MENU

Ao contrário do Brasil, países que combateram a pandemia recuperaram a economia

País perdeu sete posições no ranking mundial que mede a variação do Produto Interno Bruto (PIB). Para economista, Marcio Pochmann, recuperação de apenas 1,2%, embora positiva, pode ser ‘fogo de palha’

Publicado: 03 Junho, 2021 - 08h30 | Última modificação: 03 Junho, 2021 - 11h07

Escrito por: Rosely Rocha

Roberto Parizotti
notice

O crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no primeiro trimestre de 2021, tão comemorado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, é quase nada em comparação com outros países cujos governos combateram a pandemia do coronavírus (Covid-19), com lockdown para impedir a disseminação do vírus e vacinas contra a doença.

E o resultado negativo está comprovado no ranking mundial da Austin Rating, divulgado dia 1º deste mês: o Brasil perdeu sete posições, caindo de 12º para 19º lugar entre 50 países pesquisados.

O Brasil perde, inclusive, para os vizinhos Chile (3,2%) e Colômbia (2,9%), que ficaram em quarto e sétimo lugares respectivamente, no ranking de países que mais obtiveram crescimento no Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos no país, no primeiro trimestre deste ano. O primeiro lugar ficou com a Croácia que cresceu 5,8%.

A Colômbia está na frente do Brasil apesar das manifestações que há quase um mês têm paralisado o país.  A população começou a protestar contra o governo que queria impor uma reforma tributária que atingiria negativamente a classe média e os pobres. O governo voltou atrás, mas o povo não saiu das ruas pedindo políticas públicas efetivas. Mesmo assim, a recuperação do país foi mais do que o dobro da brasileira.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, avalia que o PIB brasileiro cresceu menos por causa do atraso na vacinação e a interrupção por quatro meses do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, que só voltou a ser concedido no mês passado, com valor menor e atingindo menos da metade da população que recebeu até dezembro de 2020.

O economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto Lula, avalia que embora o PIB de 1,2% seja considerado uma recuperação da economia, sem poder de compra da população, sem auxílio emergencial, o consumo pode cair novamente e o país não ter a recuperação que necessita para sair da crise econômica aprofundada pela pandemia.

“O que poderia puxar a demanda é o setor de serviços que corresponde a 73% do PIB brasileiro, mas sem um adicional na renda das famílias, sem investimentos públicos, com tanta restrição no Orçamento da União, sem investimentos privados com recursos do exterior, se torna impossível uma melhor recuperação e o que vemos é um cenário de fechamento de empresas”, diz Pochmann.

O setor de serviços retraiu 0,8%, no primeiro trimestre deste ano comparado com o mesmo período de 2020. As quedas já vinham de outros períodos. No primeiro trimestre de 2020 já havia caído 0,7% comparado com igual trimestre de 2019, e no segundo trimestre de 2020, a queda foi de 10,2%.

Crise só beneficiou os mais ricos

Para Pochmann, a falta de distribuição de renda, sem auxílio emergencial, pode aprofundar ainda mais as desigualdades sociais e de renda. Ele lembra que a riqueza do país não aumentou, mas aumentou o número de ricos que eram responsáveis, em 2019, por 7% do PIB e em 2020 subiu para 15,2%.

Quando a riqueza não aumenta e só aumenta o número de ricos, aprofunda-se o subdesenvolvimento. É na diminuição da renda, do patrimônio de outros, que o número de ricos cresce. É quando o pequeno negócio, a quitanda da esquina, deixa de existir para dar lugar a um grande empreendimento, e se fecha os espaços de distribuição de renda
- Marcio Pochmann

Leia mais: Brasil tem 65 pessoas no ranking dos bilionários, enquanto 19 milhões passam fome  

Causas da recuperação do PIB podem ser temporárias

O presidente do Instituto Lula analisa que antes de comemorar é preciso verificar com maior profundidade as causas desse avanço. Uma delas pode ser que os estoques comprados pelas indústrias e comércio tenham acabado e essa recuperação econômica tenha a ver com a reposição de produtos.

“Se a gente desmembrar  a variação do PIB , veremos que seu desempenho positivo está associado à reposição de estoques feitos pelo setor produtivo. Depois de um longo período sem comprar, já que no ano passado houve retração da demanda, as empresas preferiram esperar que seus estoques fossem consumidos ao longo do ano”, calcula Pochmann.

Outro fator que teve um peso maior na recuperação econômica foram as exportações, que têm 11% de peso na composição do Produto Interno Bruto. Segundo Pochmann, todo início de ano aumentam as exportações em função das colheitas de safras e isto tem sempre um peso maior no índice, que é a soma das riquezas do país.

“De fato houve essa variação positiva surpreendeu porque as previsões de quem acompanha a conjuntura econômica de receita pública, nível de consumo e salários, componentes parciais do PIB, indicavam um comportamento negativo”, diz.  

O dado é positivo, é importante o país recuperar o que foi perdido, mas a dificuldade é saber se de fato é para valer, se foi um movimento de repor estoques, de fôlego ou de fogo de palha, que começa rápido e não tem durabilidade
- Marcio Pochmann

PIB ainda não se recuperou totalmente

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado de 1,2% do PIB no primeiro trimestre está longe do ponto mais alto da série histórica de 3,1%, alcançado durante o governo de Dilma Rousseff (PT), em 2014, na comparação com o mesmo período.

Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostram que o PIB per capita em 2011, no governo Dilma, era de US$ 13,295 bilhões. No ano do golpe,em 2016, sob o governo de Michel Temer (MDB-SP) caiu para US$  8,751 bi e no mês de maio deste ano e na gestão Bolsonaro a queda é impressionante, ficando em 10 anos a menos da metade, com US$ 6,783 bilhões.

Walter Falceta / Construir ResistênciaWalter Falceta / Construir Resistência

 * Edição: Marize Muniz