Escrito por: CUT-RS

Agricultores familiares e camponeses do RS cobram medidas urgentes contra estiagem

Estiagem já representa um prejuízo de R$ 6 bilhões, segundo levantamento da Famurs

Fetraf-RS

Os agricultores familiares e camponeses cobram urgência dos governos estadual e federal no anúncio de medidas de combate à estiagem, que já representa um prejuízo de R$ 6 bilhões, segundo levantamento da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).

Uma comitiva da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do RS (Fetraf-RS) participou nesta quarta-feira (8) de uma reunião interministerial do governo Lula, em Brasília, para discutir ações para auxiliar as famílias atingidas pela seca.

O encontro foi uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e contou com a presença do ministro Paulo Teixeira.

Os ministros Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária (Mapa), e Waldez Góes, da Integração e Desenvolvimento Regional (MDR), e o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, também participaram. Além deles, compareceram senadores, deputados e representantes da Defesa Civil, além de entidades do campo.

Agricultor descapitalizado e endividado

A secretária de mulheres da Fetraf-RS e secretária-geral adjunta da CUT-RS, Cleonice Back, ressaltou a pauta dos agricultores familiares entregue ao governo em janeiro, destacando a importância de ações concretas, como abastecimento de água, liberação de milho subsidiado via Conab e disponibilização de Crédito Emergencial de R$ 20 mil, além da constituição de políticas estruturantes que visem mitigar os efeitos da estiagem.

“É importante frisar que para agravar essa situação, como é o terceiro ano consecutivo de estiagem, se tem uma descapitalização e um endividamento desses agricultores. O que agrava esse cenário. Por isso, a gente precisa de medidas emergenciais por parte dos governos federal e estadual”, afirmou Cleonice, apontando que a demora na tomada de medidas agrava ainda mais a situação.

O ministro Paulo Teixeira disse que o tema está na pauta do Governo Federal e que o MDA está buscando alternativas, sobretudo de ordem financeira junto ao Ministério da Fazenda, para a criação de políticas públicas para os agricultores familiares. Ele também indicou que nos próximos dias deverá estar fazendo uma visita ao Estado para acompanhar a situação.

A partir da reunião foi constituído um grupo interministerial, formado por MDA, Mapa, MDR, Fazenda e Casa Civil, para trabalhar nas ações que devem ser anunciadas com o objetivo de amenizar os impactos da falta de chuva no estado.

Terceiro ano consecutivo de estiagem

A seca já é uma realidade em 269 municípios, cujos prefeitos já decretaram situação de emergência no RS, segundo a Defesa Civil do RS. Isso representa mais de 50% das 497 cidades gaúchas.

Há três anos consecutivos isso se repete e os agricultores familiares e camponeses acumulam prejuízos. Nesse ano, 70% da safra do milho está comprometida.

As consequências também são sentidas na área urbana. A queda da produção encarece os preços dos alimentos nos mercados. Além disso, várias cidades estão sofrendo racionamento de água. Em Bagé, os moradores ficam 12 horas por dia sem água nas torneiras.

“Um dos grandes problemas é a falta de água para consumo humano e animal. Nós temos muitas propriedades rurais no estado com escassez de água que já dependem de abastecimento de caminhão pipa. Na regiões de Uruguaiana e Bagé, nós já temos imagens de gado morrendo de fome e sede”, contou Cleonice.

“O quadro geral da estiagem é crítico. Temos 156 municípios em situação de emergência já homologada pelo governo estadual e 128 municípios confirmados pelo governo federal. E esse número ainda deve crescer. Na nossa avaliação, deve chegar perto dos 300 ou mais, se a seca ainda persistir”, salientou o coordenador-geral da Fetraf-RS, Douglas Cenci.

As previsões indicam normalidade só para março. “Ainda temos mais 30 dias de falta de chuva, o que compromete quase toda a safra de verão. A situação é bem complicada. Tem perdas muito significativas na cultura do milho, mas também agora, conforme a estiagem vai se prolongando, na cultura da soja, que está em fase de desenvolvimento”, observou Douglas.

“Tem perdas significativas na produção de leite e também no gado de corte por conta da redução do crescimento das pastagens e também da falta de água para os animais”, alertou o dirigente sindical.

Falta política permanente de combate à estiagem

Desde janeiro, os agricultores familiares e camponeses estão realizando reuniões com os representantes dos governos federal e estadual. “Nós estamos dialogando. A Fetraf-RS foi para Brasília e já teve mais uma reunião on-line com o governo federal. Com o governo do estado, nós tivemos três reuniões presenciais e apontamos várias medidas”, disse Douglas.

As medidas são fundamentais para que o agricultor tenha condições de sobreviver. “Uma delas é em relação ao abastecimento imediato de água, para que o estado e o governo federal possam auxiliar os municípios no atendimento ao agricultor. Além disso, que possa liberar uma cesta básica para os agricultores que têm mais dificuldades”, pontuou.

A Fetraf-RS apresentou uma pauta de demandas para os governos federal e estadual. “Nós trabalhamos na linha de liberar um crédito emergencial tanto em nível de estado quanto em nível federal, para que os agricultores tenham recursos para comprar alimentação para os animais e para pagar os débitos nas agropecuárias”.

Cleonice apontou que é necessária uma política permanente de combate à seca. “São de suma importância medidas estruturantes, para que de fato os agricultores se preparem para conviver com futuras estiagens. Nós sabemos que vamos enfrentar outras secas. E nós precisamos de políticas públicas”, argumentou.

A pauta apresentada aos representantes dos governos federal e estadual aponta que o acúmulo dos três anos de estiagem “tem feito com que os agricultores tenham dificuldades para honrar suas dívidas, produzir e/ou comprar a sua própria alimentação e os bens de consumo necessários”.

O documento aponta que, “para mudar esse cenário e avançar no desenvolvimento rural, é preciso que o estado esteja presente, contribuindo com a manutenção dos agricultores familiares e permitindo que estes continuem a produzir alimentos”.

Clique aqui para acessar o documento da Fetraf-RS.

“A situação é muito preocupante e, segundo as informações meteorológicas, a previsão é de chuvas muito isoladas, em pequenas quantidades. Então, não se tem uma expectativa de resolver um dos maiores problemas que é a falta de água para o consumo humano e animal. Mais uma vez, a gente vê essa realidade no campo e enxerga a tristeza dos agricultores familiares e camponeses frente a essa situação, que requer medidas urgentes das autoridades”, avaliou Cleonice.

Com informações da Fetraf-RS, Brasil de Fato, Sul21 e G1.