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Ameaçado, Jean Wyllys abre mão do mandato na Câmara e anuncia saída do Brasil

Deputado federal diz que ligações do clã Bolsonaro com milícias o aterrorizaram: "Quero cuidar de mim e me manter vivo"

Publicado: 24 Janeiro, 2019 - 16h28 | Última modificação: 24 Janeiro, 2019 - 17h51

Escrito por: Redação CUT

Mídia Ninja
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Três vezes eleito para deputado federal pelo PSOL no Rio de Janeiro, Jean Wyllys anunciou na tarde desta quinta-feira (24) que abrirá mão de seu mandato e sairá do país. Ele disse que não tem planos de voltar e que deve se dedicar à vida acadêmica.

Wyllys, que vive desde a execução de Marielle Franco, em março de 2018, sob escolta policial, afirmou que há uma intensificação das ameaças de morte – que já aconteciam mesmo antes do assassinato da vereadora -, segundo o Brasil de Fato.

"Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", afirma Wyllys à Folha de S. Paulo. "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim".

O baiano, radicado no Rio de Janeiro, foi o primeiro parlamentar assumidamente gay a encampar a agenda LGBT+ no Congresso Nacional, o que o tornou alvo da ira de grupos conservadores.

Recentemente, Wyllys venceu um processo por difamação contra o também eleito deputado federal, Alexandre Frota, que o acusou nas redes sociais de defender a pedofilia.

"Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!", declarou, no Twitter.

Em seu lugar, deverá entrar o jornalista e vereador David Miranda, que fez cerca de 15 mil votos – nove mil a menos que Wyllys. Miranda, que se descreve como "preto, favelado e primeiro vereador LGBT do RJ, midialivrista e pela causa animal", terá sua vaga ocupada na Câmara dos Vereadores por Marcos Paulo, também do PSOL.

Para o secretário nacional de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, Jean Wyllys é primeiro exilado político do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL) que, aliás, ao invés de mandar investigar as emeaças que o deputado vem sofrendo, comemorou a saída dele do país em post no Twitter, criticou.

Annyeli Damião Nascimento, Secretária-Adjunta de Cultura, lamentou a perda do "deputado do Psol mais Lulista".

Segundo ela, "um guerreiro que enfrentou por vários anos inúmeras formas de violência na Câmara dos Deputados e que, nas últimas eleições, foi alvo preferencial das fake news de Bolsonaro".

"Agora ele vai atuar na arena internacional denunciando o retrocesso dos direitos individuais e coletivos no Brasil", disse Annyeli.

Defensor da democracia

Durante todo o processo do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff (PT), Jean Wyllys lutou pela democracia, denunciou os golpistas e fez um emocionante discurso no dia da votação do impeachment, “uma farsa sexista, uma eleição indireta conduzida por um ladrão”, disse ele se referendo ao então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que depois foi preso por corrupção.

Jean Wyllys também foi um dos parlamentares que denunciaram a prisão política do ex-presidente Lula, preso desde abril do ano passado na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, depois de um processo fraudulento conduzido pelo ex-juiz Sérgio Moro, que foi recompensado com o cargo de ministro do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL).

Defesa de Lula

No início deste mês, Jean Wyllys enviou o seu livro "Tempo bom, tempo ruim" para Lula e, em resposta, ele recebeu uma carta feita à mão pelo ex-presidente, em que ele agradece o presente e a dedicação do deputado à política e pede oposição ao governo de Bolsonaro:

"Eu estou convencido que temos que consolidar um forte enfrentamento político com o governo, e ao mesmo tempo, tratar de organizar politicamente o nosso povo", escreveu Lula.