Adiamento da votação do projeto Escola Sem Partido é comemorado por professores
Mobilização de professores e estudantes contra a chamada Lei da Mordaça foi decisiva para o projeto não ser votado. Texto havia sido modificado às vésperas da votação ampliando a censura
Publicado: 31 Outubro, 2018 - 19h58 | Última modificação: 31 Outubro, 2018 - 20h30
Escrito por: Redação CUT
A tentativa de cercear o direito de cátedra dos professores das escolas públicas, além de banir o senso crítico no ambiente escolar por meio da aprovação Lei da Mordaça, foi por água abaixo graças à mobilização de professores e estudantes dentro e fora da Câmara dos Deputados.
A sessão da Comissão Especial da Câmara que planejava votar, nesta quarta-feira (31), o Projeto de Lei 7180/14, conhecido como Escola Sem Partido, uma das principais bandeiras do presidente eleito Jair Bolsonaro, foi adiada para a próxima semana.
O presidente da comissão, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), justificou o adiamento devido ao início da ordem do dia no plenário da Câmara. Ele não especificou em qual dia da próxima semana deve ocorrer a nova sessão para votação do projeto. "Nós estamos com ordem de ir ao plenário, portanto não há como prosseguir na matéria nesse momento", se limitou a dizer o parlamentar.
O adiamento da sessão foi comemorado por representantes de sindicatos de professores, da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e do Movimento Educação Democrática, que lotaram o plenário da comissão para protestar contra a proposta.
“Foi muito importante para que possamos ampliar a mobilização. Não vamos permitir que amordacem a nossa educação, tirando do professor o livre direito de manifestação e transformando nossas escolas em algo totalmente inaceitável para um Estado democrático de direito”, disse o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).
Às vésperas da votação, o texto que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) sofreu modificações e ampliou ainda mais a censura. A matéria atualizada manteve a proibição dos termos “gênero” e “orientação sexual”, bem como a promoção do que o projeto denomina “ideologia de gênero” e “preferência política e partidária”. Além disso, esses temas, que pela proposta anterior poderiam ser utilizados em materiais didáticos e paradidáticos, estão proibidos em qualquer material que for distribuído nas escolas.
A repressão não para por aí. A nova redação destaca ainda que o poder público não poderá intervir no processo de amadurecimento dos alunos e não permitirá qualquer tipo de doutrinação em se tratando da questão de gênero. Para aguçar a censura e a intimidação ao corpo docente, todas as salas deverão ter fixado em suas paredes um cartaz com “os deveres dos professores”, que dispõe de seis itens.
- Não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para nenhuma corrente política, ideológica ou partidária.
- Não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas.
- Não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará os alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas.
- Ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos alunos, de forma justa, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito.
- Respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.
- Não permitirá que os direitos assegurados nos itens anteriores sejam violados pela ação de terceiros, dentro da sala de aula.
Em relação às Universidades, a medida mantém a autonomia didática e cientifica, como previsto na Constituição. Já para as escolas particulares, o projeto ressalva que essas instituições poderão promover conteúdo de cunho religioso, moral e ideológico, desde que sejam autorizados, em contratos, pelos pais ou responsáveis dos estudantes. Poderão ainda, disponibilizar materiais informativos com enfoque nas questões debatidas em sala de aula.
A censura começou
Após a vitória de Bolsonaro, a deputada estadual eleita em Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo (PSL), deu uma demonstração de como será o governo do novo presidente. Em um post em suas redes sociais, a parlamentar pede que alunos gravem vídeos nas salas de aula para denunciar professores.
Ela solicita que as denúncias sejam enviadas para seu número de celular identificando nome, escola e cidade onde o docente atua. Ana Caroline destaca ainda que o denunciante terá sua identidade preservada.
“Não podemos permitir que tirem das escolas o pensamento crítico. A Lei da Mordaça censura e retira do professor a autonomia em ensinar, além de impedir que os alunos desenvolvam uma reflexão questionadora sobre a sociedade em que vivem”, destacou o secretário-geral da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues.
Com apoio CUT-DF.