Escrito por: Andre Accarini
Dirigido por Anna Muylaert e Lô Politi, filme estreou em cinemas e plataformas digitais e mostra a rotina de Dilma no Palácio da Alvorada nos últimos momentos como presidente, durante o processo de impeachment
As curtas, mas consistentes falas de uma mulher que enfrentou na carne e na alma os horrores da ditadura miitar e chegou à presidência da República como mérito por sua história de luta por justiça social, mostram em “Alvorada’, filme de Anna Muylaert e Lô Politi, o lado humano de Dilma Rousseff, em sua cruzada final por democracia.
O filme estreou nos cinemas e em plataformas digitais nesta terça-feira (27).
O ano é o do golpe, 2016, um tempo daqueles que a gente pode dizer “me lembro como se fosse ontem”, dada a cicatriz deixada em milhões de brasileiros e brasileiras. É uma mancha na história do país que dificilmente será esquecida. E Alvorada se propõe a isso, mas sob o olhar de Dilma Rousseff.
A história é contada de forma subejtiva mostrando momentos do cotidiano da ex-presidenta, dentro da residência oficial de presidentes – o Palácio da Alvorada – durante o período em que ficou afastada do cargo, aguardando o julgamento do processo de impeachment contra ela.
Entre reuniões com seus ministros, entrevistas à imprensa internacional e encontros com movimentos sociais, Dilma até que tenta incorporar a personagem da vida real – de si mesma– mas não consegue. E admite. “Você não é personagem o tempo inteiro”.
Mas o que críticos poderiam apontar como uma lacuna no filme, se torna o elemento principal que atesta a credibilidade de Dilma. Ela é autêntica. Construiu sua imagem de política abrindo seu coração e sua alma, com sua personalidade forte. Simples assim. No fim do filme, o espectador se convence: “essa é a Dilma que eu conheço e ninguém tentou fazer dela uma caricatura”.
Ao longo dos 80 minutos de imagens pontuais, o filme ainda retrata a rotina dos assessores e amigos que acompanharam Dilma nesses dias fatídicos. Funciona como costura ou como elos de ligação para que seja possível se situar na história, para se lembrar da cronologia dos fatos.
Às vezes firme, às vezes sorridente, às vezes incomodada com a presença das câmeras, Dilma deixa claro no próprio filme que prefere que o público tenha uma visão do que foram os fatos pelo lado da vítima e não que seja um enredo sobre a sua vida pessoal.
Mas é impossível, neste caso, não ligar o nome à pessoa, no caso a então presidenta da República à figura humana de Dilma Rousseff. O requinte de sua inteligência é sutilmente apresentado ao público quando ela cita obras clássicas para falar de assuntos como Deus, o diabo, meditação, o bem e o mal, passeando por política e história.
É um deleite ouvir tão culta personalidade no cargo mais alto do país dando um banho de elegância. E é impossível não comparar com a figura que ocupa o Planalto atualmente, com suas falas grosseiras, sem consistência, recheadas de ignorância - sem um mínimo de conhecimento.
O filme termina mostrando o julgamento de Dilma Rousseff, a expectativa da equipe sobre o resultado e a óbvia tristeza daquelea que a acompanharam até os últimos dias no Alvorada.
Além de mostrar todo um contexto histórico do golpe, o filme deixa ainda a expectativa de não errarmos novamente. E isso fica claro já desde o começo, quando se ouve a voz do atual mandatário com a excrecência de seu discurso na Câmara no dia da votação do impeachment, fazendo apologia a torturadores e cravando um punhal no coração da democracia brasileira.