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Ao invés de contratar médicos, governo vai conceder auxílio-doença sem perícia

Número de médicos peritos é quase 50% menor do que há 14 anos e só reposição do quadro poderia acabar com a fila de 500 mil segurados à espera do benefício

Publicado: 01 Agosto, 2022 - 16h24 | Última modificação: 01 Agosto, 2022 - 16h36

Escrito por: Rosely Rocha | Editado por: Marize Muniz

Agência Brasil /Arquivo
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Ao invés de contratar médicos peritos, o governo de Jair Bolsonaro (PL) quer resolver a fila de espera do INSS com mudança de regras.

O número de trabalhadores e trabalhadoras que tentam conseguir receber auxílio-doença, que agora é chamado de auxílio por incapacidade temporária chegou a 500 mil desde a greve dos peritos médicos de 52 dias, de 30 março a 22 de maio deste ano.

Para tentar diminuir a fila de espera, portaria conjunta do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Ministério do Trabalho e Previdência decidiu que caberá ao trabalhador e à trabalhadora comprovar que seu pedido é legal, por meio da análise de documentos. 

A decisão vale para os segurados que estão esperando pelo procedimento há mais de 30 dias e o pagamento será feito durante três meses. Quem precisa de auxílio devido a acidentes de trabalho não será beneficiado com a medida. Veja abaixo quem tem direito e como proceder.

Todo esse perrengue porque passam os trabalhadores que têm direito ao benefício poderia ser evitado se o governo federal abrisse concurso público para repor os aposentados que deixaram a perícia médica.

Em 2008, no governo de Lula (PT), o número de peritos no país era de 5.138. Quatorze anos depois, em janeiro de 2022, no governo de Jair Bolsonaro, são apenas 2.853 -uma queda de 2.285 (44,5%) no número de médicos, de acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS). Além da diminuição do quadro de peritos, a situação se agrava mais já que a população brasileira aumentou nesse período.

“Para efeito de comparação, a fila de espera em 2008 para qualquer benefício, incluindo o auxílio-doença, era de 381 mil, e o segurado levava 45 dias para receber seu direito. Hoje a fila chega a 1,7 milhão com espera que vai de 45 dias a um ano”, conta o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Remígio Todeschini.

Já o número de servidores que atuam no INSS em 2010 era de 30.630.  Dez anos depois, em 2020, de acordo com o último ano que consta no boletim da Previdência, é de 20.555 servidores- queda de 10.075.

Segundo o pesquisador, o problema da fila do INSS, não é apenas da falta de peritos e servidores, mas passa também pela decisão do governo federal em reter as despesas para segurar dinheiro no caixa do Tesouro.

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Seguro Social e Previdência Social no Estado de São Paulo (SINSSP), Pedro Luís Totty, é uma economia burra, pois o governo vai ter de pagar adiante com juros e correção monetária pelo benefício não concedido.

“O segurado procura seu direito na Justiça, que concede o seu benefício, e a conta sai três vezes mais caro para os cofres públicos por que o governo vai ter de pagar pelo período em que o autor da ação já tinha direito e com juros e multa. Não tem sentido segurar o benefício do ponto de vista econômico e muito menos do social”, critica Totty.

A decisão do governo federal em pagar por três meses o auxílio-doença para quem não conseguiu passar pela perícia médica e está há mais de 30 dias esperando pelo atendimento, divulgado na última sexta-feira (29/7) é paliativa, de acordo com Todeschini. Segundo o pesquisador o ideal seriam seis meses, pois em alguns casos de doenças graves como cardiovasculares e uma cirurgia de coluna, a recuperação pode levar o dobro do tempo do que durará o auxílio.

“Doenças graves tendem a demorar cerca de seis meses a recuperação, por isso seria importante, diante dessa crise de falta de médicos peritos, que o auxílio, sem precisar passar pelo presencial, fosse de seis meses. Se o governo quisesse realmente atuar de forma a não prejudicar o trabalhador, esse seria o tempo ideal”, afirma Todeschini.

Veja quem terá direito a análise documental e como fazer

A análise documental será feita pela Perícia Médica Federal a partir da apresentação de atestado ou laudo médico, legível e sem rasuras, com as seguintes informações:

  • nome completo;
  • data de emissão do documento, que não poderá ser superior a 30 dias da data de entrada do requerimento;
  • informações sobre a doença ou CID;
  • assinatura do profissional que emitiu o documento e carimbo de identificação, com registro do Conselho de Classe;
  • data de início do repouso e o prazo estimado necessário.

 Como pedir

  • Entre no Meu INSS
  • Clique no botão “Novo Pedido”;
  • Digite o nome do serviço/benefício que você quer;
  • Na lista, clique no nome do serviço/benefício;
  • Leia o texto que aparece na tela e avance seguindo as instruções

Prazo de concessão

O benefício concedido por análise documental só poderá ter a duração de no máximo 90 dias.

Quem pode optar

Qualquer segurado que esteja aguardando há mais de 30 dias pela perícia pode pedir o agendamento documental, inclusive, os que já estão agendados no modelo presencial poderão optar pelo procedimento de análise documental.

Quando pedir a perícia presencial

Quem não conseguiu a concessão do benefício de auxílio poderá optar pelo agendamento do exame médico-pericial. A requisição do agendamento também vale nos casos em que o prazo máximo estabelecido (90 dias) para a duração do benefício terminar.

Prazo para pedir nova perícia documental

O requerimento de novo benefício por meio de análise documental será possível apenas após 30 dias da última análise realizada.

Prazo para pedir a análise documental

A portaria só terá vigência por 30 dias, a partir do último dia 29, e são prorrogáveis, caso o Ministério do Trabalho e Previdência e do INSS, em comum acordo, assim decidirem.

Penalidades

A emissão ou apresentação de atestado falso ou com informação falsa configura crime de falsidade documental. Isso significa que o trabalhador sofrerá as sanções penais e deverá devolver os valores indevidamente recebidos.