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Amapá reforça solidariedade aos presos políticos do Paraguai

Congresso dos Urbanitários lança livro sobre Curuguaty

Publicado: 28 Março, 2017 - 14h31 | Última modificação: 28 Março, 2017 - 14h48

Escrito por: SRI-CUT

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O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado do Amapá (Stiuap) reforçará nesta semana a solidariedade cutista aos camponeses de Curuguaty, no Paraguai, lideranças que se encontram presas pagando por um crime que não cometeram.

Para ampliar a voz em defesa da justiça, o Stiuap lançará na próxima quinta-feira (30), às 19 horas,o livro “Curuguaty, carnificina para um golpe – o povo paraguaio em luta pela verdade e a justiça”, do jornalista Leonardo Severo, assessor da CUT Nacional e observador internacional. O evento ocorrerá na sede da entidade em Macapá, na rua Rio Macacoary, 16.

HISTÓRIA - No massacre ocorrido em Curuguaty, no dia 11 de junho de 2012, morreram 17 pessoas, 11 camponeses e seis policiais, destacou Rogério Pantoja, líder urbanitário e dirigente da CUT Nacional, frisando que “responsabilizado pelos grandes conglomerados de comunicação e pelo parlamento, apenas uma semana depois o presidente Fernando Lugo foi deposto”. “Foi tudo uma campanha montada para favorecer os latifundiários e as transnacionais do agronegócio, que conseguiram rapidamente afastar um presidente constitucionalmente eleito”. De acordo com o último censo, apenas 2,5% dos proprietários concentram 86,5% das terras paraguaias, o que confere a uma pequena oligarquia um poder econômico e político desproporcional.

 “Como observador internacional, Leonardo Severo acompanhou de perto o processo de Curuguaty, presença que lhe possibilitou desnudar como uma farsa jurídico-midiática serviu de combustível ao golpe contra o golpe Lugo”, sublinha o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), que faz a apresentação do livro.

Para o escritor, “é completamente absurdo pensar que 60 camponeses, metade deles mulheres, crianças e idosos, pudessem fazer frente a 324 policiais fortemente armados com fuzis Galil, escudos, cavalos, bombas e helicóptero”. Leonardo Severo também condenou o absurdo que alguém vinculado à família de Blas Riquelme – ex-presidente do Partido Colorado, de Alfredo Stroessner (ditador de 1954 a 1989) – pretensa proprietária das terras tenha sido o promotor do caso. “Seu nome é Jalil Rachid, seu pai também foi presidente do Partido Colorado, tem relações de amizade com os Riquelme e, agora, pela postura raivosa contra os camponeses e sua aversão à reforma agrária foi nomeado pelo atual presidente, Horacio Cartes, para ser o vice-ministro da Segurança”, frisou.

Neste momento os advogados dos camponeses estão aguardando a apelação, porque o Tribunal de Sentença, presidido por um juiz completamente favorável aos latifundiários,  considerou o líder do movimento, Rubén Villalba, culpado por associação criminosa, invasão de imóvel alheio, homicídio doloso agravado e tentativa de homicídio. Assim, Ruben foi condenado a 30 anos de prisão com mais cinco anos por ‘medida de segurança’..Já Luis Olmedo, Arnaldo Quintana e Néstor Castro Benítez, também considerados culpados por homicídio doloso, invasão de imóvel alheio e associação criminosa, foram condenados a 20 , 18 e 18 anos de prisão, respectivamente.

DESMONTANDO CURUGUATY - Produzido pelo Serviço de Justiça e Paz do Paraguai (Serpaj), o documentário de 20 minutos traz elementos imprescindíveis para compreender o grau de manipulação a que a opinião pública vem sendo submetida. Vamos aos fatos:

1. As terras fazem parte da empresa Finca 30, da Industrial Paraguaya SA, que em agosto de 2007 doou dois mil hectares para a Armada Paraguaia. Até hoje seguem inscritas como se fossem da Industrial Paraguaya, sem que a Justiça tenha se manifestado sobre de quem é a propriedade, reivindicada para fins de reforma agrária. É uma terra pública, portanto jamais poderia ter sido objeto de uma ação privada de despejo.

2. A versão de que os camponeses teriam preparado uma “emboscada”, divulgada pelo promotor Jalil Rachid, é completamente fantasiosa. Como disse o advogado Vicente Morales, “camponeses com seus filhos e mulheres emboscarem 324 policiais com helicópteros, metralhadoras, coletes, capacetes, escudos e granadas me parece absurdo”.

3. Um helicóptero sobrevoou desde cedo o acampamento filmando e tirando fotos. Conforme gravação do comissário Roque Fleitas, chefe da Agrupação Aeroespacial, a aeronave estava equipada com sofisticada tecnologia e gravava todos os detalhes da operação. Ao mesmo tempo em que filmava, o helicóptero transmitia automaticamente para uma base de dados da polícia. A filmagem nunca apareceu. Semanas depois, o fiscal Rachid disse que o equipamento não estava funcionando. Semanas antes de depor, o piloto morre em um “acidente” aéreo.

4. Armada em situação de ataque, inclusive com fuzis automáticos, a polícia invade em duas colunas. Os camponeses ficam cercados. Se escutam inicialmente tiros isolados e, logo depois, nove segundos de rajadas de tiros de armas semi-automáticas que, segundo admitiu o próprio promotor, não foram encontradas com os camponeses.

5. Entre as “escandalosas irregularidades” apontadas pelos advogados estão as escopetas velhas e até uma arma de ar comprimido que não foram utilizadas, além de foices e facões. Entre o pacote de falsificações está o fato de que muitas coisas mudaram de lugar entre uma foto e outra, sempre para incriminar os camponeses, vários deles já mortos. No dia 25 de junho foi incorporada como “evidência” uma escopeta calibre 12 achada próxima a Curuguaty e que, segundo o próprio dono, havia sido roubada no dia 22 de junho. Ou seja, uma arma pretensamente usada pelos camponeses jamais esteve com eles.

6. O promotor notifica a defesa no dia 16 de outubro de 2012 para que participe de uma “perícia fundamental” para o processo. Detalhe: dita “perícia” havia ocorrido quatro dias antes, no dia 12 de outubro.

7. “Não há conexão entre as supostas armas que dispararam com as balas que encontraram dentro dos corpos. Este nexo causal não existe”, enfatiza o advogado Vicente Morales. “O fiscal monta um cenário e sustenta uma tese onde a polícia é simplesmente vítima de um ataque”, concluiu.