Escrito por: Andre Accarini

Agricultores familiares de Feira de Santana/BA inovam para se manter durante a crise

Projeto de venda on-line e entrega em domicílio de produtos da agricultura familiar ajudou agricultores a enfrentarem as dificuldades durante a pandemia, garantindo trabalho e renda

Edmilson Barbosa/CUT-Bahia

Em Feira de Santana, na Bahia, famílias de trabalhadores e trabalhadoras da Agricultura Familiar encontraram uma maneira de sobreviver aos impactos da crise causada pela pandemia do novo coronavírus.

Impossibilitados de comercializar seus produtos nas feiras-livres, eles se organizaram sob orientação do Sindicato de Trabalhadores na Agricultura Familiar de Feira de Santana (Sintraf) e ‘montaram’ um serviço de delivery e ‘drive-thru’ para vender a produção. É a Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Território Portal do Sertão.

Os alimentos produzidos são anunciados por meio de redes-sociais, blogs, mídia local e pelos próprios cidadãos, que não só aprovaram a ideia, como passaram a apoiar a ação de comercialização dos produtos.

Os pedidos são feitos via WhatsApp, com antecedência e podem ser entregues em casa ou ficam à disposição para que o comprador vá buscar, no sistema de drive-thru, em que o cliente não precisa nem sair do carro para receber o que comprou.

Todo o esquema montado respeita as regras de isolamento social recomendadas pelas autoridades sanitárias. Mas a ideia envolve outros propósitos que giram em torno da solidariedade.

A presidenta do Sintraf, Maria Conceição Borges Ferreira, explica que o projeto surgiu após a criação de um comitê solidário cujo o objetivo era arrecadar alimentos e produtos de higiene e limpeza, entre os próprios trabalhadores, para distribuir às famílias mais pobres e a quem perdeu emprego e renda por causa da pandemia, não só de Feira de Santana, mas também dos 17 municípios vizinhos que fazem parte da região.

E foi aí que os trabalhadores tiveram a iniciativa de ‘escoar’ o que produziam. “Nós também estamos em situação crítica, porque produzimos e comercializamos em feiras livres para nosso sustento, mas agora não podemos. E estamos sem renda”, afirma Conceição Borges.

Assim surgiu a ideia de criar uma campanha para fortalecimento da agricultura familiar local. O mote, de acordo com a dirigente é “você adquire um produto de qualidade para sua mesa ao mesmo tempo em que fortalece o setor, a sustentabilidade do campo e ajuda a gerar renda para os trabalhadores”.

O projeto tem cunho ainda mais solidário pelo fato de que as famílias de agricultores familiares abriram mão de cestas básicas que vinham recebendo de programa de assistência social do município, para que pudesse ser doadas às famílias mais carentes,que não têm nenhuma possibilidade de renda.

“As pessoas do centro da cidade, do comercio informal, neste momento, precisam mais da cesta básica distribuído, do que nós, já que agora temos comercializar e ter renda”, afiram Conceição.

 

Adesão da população

A presidenta do Sintraf vê o projeto com otimismo e acredita em uma continuidade pós-pandemia. “O povo têm elogiado nosso trabalho e os nossos produtos, que são de qualidade, orgânicos, sem agrotóxicos. A repercussão foi muito boa”

Ela ainda comenta que ouve elogios como “a gente quer comprar porque ajuda e leva saúde pra casa”.

Por isso, diz Conceição, acredita que no potencial em levar o projeto adiante e fortalecer a agricultura familiar na região. Ela conta que em um primeiro momento o “drive-thru” segue até pelo menos o fim do mês de julho, atpe por causa das festividades juninas e julinas que são tradição no Nordeste brasileiro.

“Esse ano, como não teremos grandes festas e o isolamento continuará por um tempo, ainda teremos os produtos que foram ‘plantados’ para atender às festividades. Esses produtos podem e serão direcionados para as vendas como estamos fazendo”, ela explica.

Mas, depois que passar esse momento, diz Conceição, o sindicato procurará o poder público do município para que seja criado um espaço permanente de comercialização, com foco na agricultura familiar, já que em tempos normais, muito do que se vende nas feiras e mercados vem de outras regiões também.

“Só precisamos de boa vontade do poder público”, reforça Conceição. Ela afirma que a ideia é abranger tanto o município de Feira de Santana, como os 17 vizinhos, na região. “São 80 mil famílias de trabalhadores”, ela diz.

 

Orgulho

Trabalhadores contam que se sentem realizados por fazerem parte desse projeto, em especial pelo propósito solidário. “Orgulhosos por poderem vender, produzir qualidade e a cesta-básica que era pra vir para eles, vai para quem precisa, paras as famílias que não tem essa alternativa”.

Conceição fala sobre trabalhadores informais que sobreviviam de comércio ambulante e agora estão em dificuldades financeiras por não poderem fazer seu trabalho.

Adriana Lima, agricultora familiar, diz que o projeto “é uma oportunidade de colocar o produto no mercado para que as pessoas tenham acesso com qualidade e saúde, produzidos por mãos que sustentam a nação”.