Escrito por: Redação CUT

Alvo de duas investigações no STF, Ricardo Salles pede demissão

Exoneração do agora ex-ministro do Meio Ambiente foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União

Edson Rimonatto/CUT

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de duas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) - uma que apura exportação de madeira ilegal aos Estados Unidos e à Europa e outra ação para prejudicar a investigação -, pediu demissão na tarde desta quarta-feira (23).

O presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), que manteve apoio a Salles, apesar de ações contra o então ministro no STF, nomeou Joaquim Álvaro Pereira Leite como novo ministro do Meio Ambiente. Não se sabe se apenas interinamente.

A exoneração foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União e informa que foi a pedido de Salles.

Os movimentos sindical e social pressionaram pela saída de Salles por causa da sua atuação predadora, sempre contra a proteção ambiental, escancarada quando ele disse na reunião ministerial realizada em 22 de abril de 2020, que era o momento de 'passar a boiada', se referindo ao fato de que o foco da imprensa era a pandemia do novo coronavírus e, portanto, o momento certo para mudar 'todo o regramento', particularmente via pareceres do ministério, lembra o secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio. 

Mas, a queda de Salles, diz o dirigente, não significa que o Brasil vai voltar a proteger o meio ambiente. Para ele, enquanto Bolsonaro for presidente, nada mudará.

"Mesmo com a queda, ou fuga, de Salles, o ruralismo desmatador, apoiador de Bolsonaro, segue à frente do ministério que seguirá operando esquemas de destruição ambiental e perseguições a servidores e defensores do meio ambiente. A saída é 'Fora, Bolsonaro' e toda essa quadrilha genocida", afirma Daniel Gaio.

As ações contra Salles

Um dos inquéritos contra Salles, autorizado pela ministra Cármen Lúcia, apura a suposta tentativa do agora ex-ministro de prejudicar uma investigação sobre a maior apreensão de madeira ilegal da história.

Outro inquérito, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes,  investiga se Salles faciliou a exportação de madeira ilegal aos Estados Unidos e à Europa.

Segundo a Polícia Federal, Salles teria atuado para afrouxar o controle do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre a exportação de madeira. Ele teria, inclusive, se reunido em março do ano passado com um grupo de madeireiros no Pará que vinham tendo cargas de madeira retidas em portos no exterior por falta da autorização do Ibama.

Moraes autorizou uma operação da PF em endereços ligados a Salles após suspeitas de que ele teria realizado operações financeiras irregulares, identificadas pelo Conselselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O Coaf diz que o escritório de advocacia de Ricardo Salles realizou uma operação financeira suspeita de R$ 1,799 milhão após ele assumir a pasta do Meio Ambiente. Essa transação financeira, de acordo com o órgão de combate à lavagem de dinheiro, teria ocorrido entre outubro de 2019 e abril de 2020.

A Operação Akuanduba executou buscas e apreensões nos endereços de Salles e de outros 21 investigados, entre servidores do ministério, dirigentes do  Ibama e empresários do ramo madeireiro.

Leia mais: Para PF, escritório de advocacia de Salles era apenas fachada para receber pagamentos indevidos

STF e Ministério Público de SP fecham cerco a Salles

Salles é acusado de três crimes

Salles precisa explicar à Justiça contrabando e R$ 14 milhões ‘suspeitos’ na conta