Alta dos combustíveis garante lucros bilionários aos acionistas da Petrobras
Economista Cloviomar Cararine (Dieese-FUP) destaca os impactos negativos do atrelamento dos preços dos combustíveis ao mercado internacional
Publicado: 29 Outubro, 2021 - 13h06 | Última modificação: 29 Outubro, 2021 - 13h25
Escrito por: Redação CUT
Adotada depois do golpe de 2016, que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, pelo ilegítimo e golpista Michel Temer (MDB-SP) e mantida pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), a política de Preço de Paridade Internacional (PPI) da Petrobras, atrelada ao valor internacional do petróleo e a cotação do dólar, completa cinco anos com muitos benefícios para os acionistas e prejuízos para o povo brasileiro.
Só este ano, o preço da gasolina foi reajustado 15 vezes, acumulando alta de 74%; e o do diesel foi reajustado 12 reajustes - alta acumulada de 64,7%, impactando fortemente os índices da inflação, aumentando a miséria e levando os mais pobres a disputar carcaça de peixe, ossos e até comida no lixo.
Leia mais: Combustíveis e energia pressionam inflação e prévia de outubro é a maior em 26 anos
Já os acionistas não têm do que reclamar. No balanço divulgado nesta quinta-feira (29), a Petrobras registrou lucro de R$ 31,1 bilhões terceiro trimestre de 2021. A estatal anunciou o pagamento antecipado de R$ 31,8 bilhões em dividendos aos investidores.
Para privilegiar os investidores, a Petrobras tem reduzido investimentos e realizado a venda fatiada de ativos, de acordo com o economista Cloviomar Cararine, técnico da subseção do Dieese na Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT).
Este ano, o processo de privatização já atingiu a BR Distribuidora e os setores de gasoduto e fertilizantes. Além disso, duas refinarias – no Amazonas e na Bahia – também foram vendidas à iniciativa privada. Esses três pilares – o preço internacional, o desinvestimento e as privatizações – colocam em xeque o papel da Petrobras como uma empresa estatal, segundo Cararine.
“Uma empresa pública deve reduzir seus investimentos, vender seu patrimônio e praticar preços abusivos em relação aos seus derivados? Ou deve fazer o contrário disso?”, questiona o economista, em entrevista a Glauco Faria, para oJornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (29).
Contradições
O técnico do Dieese destaca que, após a descoberta do pré-sal, o país se tornou o 9º maior produtor mundial de petróleo, mesma posição ocupada no ranking mundial de refino. Possui ainda uma das dez maiores reservas petrolíferas. E oscila entre a 7ª e 8ª posições entre os maiores mercados consumidores de combustíveis. Ainda assim, a Petrobras se comporta como se fosse dependente das importações.
O PPI, segundo Cararine, também tem como objetivo ampliar a participação do capital privado, nacional e internacional, no mercado de exploração de petróleo e produção de derivados. Contudo, o mercado foi aberto ainda em 1997. Ainda assim, mesmo após cinco anos do atrelamento aos preços internacionais, a participação privada ainda é reduzida, e 93% da produção continua concentrada nas mãos da Petrobras.
Impactos
Cararine atribuiu ao PPI parcela significativa da inflação que vem corroendo o poder de compra dos brasileiros. Isso porque a esmagadora maioria da produção é transportada por caminhões. Assim, a alta do diesel tem impacto direto no preço dos alimentos, por exemplo. Além disso, a privatização da Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), no Paraná, bem como o fechamento de outras plantas, tem resultado na redução da produção desses insumos.
Assim, o agronegócio se tornou mais dependente da importação de fertilizantes, pagando também preços cotados em dólar. Até mesmo a produção de cana-de-açúcar foi prejudicada, segundo ele. Com insumos mais caros e produção reduzida, o preço do etanol subiu ainda mais do que a gasolina e o diesel. Como, o etanol também é misturado na gasolina, é mais um fator que contribui para a elevação dos preços.
Além disso, o técnico destaca que a Petrobras tem ficado para trás na questão da transição energética. Outras petrolíferas mundiais têm atuado para reduzir a dependência do petróleo, apostando em outras fontes de energia – eólica, solar, biomassa. Essas empresas têm inclusive sofrido pressões dos governos europeus e norte-americano na busca por fontes sustentáveis de energia, de forma a mitigar o aquecimento global. “Mas a Petrobras não está fazendo isso, por conta dessa estratégia de oferecer o maior lucro possível no curto prazo aos acionistas”, ressaltou.
Assista à entrevista
Com apoio da RBA.