora Executiva da CUT e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT), Juvândia Moreira, disse que Siderlei é um daqueles lutadores que são referências para toda a luta. Ela também citou alguns nomes que inspiraram a luta da sua categoria, como o bancário Luiz Gushiken.
“Nós estamos no momento que precisamos de referências dessa luta para conseguirmos continuar. A gente tem uma Medida Provisória (MP) nº 905 que acabou de ser editada e que ataca frontalmente nossos direitos. É mais uma medida deste governo, dessa direita, que quer destruir direitos”, afirmou Juvândia.
Roberto Parizotti (Sapão)Segundo ela, a MP é mais uma reforma trabalhista destruindo leis e artigos da CLT que traziam, de alguma forma, proteção para a sociedade e para os trabalhadores. Uma medida que desonera o empresário e onera desempregado, que vai gerar emprego para a juventude com menos direitos. “A desfaçatez perdeu a modéstia”, ressaltou a bancária.
A dirigente disse ainda que Lula e Dilma provaram que não é preciso escolher entre direito e emprego. “Temos que ter emprego de qualidade para todos e todas, basta fazer a coisa certa, distribuir o orçamento, investir na saúde, na educação, na moradia e não o contrário, como este governo tem feito”.
“A gente precisa de vocês, trabalhadores e trabalhadoras organizadas, para lutar, resistir e disputar este país para que possamos colocar o Brasil para o rumo do desenvolvimento econômico com inclusão, respeito ao ser humano e amor, e não do ódio que estamos vendo por ai”, disse Juvândia.
Na mesa de abertura, além do Siderlei e Juvândia, estiveram presentes o representante das Federações do Ramo, Osvaldo Teófilo, a representante do macrossetor da Indústria, Lucineide Varjão, o representante do Instituto Trabalho Indústria e Desenvolvimento (TID Brasil), Rafael Marques e o representante da União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação (UITA), Geraldo Iglesias.
Ainda nesta quinta teve debate sobre o agrotóxico e sobre a reforma sindical, que está sendo encaminhada no Congresso Nacional. Nesta sexta-feira (6) serão finalizadas as discussões da categoria e a eleição da nova direção da Contac.
Homenagem em poema
Na abertura do Congresso também foi lida um poema, de autoria da Mara Lira, da Rede Vida Viva, e Tie Global, em homenagem ao atual presidente da entidade, Siderlei, que você pode ler abaixo na íntegra:
Pés fincados no chão
Toda luta precisa de um líder.
Não como Dom Quixote bradando sozinho contra moinhos de vento, mas como um líder que inspire a coragem naqueles que duvidam tê-la.
Toda luta precisa de um líder com certo grau de loucura para surpreender os inimigos, certos de seu abatimento.
Toda luta precisa de um líder que chore. É preciso coragem para mostrar-se frágil e humano.
Toda luta precisa de um líder que saiba recuar para avançar na hora mais precisa.
Toda luta precisa de um líder que ame tão intensamente uma causa como se dela dependesse a própria vida.
Toda luta precisa de um líder incansável, consciente de que sua resistência inspira no outro a disposição de seguir lutando.
Nossa luta tem um líder. Um líder que enxergou além das fronteiras e do horizonte.
Um líder que incomodou os grandes e prepotentes.
Um líder que olhou por muita gente. Gente sem saúde, gente sem saídas.
Um líder que alimentou o sonho coletivo de sermos gigantes, soberanos e livres.
Um líder que não saiu das ruas, das praças, da luta.
Um líder que elevou a Contac às alturas com os pés sempre fincados no chão onde pisa a classe trabalhadora.