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Agronegócio concentra as maiores taxas de suicídio entre trabalhadores

Entre 2007 e 2015, casos de trabalhadores da agropecuária que tiraram a própria vida cresceu o dobro da média nacional. Exposição aos agrotóxicos é considerada a principal causa

Publicado: 02 Setembro, 2019 - 08h47

Escrito por: Cida de Oliveira, da RBA

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agronegócio é o setor econômico que concentra as maiores taxas de suicídio entre trabalhadores. De 2007 a 2015 foram registrados 77.373 suicídios, cerca de 8.597 por ano. Corresponde a uma mortalidade anual de 8,9 por 100.000 indivíduos em 2007, e de 10,5 em 2015. O dado consta da edição de agosto do Boletim Epidemiológico do Centro Colaborador da Vigilância dos Agravos à Saúde do Trabalhador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Segundo os autores do artigo, a perda do emprego e o desemprego prolongado levam ao desalento, à depressão e outros transtornos, que por sua vez levam a pessoa a tirar a própria vida. Além disso, condições de trabalho e emprego específicas, que levam ao  estresse psicológico no trabalho, como violência e assédio, ou mesmo o contato com substâncias químicas que produzem alterações endócrinas no funcionamento neuroquímico, podem também desencadear transtornos mentais ou neurológicos que evoluem para o suicídio.

Segundo o Boletim, o suicídio é menos frequente em homens e mulheres na faixa etária a partir dos 25 anos até 36-45 anos. E maior entre aqueles com maior idade. No entanto, é mais comum entre as trabalhadoras mais jovens, que nem chegaram aos 25.

Ainda não há um consenso sobre as causas desse fenômeno complexo e multifatorial, que afeta de maneira perversa também os amigos e familiares. Do que se sabe atualmente, entre as explicações estão  a baixa renda, a instabilidade no emprego, pressão por produtividade, acesso limitado à educação e aos serviços de saúde de qualidade.

Agrotóxicos

No entanto, resultados de diversos estudos sugerem que a exposição a substâncias químicas, presentes nos agrotóxicos, pode ser uma causa importante. Muitas delas, por sua ação no sistema nervoso central ou desreguladora do sistema endocrinológico, estão associadas ao aparecimento da depressão, ansiedade e doenças neurodegenerativas, entre outros transtornos mentais causadores do suicídio.

“É necessário mencionar que algumas ocupações, ao facilitar o acesso a venenos que podem ser letais, permitem circunstâncias favorecedoras do suicídio”, destacam os autores do Boletim.

A associação entre trabalho na agropecuária e suicídio não é exclusiva do Brasil. Em várias regiões do mundo, estudos confirmam essa relação. É o caso de uma comparação entre todas as pesquisas de alta qualidade publicada em 2018 por pesquisadores do Instituto de Pesquisa em Saúde, Ambiente e Trabalho da Universidade Rennes 1, da França.

A proteção da exposição a agrotóxicos, como exercício do princípio da precaução, é recomendada por estudiosos, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelas Nações Unidas (ONU), que recomendam a eliminação do uso dessas substâncias e a transição para práticas agroecológicas, fundamentadas na sustentabilidade.

“A mortalidade por suicídio em trabalhadores da agropecuária foi estimada em 16,6 x 100.000 em 2007, aumentou para 18,6 em 2011 e saltou 20,5 em 2015. Isso representa o dobro da média nacional em cada ano. Em comparação, trabalhadores da indústria tiveram 10,8, 11,8 e 14,2 x 100.000 em cada ano, valores mais próximos das estimativas nacionais, com cerca de 20% de diferença. É a expressão do genocídio do agronegócio”, afirma a médica Raquel Rigotto, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde.