Aos poucos país volta a ser abastecido, mas 16 estados seguem com manifestações
Mobilização dos caminhoneiros expôs a incompetência de Temer, impactou na economia e agravou mais ainda a crise política e econômica. Na Paraíba, até festa de São João está sendo adiada
Publicado: 30 Maio, 2018 - 12h28
Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT
Três dias depois que o golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) anunciou, pela segunda vez em uma semana, o fechamento de um acordo com lideranças dos caminhoneiros, e no décimo dia da paralisação, os bloqueios nas estradas começaram a perder força, mas 16 estados estradas seguem bloqueadas.
Em locais onde há resistência de caminhoneiros, que agora querem redução nos preços da gasolina e do gás de cozinha, além da saída de Pedro Parente da direção da Petrobras, como exigem os petroleiros que iniciaram greve de 72 horas nesta quarta-feira (30), o Exército começou a agir. É o caso da Régis Bittencourt e da Via Dutra, em São Paulo, onde um efetivo de infantaria do Exército e da Força aérea está atuando para acabar com o protesto dos motoristas que não aceitaram o acordo.
Depois que as reivindicações da categoria foram atendidas e publicadas no Diário Oficial da União (DOU) na segunda-feira passada (28), tanto a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), quanto a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), principais entidades que lideraram a paralisação, recomendaram que os caminhões voltassem a rodar nas estradas e os bloqueios fossem cessados.
Houve resistência por grande parte dos grevistas, que não concordaram com o acordo assinado entre o Executivo e as entidades da classe, até mesmo porque a conta vai para o bolso dos brasileiros em forma de impostos ou mais aumentos de gasolina e gás de cozinha. Além disso, grande parte da população apoiou a greve e concordou que os preços praticados pela atual política da Petrobrás, comandada por Pedro Parente, são abusivos, o que estimulou parte dos caminhoneiros a permanecerem nas estradas.
Encurralada, a Petrobrás teve de se explicar à Bolsa de Valores, ou seja, ao mercado internacional, que a redução do preço do diesel ocorreu em caráter emergencial devido à greve dos caminhoneiros e para evitar um estrago maior à própria empresa que, sob a gestão de Parente, virou um balcão de negócios.
O comunicado, amplamente divulgado na imprensa comercial na manhã desta quarta, é uma resposta a um ofício da Bolsa brasileira que questionou a primeira redução dos preços dos combustíveis desde que foi implementada a política de preços atual que acompanha as cotações do dólar e o preço internacional do barril de petróleo, em julho do ano passado.
Impactos da paralisação dos caminhoneiros
Aves
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) avisou nesta terça-feira (29) que após nove dias de paralisação, seguem os registros de mortes de aves decorrentes do impedimento do transporte de insumos. Segundo a entidade, a paralisação trará impacto direto no poder de compra do consumidor, ou seja, os preços vão aumentar.
“Com menor oferta de produtos, mas com a mesma carga tributária, mesmo custo operacional e possível alta nos insumos para a produção industrial, ficará mais caro produzir. Estima-se que os custos para a recuperação da normalidade do processo deverão ser 30% acima do anteriormente praticado. As 167 unidades frigoríficas que informaram paralisação seguiram inoperantes ao longo desta terça-feira (29). Parte destas unidades deverá retomar gradativamente a produção a partir de amanhã (30). Com as exportações suspensas, cerca de 135 mil toneladas de carne de aves e de suínos deixaram de ser embarcadas desde o início da greve”.
Até festa de São João vai atrasar
A prefeitura de Campina Grande, município paraibano conhecido por realizar o maior São João do país, que recebe anualmente multidões de turistas e faz circular a economia da região, anunciou o adiamento da festividade em uma semana, devido à paralisação dos caminhoneiros. O comunicado foi feito nesta terça (29) pelo prefeito Romero Rodrigues (PSDB) em coletiva à imprensa local.
O evento acontecerá de 8 de junho a 8 julho e, segundo o prefeito, “a própria população campinense termina por ser contaminada com o clima ruim gerado pelos efeitos da crise do desabastecimento, comprometendo portanto o próprio astral da festa”.
“A rede hoteleira já registrava grande volume de cancelamentos de reserva, até porque o próprio aeroporto João Suassuna e o aeroporto de João Pessoa estão com dificuldades para receber voos e decolagens. Os bares e restaurantes da cidade, que além dos já resumidos mantimentos dependem também do gás de cozinha para o devido funcionamento, já estavam acabando suas reservas. E aí a gente pode citar o atraso no abastecimento das bebidas e até de uma das carretas que trazia parte considerável do material de sonorização, que ficou presa em um bloqueio na saída de Pernambuco,” justificou o prefeito.
Aeroportos
Em nota divulgada às 9h20 desta quarta, a Infraero informou que os aeroportos de São José dos Campos/SP, Uberlândia/MG, Campina Grande/PB, Juazeiro do Norte/CE, Palmas/TO, Imperatriz/MA, Londrina/PR e Montes Claros/MG estão com falta de combustível no momento.
“A Infraero está em contato com órgãos públicos relacionados ao setor aéreo para garantir a chegada dos caminhões com combustível de aviação aos aeroportos administrados pela empresa. Aos passageiros, a Infraero recomenda que procurem suas companhias para consultar a situação de seus voos. Aos operadores de aeronaves, a empresa orienta que planejem seus voos de acordo com a disponibilidade de combustível na rota pretendida”.
CEASAS
A CEASA do Rio de Janeiro informou que desde ontem teve uma pequena melhora no seu abastecimento. “Conforme dados de entrada na Portaria, hoje (29), entraram até o momento 178 caminhões. Na terça-feira (15), antes do início das greves dos caminhoneiros, entraram 779 caminhões carregados.”
Datafolha
Segundo o Datafolha, 87% dos brasileiros são favoráveis à pauta dos caminhoneiros e 56% achavam que a greve deveria prosseguir, apesar do desabastecimento. O instituto de pesquisa fez o levantamento com 1.500 entrevistas, por meio telefônico, nesta quarta-feira (29).
Empresas dão férias e adotam trabalho em casa
Nesse clima de aceitação às reivindicações dos caminhoneiros, algumas empresas do estado de São Paulo buscaram alternativas à falta de transporte público e combustível para não parar totalmente suas atividades. Férias coletivas, trabalho casa [home Office] e folga foram algumas das soluções sugeridas.
Montadoras
Já as montadoras de veículos, que dependem do trabalhador para operar as máquinas, estão praticamente paradas. Nas plantas da Fiat em Betim (MG) e em Goiana (PE), por exemplo, o motivo da paralisação é a falta de peças e componentes fundamentais para montagem dos veículos.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), não há previsão de quando a produção nas montadoras será normalizada. A entidade disse que aguarda números consolidados das empresas para fazer um balanço dos prejuízos.