Escrito por: Rodrigo Gomes, da RBA

Apenas 5%, do limite de 35% dos alunos autorizados, voltaram às escolas em São Paulo

Com pandemia em alta, escolas estão praticamente vazias. Segundo a Apeoesp, foram registrados 2.405 casos de Covid-19 em 1.096 escolas, com 80 mortes

Elza Fiúza/Agência Brasil

Levantamento feito pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) mostra que a volta às aulas determinada pelo governo João Doria (PSDB), no pior momento da pandemia, está servindo apenas para expor professores e outros trabalhadores da educação ao risco de contaminação pelo novo coronavírus. Passadas quase quatro semanas de aulas, dados das 64 subsedes do sindicato mostram que as escolas têm recebido, em média, 5% dos alunos que poderiam retornar neste momento, em que o limite é de 35% do total de estudantes. A Secretaria da Educação não divulgou nenhum balanço da retomada das atividades.

“A incompreensível e injustificável insistência do governador Doria e do secretário Rossieli Soares em forçar a volta às aulas presencias se choca com a decisão da justiça e com a disposição dos professores e dos pais dos estudantes em não colocarem em risco suas vidas e as vidas de seus filhos. Como já havia ocorrido no início do ano letivo, em fevereiro, as escolas estão praticamente vazias. Menos de 5% dos estudantes têm comparecido”, disse a presidenta da Apeoesp, a deputada estadual Professora Bebel (PT).

Segundo Bebel, muitos professores protocolaram ofícios nas escolas informando que se manterão em trabalho remoto, cumprindo a sentença da juíza Simone Casoretti, que, em 9 de março, decidiu que o governo Doria não poderia obrigar os professores e outros trabalhadores da educação a voltar às aulas presenciais nas escolas sem o controle da pandemia de covid-19. A decisão vale enquanto vigorarem as fases vermelha ou laranja da quarentena. Mesmo assim, centenas de professores retomaram as aulas por temer retaliação.

Pandemia em alta

Com isso, os casos de covid-19 na volta às aulas continuam subindo. Quando as aulas foram suspensas, em 15 de março, a Apeoesp contabilizava cerca de 2 mil casos de covid-19 nas escolas, com 51 mortes. Hoje, mesmo com pouquíssimos estudantes em sala, já são 2.405 casos, com 80 mortes. O governo Doria parou de divulgar os dados da contaminação nas escolas. No último boletim, divulgado antes da suspensão das aulas, a Secretaria da Educação registrava 4.084 casos confirmados e 24.345 casos suspeitos de covid-19, com 21 mortes.

Os professores foram parcialmente incluídos na vacinação contra a covid-19 em São Paulo. Somente trabalhadores da educação a partir de 47 anos podem ser vacinados. No entanto, professores que estão em greve ou em trabalho remoto denunciaram que tiveram dificuldades para receber a vacina. Porém, a volta às aulas determinada por Doria em 5 de abril começou muito antes de a vacinação apresentar qualquer resultado na proteção dos professores. O que só deve começar a ocorrer na segunda quinzena de maio.

Comprovação

No dia 24, Soares publicou um vídeo de uma visita ao Centro de Inovação da Educação Básica Paulista, que funciona na Escola Estadual Professora Zuleika de Barros Martins Ferreira, na Pompeia, zona oeste. Ele acabou comprovando que não há segurança para a volta às aulas em São Paulo. Na unidade, considerada de referência, dois ou três estudantes precisavam sentar-se juntos para utilizar o computador, desrespeitando as normas de isolamento social determinadas pelo próprio governo tucano.

“A imagem divulgada pelo secretário da Educação, em visita a uma suposta escola modelo, choca por evidenciar seu negacionismo diante do grave momento que estamos vivendo e confirma nossa afirmação de que não existem protocolos sanitários nas escolas estaduais. A imagem mostra um modelo do que não fazer: estudantes agrupados, sem nenhum distanciamento, descumprindo-se flagrantemente todas as recomendações das autoridades de saúde. Rossieli insiste na volta às aulas presenciais, colocando todos em risco, justamente por isso: não está preocupado em proteger as vidas dos estudantes, dos profissionais da educação e de suas famílias”, criticou Bebel.