Escrito por: Iara Voros e Michelly Cyrillo - ABCD Maior
Proposta foi selada após pressão dos trabalhadores e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Os trabalhadores demitidos da Karmann Ghia conseguiram um acordo com a empresa para receber todos os direitos, sem a necessidade de recorrer à Justiça. A reunião ocorreu na manhã de quarta-feira (18) na sede da fábrica, em São Bernardo do Campo (SP). Todas as dívidas trabalhistas serão quitadas em até 17 meses .
Nas últimas semanas, a Karmann Ghia demitiu 135 funcionários na unidade em São Bernardo. Diante do cenário de crise vivenciada há alguns anos e as dificuldades em honrar o pagamento de salários e benefícios, os ex-trabalhadores temiam não receber os valores devidos após a demissão.
Na manhã desta quarta-feira, os 350 funcionários cruzaram os braços em solidariedade aos demitidos. Por volta das 8h os representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e uma comissão dos ex-funcionários estiveram reunidos com a empresa para discutir as dívidas trabalhistas. A negociação abordou os pagamentos atrasados de férias, parte da segunda parcela do 13° salário, verbas rescisórias dos demitidos e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) não depositado há mais de três anos.
“Chegamos a um acordo e que foi aprovado pelos ex-trabalhadores. A empresa atravessa dificuldades há anos. A Karmann Ghia atua na área de ferramentaria, setor que está entre os que mais sofreram com a concorrência dos importados. Com o novo regime automotivo – Inovar Auto- exigindo ferramental e moldes feitos no Brasil, a perspectiva é a empresa sair dessa situação. E já demonstra conquistar novos clientes, por isso acredito que honre com o acordo firmado”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques.
Conforme o sindicalista, o acordo prevê o pagamento de todas dívidas trabalhistas quitadas entre 7 e 17 meses e o convênio médico é valido até o último pagamento. “A indenização será feita por repasse mensal de 80% do salário bruto de cada funcionário, pago sempre no dia 25 de cada mês. Apenas em março que recebem duas parcelas, uma dia 10 e outra dia 25”, disse Marques.
No acordo também está previsto as máquinas no valor de R$ 5 milhões como garantia do pagamento, quantia semelhante ao total da dívida trabalhista. A empresa se comprometeu a rever 20 demissões. “As pessoas que tiverem interesse em voltar, poderão ocupar uma das 20 vagas”, explicou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Ao ABCD Maior a empresa apenas confirmou o acordo e considerou positivo para ambas as partes.
Cenário
Para o presidente do sindicato, Rafael Marques, esta é a pior fase que a indústria de autopeças enfrenta. “O setor automotivo passa por dificuldades desde o ano passado e as fábricas de ferramentaria sentem primeiro os efeitos, mas precisamos manter a luta e cobrar transparência da empresa”, afirmou.
De acordo com dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), as exportações de automóveis, caminhões e ônibus recuaram 27,9% em janeiro, em relação ao mesmo período do ano passado, com total de 16.302 unidades comercializadas para outros países.
Com essa queda na demanda externa, o ritmo de produção também cai e o mercado interno também sente os reflexos. Com a retomada do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) desde janeiro, as queda nas vendas no setor automotivo foi acentuada. Em janeiro foram licenciadas 253.803 unidades, o que representa 18,8% a menos em relação ao mesmo mês do ano passado.