Escrito por: Andre Accarini

Ameaça de morte à liderança sindical rural do PA mobiliza entidades e parlamentares

Eleita para a vice-presidência da Fetagri-PA em março de 2021, Gislaine Soares sofre ameaças anônimas e já teve sua casa alvejada por tiros. Entidades denunciam a violência e pedem providências das autoridades

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Diretoria da Fetagri-PA

Vítima de ameaças de morte anônimas, Gislaine Sousa Soares, vice-presidenta da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará (Fetagri-PA), passou por momentos de horror no dia 21 de junho, quando sofreu um atentado à tiros, disparados contra sua residência, em Ourilândia do Norte, cidade do interior do estado, situada a 940km de Belém.

De acordo com as mensagens recebidas por meio do WhatsApp, a pressão sofrida pela sindicalista, que também é secretária de Juventude da Fetagri-PA, é para que abandone os cargos que ocupa na entidade. Ela sofre ameaças desde que assumiu o cargo de vice, em março deste ano.

Uma das mensagens encaminhada na semana passada, teve o teor de ‘ultimato’ para ela deixar o comando da Fetagri até a sexta-feira (6), sob risco de ser assassinada.

Apesar de as denúncias terem começado em março deste ano, a Polícia Civil passou a investigar o caso somente no dia 30 de junho. A Fetagri-PA e outras entidades, assim como os órgãos competentes, trabalham para garantir a segurança e a integridade física e psicológica de Gislaine e sua família.

Gislaine, por questões de segurança, não concede entrevistas por enquanto. A Secretária-Geral da CUT, Carmen Foro, também filiada à federação está acompanhando o caso e prestou a solidariedade e o apoio da Central à Gislaine.

“Temos que denunciar, tornar pública essa situação de extrema violência pela qual nós, dos movimentos populares, mais ainda nós do campo, estamos sofrendo”, diz Carmen.

Para a Secretária-Geral da CUT, o fato de Gislaine ser mulher, jovem e engajada na luta por direitos, por dignidade e uma vida digna para os trabalhadores do campo, mexe com o “brio machista” de opositores, latifundiários e seus comparsas, que querem neutralizar a atuação da sindicalista.

“A violência no campo sempre existiu, mas nos últimos tempos, depois do golpe contra Dilma Rousseff e agora com esse governo genocida que incentiva a violência contra as populações mais vulneráveis, os casos têm aumentado muito”, diz Carmen se referindo ao presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), que tem em sua base de apoio parlamentares e eleitores ligados ao Agronegócio.

Violência no campo

Em maio deste ano, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou o relatório Conflitos no Campo Brasil – 2020. Os dados mostram que o ano passado registrou o maior número de conflitos por terra, invasões de territórios e assassinatos em conflitos pela água já registrados pela CPT desde 1985. Foram 2.054, somente em 2020, envolvendo quase 1 milhão de pessoas.

Desse total, 1.576 ocorrências são referentes a conflitos por terra, o que equivale a uma média diária de 4,31 conflitos por terra, totalizando 171.625 famílias brasileiras, em um contexto de grave pandemia.

Apoio e denúncia

Em nota assinada em conjunto com outras entidades como a CUT e a Contag, a Fetagri, denuncia a situação e ressalta a defesa e proteção da vida da sindicalista.

“Disposição de não se intimidar e nem se acovardar diante deste tipo de práticas que só contribuem para tonar ainda mais violento e nebuloso o cenário que nos cerca", diz trecho do texto.

"Vem acompanhando efetivamente a situação, cobrando da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social as providências necessárias no intuito de preservar a integridade física e a vida da vítima, assim como, a inclusão da mesma no Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos no Estado do Pará, através da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos no Estado do Pará, como forma de proteção e garantia de permanência da mesma em suas atividades, uma vez que a Fetagri/PA é membro do Conselho Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos", diz a nota.

Leia a integra da nota da Fetagri

O senador Paulo Rocha (PT/PA) também manifestou indignação contra a violência sofrida por Gislaine. Em nota, Paulo Rocha declarou que “apoia a vítima do atentado e fará gestão junto aos órgãos de segurança pública do estado do Pará para a apuração e responsabilização dos mandantes do atentado e das ameaças contra a jovem liderança sindical.

O senador colocou seu mandato à disposição na proteção da integridade física de Gislaine e prestou solidariedade à família.

A Federação Nacional dos Urbanitários, por meio do Coletivo Nacional das Mulheres Urbanitárias (CNMU), também manifestou apoio e solidariedade à líder rural.

“O caso de Gislaine reflete a triste realidade que muitas mulheres têm enfrentado para trabalhar dentro do movimento sindical e invocam a necessidade do engajamento de todos na luta pelo combate a todas as formas de violência e pelo fim das violações de direitos de gênero. Muitos têm sido os relatos de companheiras que sofrem todo tipo de perseguição, pressão psicológica, assédios e desqualificação de nosso trabalho, desde o administrativo até o político”, diz trecho do texto assinado pela entidade.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, deputado Bordalo, também publicou nota de repúdio afirmando que a comissão tomou conhecimento das ameaças "em meados do mês de junho, quando se iniciou a prática delituosa".

 Com apoio do Brasil de Fato

*Edição: Marize Muniz