Escrito por: Leonardo Severo
Ativistas condenam armação contra os sem-terra e a reforma agrária
Jalil Rachid, promotor de Curuguaty e atual vice-ministro da Segurança do Paraguai
Em Marina Kue, Curuguaty, morreram 11 camponeses e seis policiais no dia 15 de junho de 2012, matança que levou à destituição do presidente Fernando Lugo apenas uma semana mais tarde. No enorme operativo, 324 policiais armados de fuzis e bombas, com cavalos, escudos e helicópteros teriam sido, segundo a acusação, “emboscados” por 60 camponeses – metade deles mulheres, crianças e idosos. Embora a terra fosse pública e destinada à reforma agrária, os policiais estariam cumprindo uma ordem judicial de “averiguação”, logo transformada em “despejo”. A sangrenta “conflagração” não levou nenhum policial ao banco dos réus.
Sete policiais que estiveram no local já depuseram no processo, das mais de 240 testemunhas convocadas por Rachid. A maioria, denunciam os ativistas, são agentes do Estado, dependentes do Ministério do Interior e do vice-Ministério da Segurança Interna, que a partir de agora será dirigido pelo ex-promotor.
Cony Oviedo, da Articulação por Curuguaty
Para o senador Hugo Richer, da Frente Guasú (de oposição), “Rachid é uma pessoa que goza da confiança da oligarquia latifundiária e de grupos econômicos importantes e de poder, vinculados ao governo do presidente Cartes”. “Foi indicado porque é um homem do sistema, que sabe de muitas coisas”, frisou.
O manifesto da Frente Guasú reforçou o repúdio à indicação de Rachid como “um atropelo à racionalidade mais elementar, assim como aos princípios básicos da ética jurídica”. “A função do senhor Rachid como promotor desta causa esteve e segue estando impregnada de sórdidos mecanismos para forçar a acusação e consequente condenação de um grupo de camponeses vítimas do acontecimento. Desde o começo do vergonhoso e viciado processo, este fiscal não apresentou provas consistentes que pudessem vincular os camponeses aos delitos que lhes são imputados. É clara a intenção de impedir uma investigação profunda que conduza ao esclarecimento dos fatos e, sobretudo, à identificação dos verdadeiros responsáveis pelo massacre de Curuguaty”.
Para a Frente Guasú, a hora é de mobilização e solidariedade com “os camponeses que hoje estão sendo injustamente julgados e denunciar à opinião pública nacional e internacional este flagrante ultraje aos direitos humanos no Paraguai”.
Documento divulgado pela Articulação Curuguaty enfatiza que “Jalil Rachid deixa um roteiro bem dirigido para a injusta condenação de camponeses e camponesas, armado e desenvolvido em conivência com testemunhos de policiais e juízes”. “Rachid não levou em conta a morte de 11 camponeses, muitos deles por execução extrajudicial, nem as torturas que sofreram, que constituem uma aberta violação aos direitos humanos”, frisou.
Já o presidente Horacio Cartes, o principal beneficiário do golpe contra Lugo, disse que lhe “honra” a nomeação, pois tem de Jalil Rachid “o melhor dos conceitos”. Além de ser filho de Bader Rachid, ex-presidente do Partido Colorado, do ditador Alfredo Stroessner (que submeteu o país de 1954 a 1989 aos interesses estadunidenses), Jalil Rachid é sobrinho da assessora de Assuntos Internacionais da presidência, Leila Rachid, e mantém fortes vínculos com a família de Blas Riquelme, dirigente colorado durante a ditadura.